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Vendedor revive morte do pai em enchente

Homem filmou drama de advogado que morreu de infarto em carro submerso em São Caetano

Deh Oliveira
Do Diário do Grande ABC
21/03/2009 | 08:37
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De um anglo privilegiado de seu apartamento, no quarto andar de um edifício no bairro Vila Bela, em São Paulo, o vendedor Luís Morais, 33 anos, registrava em sua câmera um dos momentos mais dramáticos da enchente que atingiu o Grande ABC na terça-feira. Guardas civis tentavam resgatar de um veículo submerso na Avenida dos Estados, já em São Caetano, o advogado José Mendes Moreira Filho, 74. Apesar da enchente, a morte de Moreira Filho foi provocada por infarto agudo do miocárdio e não pela água. "Lembrei de meu pai", conta Morais.

O drama trouxe à lembrança uma triste coincidência para o vendedor. "Meu pai também morreu de infarto". Antes de saber a causa da morte do advogado cujo drama ele registrou, Morais diz ter experimentado um sentimento de frustração. Por detrás das lentes, ele torcia para que a história terminasse com um final feliz. "De onde eu estava dava para perceber que era um senhor. Pior foi quando fiquei sabendo a causa da morte", explica.

Morais conta que seu pai sofreu um ataque cardíaco enquanto andava pela rua. Ele foi socorrido, mas quando a informação chegou à família, já estava morto. " Acredito que a mesma coisa que eu passei foi o que os filhos dele passaram".

O vendedor conta que depois de pressentir que o advogado tinha sido retirado do carro sem vida, não conseguiu mais filmar. Desolado, o vendedor pensou em apagar as imagens que captara. Resolveu enviar para uma rede de TV, mas não quis cobrar pelo material.

Os 20 minutos de imagem registrados por Morais começaram a ser filmados por volta das 18h15. Inicialmente, filmou a situação de estudantes do outro lado da avenida, que tiveram de subir no teto da Escola Estadual Edgard Alves da Cunha, depois que as águas da chuva invadiram as salas de aula.

Depois ele desceu até o térreo do edifício onde mora, para ver se alguém precisava de ajuda. Ao voltar ao apartamento, recomeçou a filmar, e foi então que o teto do Corsa onde estava o advogado começou a aparecer na superfície das águas. "Ainda assim não acreditava que alguém poderia estar lá dentro", lembra. O episódio perturbou Morais a ponto de afetar seu sono naquela noite. "Fiquei acordando com aquela imagem na minha cabeça".




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