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'Uma História de Amor e Fúria', a partir desta sexta-feira
nos cinemas, marca a estreia na direção de Luiz Bolognesi

Luís Felipe Soares
Do Diário do Grande ABC
05/04/2013 | 07:07
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A estreia na direção de Luiz Bolognesi ocorre de maneira ousada. Acostumado a assinar roteiros de obras como os elogiados dramas 'Bicho de Sete Cabeças' (2001) e 'As Melhores Coisas do Mundo' (2010), o paulista comanda a animação adulta 'Uma História de Amor e Fúria', que estreia hoje nos cinemas após quase dez anos de produção. No conto, o espectador é levado em jornada por diversas épocas históricas do Brasil na companhia de um protagonista místico que sobrevive séculos atrás de seu grande amor.

O projeto nasceu e sempre foi pensado como um desenho animado, estilo pouco visto entre as produções cinematográficas nacionais. Cerca de 40 profissionais foram responsáveis por dar forma de maneira tradicional ao personagens, com a computação gráfica sendo mais utilizada na montagem dos cenários.

"Gosto muito de quadrinhos desde menino. Na adolescência descobri as graphic novels e esse universo sempre foi fundamental para mim. Tive o delírio de que seria possível um filme brasileiro que namorasse com esse gênero mais adulto de quadrinhos. Não é cartoon nem comics, que nunca foram a minha praia. Fui para esse lado das graphic novels", explica o cineasta.

Segundo Bolognesi, o acúmulo de funções no estúdio foi complicado. "O que existe de legal no cinema é a dialética, quando o outro entra e percebe o que está ruim no seu trabalho. Na troca de informações entre roteiro e diretor, há sempre um sofrimento. Desta vez não houve essa interação. Quando eu percebi a dificuldade, já tínhamos mais de dois anos de produção. Daí peguei o grupo e abri para todos a dramaturgia, coisa que não estou acostumado. Pensei inconscientemente que eles seriam os diretores."

VIAGEM DE ESPERANÇA

O ponto principal da trama fica em torno do personagem principal vagar pelo tempo sempre lutando contra os males de um poder maior, simbolizando uma eterna resistência. "Acho que o sentimento está ligado à postura dos artistas brasileiros, que estão remando contra a corrente e dando murro em ponta de faca, pois não abrem mão do que querem dizer", analisa Bolognesi.

O ator Selton Mello, que dá vida (e voz) ao protagonista, observa que a estreia do longa-metragem vai além da atração nos cinema. "Acho que é uma obra importante de ser vista pois conta parte da nossa história. É um outro olhar", diz o dublador, confessando que conheceu pontos de alguns fatos do passado brasileiro por meio do roteiro. "O filme pode abrir espaço para outras animações. Outras pessoas devem ter projetos semelhantes e que podem se inspirar com a coragem do Luiz. Uma animação é muito trabalhosa. Ele (Bolognesi) é que é o guerreiro imortal', brinca Mello.

O elenco de vozes também conta com Camila Pitanga e Rodrigo Santoro.


Estilo a favor da trama

O poder da vida imortal dado ao protagonista - que assume diferentes identidades ao longo da atração - inspirou Luiz Bolognesi a criar viagem fantástica entre a história do passado, presente e futuro do Brasil. Sua paixão por Janaina (voz de Camila Pitanga) é forte o bastante para levá-lo a enfrentar a briga dos Tupinambás contra os portugueses, o abuso do governo no Maranhão durante a Balaiada, os confrontos entre revolucionários e a ditadura militar e uma realidade ficcional na qual o Rio de Janeiro (e o mundo) não tem água potável para todos.

'Uma História de Amor e Fúria' utiliza o universo do desenho animado a favor de um projeto adulto. Ao contrário do que os mais caretas podem imaginar, o elemento visual é utilizado apenas como um recurso para fazer com que o projeto ganhe forma. Muitos elementos na tela poderiam render cenas miraborantes em live action, mas a liberdade do gênero cai bem com a proposta idealizada pelo autor.

Em um circuito onde as animações 3D têm grande força, o título opta por prestigiar o desenho tradicional. Destaque para os personagens terem formas que remetem aos mangás orientais, deixando tudo com o tom sério necessário. Os cenários de fundo foram elaborados com um pouco mais de tecnologia graças à ajuda de computadores.

Claro que as grandes produções estrangeiras abusam de seus orçamentos para chamar a atenção pela imagens. Mas Bolognesi prova que dinheiro não compra uma história inteligente e atrativa.




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