Ter 98% das crianças brasileiras em idade escolar matriculadas no Ensino Fundamental não motiva a comemoração, hoje, ao Dia da Educação. Se as escolas estaduais permitiram a universalização do acesso, é preciso lembrar que ter o aluno nas salas de aula nem sempre é sinal de absorção de conhecimento.

Conforme mostrou o Diário na edição do dia 19, a progressão continuada, sistema de aprovação automática instituído no Estado de São Paulo há 11 anos, faz com que a criança pule de uma série a outra na escola, mas isso não significa desenvolvimento intelectual e a formação de cidadãos conscientes. Pelo contrário. Nas instituições da rede pública de São Paulo, não é difícil encontrar estudantes de 6ª, 7ª e até 8ª série com sérios problemas de alfabetização.

Dificuldade de ler, escrever, interpretar frases simples, fazer cálculos primários. Reflexos de um ensino primário deficitário, de um sistema que valoriza pouco o professor e institui uma política de premiar os melhores, talvez os que menos precisem de incentivo para melhora da qualidade.

Especialistas reforçam o coro de que hoje há pouco a comemorar. "Temos um horizonte de questões não conquistadas, há muito por fazer. É preciso coragem, vontade política e investimento alto. Estamos muito aquém do que precisaríamos para termos um País desenvolvido na Educação", afirma Maria Márcia Sigrist Malavasi, da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade de Campinas).

"O Brasil ainda não tem condições de comemorar a Educação. Trata-se de um grande desafio que tem de ser assumido por um conjunto de responsáveis: escolas, educadores e a própria sociedade", pondera Sílvia Gasparian Colello, professora de Educação da USP (Universidade de São Paulo).

Enquanto continuarmos a noticiar que mais da metade dos estudantes brasileiros não atinge nível de conhecimento considerado adequado, como aponta o Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), o Dia da Educação será apenas 28 de abril. Somente mais um dia no calendário.