Cultura & Lazer Titulo
A volta de João
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
16/04/2008 | 07:07
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Referência fundamental para a MPB, o cantor João Gilberto oferece ao público doses homeopáticas de seu talento. Não grava discos com freqüência, nem costuma fazer longas turnês, que podem comprometer seu elevado padrão de qualidade.

 Há cinco anos sem pisar em um palco brasileiro – a última vez foi na inauguração do Tom Brasil, em São Paulo –, o mito retorna aos holofotes para celebrar as cinco décadas da bossa nova, gênero que ajudou a criar. Em agosto, ele faz quatro apresentações no País, patrocinadas pelo Banco Itaú. Nos dias 14 e 15, se apresenta no Auditório Ibirapuera, na Capital.

 Também estão previstos shows no Theatro Municipal do Rio de Janeiro (dia 24) e no Teatro Castro Alves, em Salvador (dia 5 de setembro). Os horários das apresentações, os preços das entradas e a data do início da venda de ingressos ainda não foram divulgados pelos organizadores.

 João Gilberto promete reencontrar seus fãs no Exterior. A agenda do cantor inclui uma apresentação em 22 de junho, no Carnegie Hall, em Nova York (que sediou o histórico show dos bossanovistas, em 1962) e três concertos no Japão, em novembro.

HISTÓRIA

 Considerado por especialistas como marco inaugural da bossa nova, o disco Canção do Amor Demais (1958), da cantora Elizeth Cardoso, já trazia a batida sincopada de violão criada por João Gilberto.

 No mesmo ano, o instrumentista cristalizou esse estilo, com o lançamento do não menos importante álbum Chega de Saudade. Entre os destaques do repertório da ‘bolachinha’ estão as canções Bimbom e a faixa-título.

 O canto quase sussurrado – que se contrapôs aos vozeirões dos intérpretes da Era do Rádio – se transformou em outra marca registrada do músico e influenciou artistas de gerações posteriores.

 O cantor e compositor Caetano Veloso, por exemplo, sempre valorizou essa influência. “Melhor do que tudo, só mesmo o silêncio. Melhor do que o silêncio, só João”, define o tropicalista.

‘VAIA DE BÊBADO’

 Em 1999, Caetano e João Gilberto protagonizaram um episódio polêmico, quando se apresentaram na inauguração da casa de espetáculos paulistana Credicard Hall.

 Logo no início de sua performance, o mestre deu uma demonstração de seu lendário perfeccionismo, e reclamou do vento do ar-condicionado. Íntimo de seu instrumento, João Gilberto sabe que a temperatura do ambiente pode afetar a afinação do violão, virtude tão apreciada por músicos de sua estirpe.

 Em seguida, começou a reclamar da acústica do local. “Se fosse um artista estrangeiro, processaria esta casa. Nunca mais piso aqui”, desabafou o ídolo.

 Depois de ouvir as insistentes reclamações do ‘papa da bossa nova’, parte das cinco mil pessoas acomodadas na platéia resolveu não perdoar seu preciosismo e soltou uma estrondosa vaia. Foi quando ele, sem se abater com a reprovação do público, cantarolou a impagável frase: “Vaia de bêbado não vale”.

 Discípulo fiel, Caetano saiu em defesa do mestre. “As pessoas que vaiaram aqui João Gilberto não me são aceitas no coração”, bradou o compositor.



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