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Entrevista em Veneza acaba em tumulto
10/09/2009 | 07:00
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Está sendo um festival marcado pela política como há muito não se via. Depois de Michael Moore detonar o capitalismo e Oliver Stone elogiar Hugo Chávez, não poderia faltar quem evocasse os anos rebeldes. E, para esse fim, veio o novo filme de Michele Placido, sintomaticamente chamado de "O Grande Sonho", que descreve as rebeliões estudantis de 1968 do ponto de vista dos italianos.

Em sintonia com o tema, o clima ferveu na entrevista coletiva em Veneza. Quando uma repórter perguntou, em inglês, como explicava que um filme com ideias de esquerda pudesse ser financiado pela Medusa, companhia cinematográfica de Silvio Berlusconi.

Placido perdeu a esportiva e emendou em bom italiano meridional: "Que cazzo devo fare? (Que c... Devo fazer?)." E prosseguiu, aos gritos: "Sua pergunta é imbecil porque então nenhum filme mais poderia ser feito na Itália." Na mesa estavam dois representantes da companhia de Berlusconi, que já haviam garantido não haver interferência da Medusa nos conteúdos propostos. A entrevista terminou sob tumulto geral, pois muitos jornalistas inscritos não puderam fazer suas perguntas e protestaram.

Intervenções que seriam mais do que oportunas, pois se abria ali, no coração da mostra de Veneza, a discussão do principal tema político italiano contemporâneo: a concentração de empresas e meios de comunicação sob controle do primeiro-ministro e a ameaça que esse fato representa para a liberdade de expressão. Está criado mais um caso nesta escaldante edição do festival.

Quanto ao filme em si, por sorte Placido não apresenta uma visão idílica daquele ano e dos sucessivos, marcados, na vida real, por posições contrárias muito radicalizadas e, em consequência, por uma dose acima do suportável de violência. Mas seu ponto de vista é caloroso, intenso e a favor dos rebeldes. A história é exatamente essa, "um diário da minha vida", diz o diretor.




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