De abril a junho deste ano, a construção civil foi um dos segmentos que mais impulsionaram a economia no Brasil e fortemente no Grande ABC. De acordo com o balanço do PIB (Produto Interno Bruto - que representa a soma das riquezas produzidas em um país), divulgado quarta-feira pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foram movimentados no segundo trimestre deste ano R$ 716,9 bilhões, valor 6,1% maior que o registrado no mesmo período do ano passado.

O setor da construção civil cresceu 9,9% em todo o País, beneficiado pelo aumento de 5% da mão-de-obra e elevação de 26,7% da oferta de crédito destinado a habitação.

No Grande ABC não foi diferente. O número de postos de trabalho aumentou 4.396 entre junho de 2007 e junho deste ano. Além disso, a expectativa de crescimento do setor é de mais 5% até o final do ano.

Crescimento - Para Rosana Carnevalli, diretora regional do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo) a expansão do segmento na região se deve aos investimentos estrangeiros, à elevação do volume de financiamento imobiliário, às obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e à isenção de alguns impostos.

"O Grande ABC possui economia bastante aquecida graças às indústrias aqui sediadas que atraem cada vez mais investimentos. São Caetano, por exemplo, tem recebido incorporadoras de fora do Grande ABC como a Gafisa, mobilizadas pela excelente renda per capta local", explica Rosana.

Segundo Rosana, há uma tendência de crescimento progressivo, pois além dos imóveis voltados para as classes A e B, existe ainda uma grande demanda de moradias para as classes C e D. Com a facilidade do crédito, essa fatia da população está começando a investir na casa própria . As incorporadoras, atentas ao fato, investem em moradias que não sejam padronizadas, como conjuntos habitacionais, com custo mais acessível.

"Em São Caetano, cerca de 51% dos habitantes pagam aluguel. Este é um dado animador às construtoras e incorporadoras", afirma Rosana.

Outro segmento que impulsionou a economia local e o resultado do PIB, foi o da indústria da transformação, com alta de 4,8% no País.

Em Diadema, a Kronis do Brasil, fabricante de máquinas para indústria de bebidas abriu novos turnos de trabalho, aumentou o número de funcionários e contratou mais serviços. "Somente no departamento de vendas houve incremento de 15%. Ainda encontramos dificuldade em contratar técnicos de montagem, pois apesar da necessidade, não há mão-de-obra", conta Nelson Ferreira, gerente comercial da empresa.

Ferreira anuncia que este ano já venderam 70% do comercializado no ano passado significando o alcance das metas de todo o ano. A empresa já tem solicitação de novos projetos para o verão de 2009/2010. Isso ocorre devido à ampliação de fábricas, aumento na linha de produção e surgimento de novas indústrias.

Cenário é favorável mas exige cautela, segundo especialistas

Apesar do cenário favorável, especialistas recomendam cautela ao adquirir financiamentos, pois a situação de crescimento pleno pode se reverter até o final do ano. "Sempre que ocorre aumento da taxa de juros leva-se um tempo para que isso afete o bolso do consumidor", afirma Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Economia da Fundação Santo André.

Balistiero se refere ao aumento da taxa básica de juros, a Selic, que quarta-feira sofreu reajuste de 0,75 ponto percentual, subindo para 14,25% - e que vem aumentando gradativamente desde o ano passado. De acordo com ele, o efeito da alta só deve ser sentido no primeiro semestre de 2009.

William Pesinato, coordenador do Ciesp (Centro das Índústrias do Estado de São Paulo) na região, alerta ainda para o risco da expansão da crise econômica norte-americana, a qual já se refletiu na Europa. "Ela nos assusta um pouco, já que o Brasil é grande exportador de alimentos. Dependemos da saúde econômica européia para mantermos nosso ritmo" afirma Pesinato.