A crise internacional já assusta até quem não foi de fato afetado por ela. O Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV (Fundação Getúlio Vargas) constatou forte queda no Índice de Confiança do Consumidor, que despencou 10% entre setembro e outubro deste ano.
Para a coordenadora técnica da pesquisa, Viviane Feda, o consumidor está claramente pessimista. As perguntas da pesquisa que incluem expectativas mostraram resultados negativos. "Nós medimos o sentimento de confiança e o consumidor não vê qualquer perspectiva de melhora", afirma.
A violenta mudança vem da crise econômica vivenciada por mercados financeiros em todo o mundo. Segundo Viviane, as expectativas tendem a ser mais positivas no segundo semestre, fato que não se repete esse ano. "A crise trouxe a maior desaceleração da série histórica do índice que mede as expectativas para os próximos seis meses."
Calculada com base em quatro perfis socioeconômicos diferentes, a pesquisa aponta maior aumento do pessimismo entre a população que tem renda familiar mensal acima de R$ 4 mil. "Isso mostra que as aplicações em Bolsa ainda são reservadas às elites que, hoje, são as mais afetadas", lembra a coordenadora da pesquisa. "Podemos esperar um consumo muito mais cauteloso daqui para frente."
PÂNICO - "Não há motivo para pânico", afirma João Higa, professor de Economia da UniABC. A simples circulação de notícias negativas já é suficiente para despertar o medo, mesmo que financeiramente, ela não tenha sido afetada. "Vivemos de informação, qualquer novidade afeta a todos."
No entanto, Higa aponta que a especulação se faz necessária, uma vez que todos os movimentos do mercado são previstos com base em expectativas. "Imagine que um preço é determinado pela demanda de um produto, que é a vontade que a população tem de adquirir determinado objeto de consumo. Economia é pura subjetividade", exemplifica.
A confiança, base forte dos movimento de mercado, pode gerar graves conseqüências se não for bem administrada. "Só a falta de confiança do consumidor é suficiente para gerar um quadro recessivo no País", diz o professor.
SOLUÇÃO - Diante deste cenário, a disseminação da tranqüilidade entre a população é a principal medida. Não por acaso, esse é o discurso que vem liderando o cenário político. "O governo está certo. Tem de estar empenhado na irradiação de otimismo", defende Higa.
Para Eduardo Becker, professor da Esags (Escola Superior de Administração e Gestão) de Santo André, essa é a função do governo, mas não alivia o problema. "O governo não pode falar que as coisas vão mal. Mas basta entender um pouco mais para saber que a crise financeira é mundial e o Brasil não vai se safar", afirma.
Para ele, enquanto não for estimada a real dimensão do problema e encontrado o "fundo do poço", dificilmente haverá redução no pânico. "Assim como nos relacionamentos, na Economia a confiança não volta de uma hora para outra", compara.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.