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Raridade cubana é exibida na região
10/07/2009 | 07:37
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Como é muito rara a chegada de filmes cubanos ao Brasil, O Corno da Abundância, de Juan Carlos Tabío, torna-se programa obrigatório para os frequentadores do Festival de Cinema Latino-americano de São Paulo, que também prevê exibições no Teatro Cacilda Becker, em São Bernardo até domingo.

Tabío é diretor inventivo.Quando o maior diretor da ilha, Tomás Gutiérrez Alea, ficou doente, Tabío ajudou-o a dirigir seus últimos filmes, Morango e Chocolate e Guantanamera. Dessa convivência, pode ter nascido o tom de O Corno da Abundância - mordaz em relação à realidade cubana, porém também amorosa.

Um certo modo de ser cubano parece tanto encantar quanto irritar o realizador. Desse modo, virtudes públicas como o amor ao país podem se mostrar veículo de vícios privados como a intolerância em relação a quem pensa diferente.

Carências materiais são escancaradas e o mito do ‘homem novo', aquele que pensa coletivamente, é arquivado em nome da ambição. A problemática relação do cubano com o fora e o dentro da ilha também é explorada de maneira cômica, em especial no que diz respeito à comunidade de Miami. Enfim, encontra-se nessa pequena comédia um vasto elenco de temas a serem discutidos através do humor.

Na história, a um vilarejo cubano chega uma bombástica notícia: existe uma grande herança esperando por todos os descendentes da família Castiñeira. Grande família. Ser Castiñeira, em Cuba, equivale a ser Silva no Brasil.

Acontece que, no século 18, três freiras fugiram com uma grande soma de Cuba e, temendo ser atacadas por piratas, colocaram o dinheiro em um banco inglês. Com dividendos, a soma chegou ao século 21 transformada em fortuna. Tudo à disposição dos Castiñeiras. Desde que possam provar a descendência pela árvore genealógica.

Um desses Castiñeiras é o personagem de Jorge Perugorría, astro de Morango e Chocolate, o filme cubano mais conhecido no Exterior. Ele, como todo cubano, precisa urgentemente de dinheiro para as coisas mais básicas da vida.

As peripécias para levantar a herança são engraçadas e, a cada passo, defrontam-se com mazelas da vida real na ilha, como a burocracia, a penúria, o fanatismo extemporâneo.

Tabío filma sua fábula corrosiva com muita graça. É uma comédia que surpreende, não tem medo do politicamente incorreto e dialoga com a sensualidade caribenha em cenas de sexo que nunca se completam.

Pena que a cópia apresentada seja em DVD, o que prejudica demais a fruição visual. Mesmo assim, vale a pena, porque é o tipo do filme que dificilmente chega ao circuito comercial, apesar de sua qualidade.

Programa na região - Em São Bernardo, as exibições ocorrem sempre às 18h e 20h. Hoje, as opções são Amizade (Brasil), de Sérgio Muniz; e Gasolina (Guatemala/ Espanha/ EUA), de Julio Hernández Cordón. Amanhã, La Tabaré - Rock ‘n' Roll e Tudo o Mais (Uruguai), de Mariana Viñoles e Stefano Totoni; e O Corno da Abundância (Cuba/Espanha), de Juan Carlos Tabío. No domingo é a vez de Cyrano Fernández (Venezuela), de Alberto Arvelo; e Encarnação do Demônio (Brasil), de José Mojica Marins.




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