Cultura & Lazer Titulo Show do rei
Roberto Carlos faz show dentro do combinado
24/08/2009 | 07:03
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Uma lágrima escorreu no rosto da cantora Mariana Kupfer, na fila E, quando Roberto cantou "Eu te Amo, Te Amo, Te Amo". O padre Antônio Maria, de hábito de monge, dançou ao estilo do personagem Coisinha de Jesus enquanto a banda tocava Jesus Cristo, e Roberto viu lá de cima o amigo de fé e irmão camarada e piscou para o padre do palco. E o rapaz na fila da frente que conseguiu apanhar uma rosa guardou-a no peito enquanto tomava uma taça de Prosecco na sala VIP.

Na noite de sexta-feira, frente a 9,5 mil pessoas no Ginásio do Ibirapuera, Roberto Carlos estreou o primeiro de nove shows em São Paulo. Foi um concerto sem nenhuma nota fora do combinado, nenhuma palavra improvisada - do "Que prazer rever vocês!", que é o tradicional cumprimento inicial à última rosa aberta que deu às fãs (quando ele acha no buquê uma rosa ainda em botão, ele a recusa e devolve ao percussionista Dedé, que a deposita no púlpito com as partituras).

Agitando velas falsas (pequenas lanternas em forma de vela), a plateia sabia de cor todo o repertório, e todas as piadas, e conhecia até o teatrinho de apresentação dos músicos (a rebeldia consentida do pianista Wanderley, a modéstia do genro e violonista Paulinho), mas a audiência de Roberto sempre cumpre bem o seu papel.

Roberto, hábil costureiro das almas de gerações, faz reverências àqueles que o ajudam a atravessar as décadas sem envelhecer, como a cantora Claudia Leitte. Enquanto imagens da estação de trem de Cachoeiro, do Rio Itapemirim e da infância passeiam no telão, Roberto vai a uma sequência que faz até o juiz de menores molhar o lenço: Aquela Casa Simples, Lady Laura e Meu Querido, Meu Velho, Meu Amigo.

"Ninguém está sozinho numa situação como essa", diz Roberto Carlos, ao encenar os versos finais de Outra Vez - que ele canta dedilhando o violão, com acompanhamento de cordas e banda. "Eu gostaria de escrever só sobre amores bem-sucedidos, mas a vida não é assim", contou, antes de cantar uma novidade que voltou ao seu repertório recentemente, no show do Maracanã, Do Fundo do Meu Coração, de 1986. O que teria acontecido naquele ano de 1986 para Robertão fazer uma canção tão machucada?

Na sequência, veio o set moteleiro, uma sequência de músicas que Roberto define como do seu repertório "sensual", um período entre os anos 1970 e 1990, que termina num crescendo como show de metal melódico, de rock progressivo desgarrado.

Roberto Carlos é Yes, é João Gilberto, é Chuck Berry. É populista nos arranjos e sofisticado na métrica, nas pausas, na voz que ainda não encontrou rival aqui. Tem consciência de que muitas das mulheres da plateia acalentaram durante anos o sonho de aproximar-se mais intimamente do seu vulnerável ídolo. Então, RC dá a contrapartida: passa a mão no peito, insinua palavras picantes, aceita a paquera coletiva descaradamente.




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