Política Titulo Entrevista
'Parceria com o Brasil é estratégica', diz cônsul
Adriana Mompean e Bárbara Ladeia
Do Diário
20/04/2009 | 07:58
Compartilhar notícia


Imprescindível e estratégica. É assim que a parceria entre os governos brasileiro e norte-americano é definida por James Story, cônsul geral adjunto dos Estados Unidos para assuntos econômicos e políticos.

De concorrentes a parceiros, os países passaram a negociar juntos em torno das questões energéticas, incluindo

a produção de biocombustíveis.

A afinidade entre Brasil e Estados Unidos é visível no relacionamento entre seus dirigentes, especialmente após Barack Obama declarar, na cúpula do G-20, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva era o "político mais popular da Terra", "boa pinta", "o cara". "Existe uma aproximação entre os dois em menos de 100 dias de administração do presidente Obama, o que torna este intercâmbio bem diferente", acredita Story.

De acordo com o cônsul norte-americano, atualmente, os países possuem relação mais madura e sofisticada, com investimentos mútuos. Além da questão energética, que é prioridade na agenda bilateral, as nações também têm a possibilidade de estabelecer parcerias em assuntos de meio ambiente e na questão da mudança climática."Somos países enormes, com democracias estáveis e mercados abertos. Os Estados Unidos e o Brasil têm muito em comum", afirma o cônsul.

Além do reconhecimento como potência energética, o Brasil também é citado por James Story como um importante ator no cenário internacional e nação que está fortalecida para enfrentar a crise financeira mundial.

Sobre o relacionamento dos norte-americanos com a América Latina, o cônsul afirma que o continente é importante para o governo norte-americano, mas alerta que o presidente Barack Obama estará voltado para a política doméstica, especialmente na resolução da crise. "Não me lembro de nenhum outro presidente que assumiu com um abacaxi em uma mão e um pepino na outra", afirma James Story.

DIÁRIO - Os elogios feitos por Barack Obama em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva na cúpula do G-20 foram apenas gentileza diplomática ou transmitem uma mensagem de que o Brasil é um importante parceiro para os Estados Unidos?
JAMES STORY - Eu acho que existe uma aproximação entre eles. A história dos presidentes Lula e Obama têm pontos em comum. Eles não vêm de famílias ricas, são pessoas que lutaram pelas suas conquistas e conseguiram se tornar bons políticos. Também são populares. Existe uma aproximação entre os dois em menos de 100 dias do início da administração do presidente Obama (os presidentes já se encontraram na Casa Branca, na cúpula do G-20 e na Cúpula das Américas em Trinidad e Tobago), o que torna este intercâmbio bem diferente. O governo americano acredita que o Brasil possui um papel muito importante, não somente na América do Sul. O País desempenha papel internacional dentro do G-20, no protocolo de Kyoto, na ONU, faz um trabalho extraordinário no Haiti e será um fornecedor mundial de energia. Acho que Obama fez os elogios não somente por simpatia. Eles se deram bem.

DIÁRIO - Neste contexto, o senhor acredita que é possível que o Brasil consiga uma vaga no Conselho de Segurança da ONU?
STORY - Não quero prever a questão, mas todos já falaram que estão abertos a uma revisão no Conselho de Segurança. Cada vez que o Brasil desempenha um papel de liderança internacional está contando pontos para ter um assento.

DIÁRIO - Muitos analistas comentam que a América Latina foi esquecida no governo de George W. Bush. E que Obama também não dará muita importância ao continente porque terá outras prioridades, como a crise financeira. Como poderá ser a política da nova administração para a região?
STORY - A crise financeira vai tomar muito tempo de Obama. Ele tem de trabalhar a política doméstica. Não me lembro de nenhum outro presidente que assumiu com um abacaxi em uma mão e um pepino na outra. Mas eu sei que a América Latina é importante para os Estados Unidos, sempre digo que somos mais do que primos, somos primos-irmãos. Em relação ao Brasil: Os Estados Unidos exportam muito para o País e vice-versa e há investimentos mútuos entre os países. Eu acredito que esta aproximação vai crescer. Não tenho dúvidas.

DIÁRIO - Em que setores os Estados Unidos buscam estreitar as relações com o Brasil?
STORY - Queremos construir um tratado para evitar problemas de bitributação, para que as empresas não paguem impostos duas vezes. O Brasil é um País com o qual temos um tratado de investimentos e pretendemos manter isso. Também queremos uma parceria energética mais profunda e abrangente. O Brasil vai ser um fornecedor de petróleo importantíssimo no mundo e desejamos ter parcerias, assim como com os biocombustíveis, que é uma associação imprescindível e estratégica. Acredito que poderemos trabalhar muito também com a questão de mudança climática e meio ambiente. Neste ano começamos com um projeto no qual trabalhamos juntos na questão de segurança social. Somos países enormes, com democracias estáveis e mercados abertos. Os Estados Unidos e o Brasil têm muito em comum. Mesmo em Doha, faltou muito pouco para chegar a um acordo.

DIÁRIO - O senhor acredita que houve mudança na postura de um dos dois países em Doha, tendo em vista que quase chegamos ao acordo?
STORY - Eu diria que mostramos flexibilidade perante as discussões. Acho que o resultado depende da crise financeira. Outros países, por razões políticas, talvez não tenham mostrado a mesma flexibilidade. Uma saída para Doha seria ótima para o mercado internacional.

DIÁRIO - Há prioridades entre os temas que farão parte da agenda de relações bilaterais?
STORY - Tudo é importante. O projeto de uma parceria com toda a América Latina em torno de energia limpa é questão estratégica. O bom é que temos um relacionamento maduro. Há 10 ou 15 anos, toda a relação entre Brasil e Estados Unidos envolvia somente a questão do algodão, que chegou à OMC (O Brasil perdia US$ 2,5 bilhões em negócios com o algodão subsidiado pelo governo dos Estados Unidos). E o Brasil ganhou.Agora essa questão não estraga a relação entre os países. Estamos trabalhando juntos no G-20 e na questão dos biocombustíveis. Isso mostra uma relação sofisticada.

DIÁRIO - Após essa crise, os Estados Unidos pretendem repaginar o sistema financeiro?
STORY - O governo sempre teve papel importante. Os novos sistemas de financiamento foram além da sabedoria do governo, e agora temos de mudar de novo e cuidar dessas questões. Sobre o Brasil depois da crise, podemos dizer que em terra de cego, quem tem um olho é rei. O Brasil vai ser rei em 2009, porque se o Brasil só crescer zero, vai continuar bem posicionado para enfrentar a crise. Realmente, o Brasil precisa fazer a reforma tributária, a reforma política, reforma laboral. Os EUA precisam de reforma também.

DIÁRIO - Com este novo cenário de crise, a tendência é que os países se fechem para tentar proteger suas economias?
STORY - Numa crise, a tendência é sempre fechar a porta, mas eu acho que aprendemos a lição ocorrida em 1929. Não podemos colocar barreiras para o comércio internacional. Os líderes do G-20 deixaram claro que temos de deixar as portas abertas, senão poderemos aprofundar a crise. Os chefes de Estado disseram que não podemos errar de novo.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;