Economia Titulo Entrevista
Skaf critica medidas do governo estadual
Soraia Abreu Pedrozo
29/06/2009 | 07:04
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Em entrevista exclusiva ao Diário, o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, defendeu a desoneração de tributos, oferta de crédito e juros baixos para viabilizar investimentos, gerar empregos e vitalizar a economia nacional, assegurando os 80% da produção industrial que tem como destino o mercado doméstico. Na avaliação de Skaf, as medidas propostas pelo governo do Estado de São Paulo, como a vantagem fiscal em algumas aplicações do ICMS, ainda são insuficientes para estimular investimentos. "A medida é muito modesta, pois não atingiu nem 20% dos setores que irão investir neste ano", defendeu. No caso das micro e pequenas empresas, segundo o presidente da Fiesp, os mecanismos criados para auxiliá-las na obtenção de crédito, como o fundo de aval, também é falho. Embora o governador Serra tenha assinado a medida, ela ainda não saiu do papel. A ferramenta serve como garantia aos empresários que, eventualmente, não tiverem como honrar seus compromissos.

DIÁRIO - O setor de máquinas e equipamentos tem sido um dos mais atingidos pela crise econômica. Na região são cerca de 300 empresas que ameaçam demitir 4.000 funcionários. Que tipo de medidas se espera para esses setores?
PAULO SKAF - Esperamos que o governo anuncie medidas que atenuem esse problema (Hoje serão anunciadas as questões da renovação da redução do IPI, da desoneração para máquinas e equipamentos e a criação de linhas de crédito subsidiadas para o setor). Desonerar investimentos é um interesse, não só da indústria de máquinas e equipamentos, mas de toda as cadeias produtivas. Quando se investe, se gera empregos, impostos, riquezas. Em qualquer parte do mundo você não tem ônus nem impostos sobre os investimentos. O que realmente esperamos é que haja estímulos ao setor de máquinas e equipamentos não só para os fabricantes, mas para os investimentos em geral. Beneficiaria o setor em suas vendas no mercado.

DIÁRIO - Como o senhor interpreta a desoneração do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) para o setor produtivo ?
SKAF - O ICMS, até há pouco tempo, era recolhido à vista e creditado em 48 meses. Aí saiu uma medida para os setores com diferimento do ICMS (até 31 de dezembro, o imposto é devolvido de forma imediata), mas ela foi muito modesta, não atingindo nem 20% dos setores que deverão investir neste ano. Então não adianta. O Governo Estadual anunciou duas medidas: uma sobre o drawback verde e amarelo paulista (é um estímulo à exportação;todo produto destinado ao mercado exteno que utlizar uma peça importada, essa peça será isenta do ICMS) e a outra, o diferimento do ICMS na compra de máquinas e equipamentos. Lamentavelmente, a primeira medida não ocorreu e a segunda é muito discreta. Eu diria que fizeram mais fumaça do que fogo.

DIÁRIO -Falando do Grande ABC, qual a conjuntura atual das montadoras e de toda a cadeia automotiva?
SKAF - Primeiro, fazendo uma análise macro, 80% da produção industrial é consumida no mercado interno, e 20% são exportados. Vamos perder parte da exportação - a estimativa é de 35% na queda de manufaturados. cerca de 20% de perda global. Agora, os 80% restantes dependem de as cadeias produtivas, que por sua vez, precisam de crédito para serem irrigadas, bem como, juros baixos e desonerações. Com essas três medidas, sem dúvida nenhuma a coisa continua e a gente enfrenta melhor essa crise até que ela vá embora. Um exemplo disso é o setor automobilístico. No final do ano passado, quando sumiu o crédito e subiram os juros, ele sentiu o baque. Neste ano, contudo, quando retornou o crédito, com juros mais baixos e a desoneração de impostos, o setor voltou a andar. Por isso, neste momento, nada mais importante do que a renovação da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para a indústria automotiva. Não adiantará nada a renovação do benefício se não houver crédito e juros mais baixos. As três medidas vitalizaram o setor automotivo, preservaram empregos e até geraram novos. Como a redução foi só para carros populares, houve um aumento do próprio IPI em carros mais caros e consequente aumento no recolhimento do ICMS, PIS e Cofins. Então seria de todo bom senso a renovação da redução do IPI.

DIÁRIO - Então algumas medidas podem gerar muitos benefícios para as indústrias, com reflexos no mercado interno e até externo ?
SKAF - Temos de pensar o seguinte: a crise não é generalizada. Ela se dá nos setores exportadores ou que dependem de crédito. No setor exportador, como eu já mostrei, vamos ter algum prejuízo porque não vamos conseguir mudar os principais mercados mundiais, que estão com dificuldades, e diminuíram suas compras. Agora, o mercado interno depende de crédito, então, se você irrigá-lo com crédito, juros acessíveis e promover desonerações, que não são prejuízo para o Estado, a indústria caminhará bem, Além da vantagem de emprego e de enfrentarmos essa crise criando efeitos positivos, temos compensações em outros impostos gerados por meio do incremento de vendas.

DIÁRIO - Então o mercado interno tem papel fundamental na superação desse momento ?
SKAF - O segredo é preservarmos esses 80% da produção que são consumidos no mercado interno. Para isso, as empresas dependem muito do fator crédito. Assim, precisamos fazer com que as micro e pequenas empresas, tenham acesso ao fundo de aval, do Estado, e ao fundo garantidor, federal (são espécies de empréstimos; ambos funcionam como garantias dos respectivos governos para o caso de o empreendedor não ter condições de honrar seus pagamentos), que dará um ânimo novo ao segmento, mas que ainda está no papel. Quanto ao fundo de aval, o governador Serra esteve na Fiesp meses atrás e assinou a liberação da exigência de garantias. Antes, para ter acesso a este fundo a empresa tinha de oferecer alguma garantia. O governador trouxe esse alento, mas também está só no papel. Dessa forma, precisamos ter ferramentas que estimulem e liberem o crédito para que os setores produtivos, que dependem de crédito, sejam revitalizados.

DIÁRIO -Mas os bancos ainda estão cautelosos. Há algumas semanas, o Banco do Brasil elevou a oferta de crédito com garantia nos recebíveis. Só que o empresário não pode estar inadimplente com o banco para ter acesso a ele. Como resolver a questão, se micro e pequenas estão em uma situação muito difícil ?
SKAF - Os bancos precisam ser sensatos, pois se em períodos de mercado próspero as micro e pequenas já têm dificuldades de aceso ao crédito, o que dizer num momento delicado como este? Por isso depositamos confiança nos fundo de aval e no garantidor. O que é preciso é que essas ferramentas entrem em funcionamento para valer, o quanto antes. Serão essas ferramentas que garantirão o crédito às micro, pequenas e médias.

DIÁRIO - Desse momento delicado o Brasil tirará boas lições ?
SKAF - Sim, temos de pensar também no pós-crise para que o Brasil aproveite e saia reposicionado desta fase de retração mundial. Para isso, é necessário que façamos a lição de casa. Esta é uma agenda positiva. E não podemos nos esquecer dos investimentos necessários em educação, formação profissional, tecnologia, inovação, dentre outros aspectos.




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