É sintomático que o segundo CD da banda paulistana Cansei de Ser Sexy, Donkey, tivesse lançamento internacional antes do Brasil. Foi no Exterior onde o grupo realmente estourou, depois de lotar clubes alternativos. A fórmula do sucesso é uma mistura de indie rock, música eletrônica e deboche, que colaborou para redefinir o rótulo de "música brasileira jovem e contemporânea" lá fora.

Uma vocalista enérgica como Luísa Matsushita (ou apenas Lovefoxxx) também contribui para a notoriedade do grupo. O gosto dela pela moda ultramoderna, de cores e formas berrantes, também ajuda a espalhar ainda mais o nome do grupo pelo mundo: Lovefoxxx é uma das garotas-propaganda preferidas entre os fotógrafos das revistas de moda internacionais e estilistas da vanguarda urbana. Além dela, Luiza Sá, Ana Rezende e Carolina Parra fecham o cast feminino do grupo.

Outro sinal dos novos tempos estrangeiros na carreira do Cansei (como a banda é apelidada pelos admiradores) é a mudança definitiva no nome do grupo, que adotou a sigla CSS para facilitar a pronúncia em inglês.

Mas os fãs brasileiros não têm com o que se preocupar, já que Donkey, além de estar nas lojas, teve lançamento virtual pela gravadora Trama, em esquema semelhante à distribuição dos novos álbuns de Tom Zé, Teatro Mágico e, em breve, Ed Motta, além de Elis Regina e Tim Maia, em trabalhos póstumos. Nada mais natural para o CSS, que construiu a fama graças à internet.

Sérios - O que chama atenção logo de cara neste novo trabalho é uma maior seriedade nas letras, que permeia as 11 faixas. Isso, se comparado ao debute CSS (2006), assumidamente escrachado, em que a socialite Paris Hilton, por exemplo, é retratada no esplendor da futilidade, circulando pelos quartos da cadeia de hotéis cinco estrelas da qual é herdeira, e dirigindo os carros do pai milionário (na música Meeting Paris Hilton).

A dura vida das turnês internacionais pode ter colaborado para esse amadurecimento do CSS em Donkey, disco autobiográfico desde o nome (burro em português), uma alfinetada no ex-empresário que é acusado pelos seis integrantes de extorsão, em um imbróglio legal ainda em trâmite.

Rat is Dead (o rato está morto), segunda música do álbum e a primeira a ganhar videoclipe, também pode ser entendida como um recado ao ex-empresário, apesar de o CSS dizer tudo nas entrelinhas. Bem diretos mesmos eram os textos do único integrante masculino, Adriano Cintra, que publicou várias das histórias sobre o caso em mais de um blog na internet, hoje todos apagados.

Rat... ainda é uma amostra da veia mais roqueira que a banda assume em Donkey, e que também pode ser ouvida em outras faixas como Give Up. Essa decisão foi criticada pela imprensa inglesa, responsável por fazer ecoar mundo afora a fama de inovadores que recaiu sobre o CSS.

Os jornalistas ingleses reclamam que, ao dar mais atenção às guitarras, o grupo caiu na vala comum de bandinhas britânicas que surgem a cada semana, e estão espalhadas pelas esquinas de Londres, Manchester, Glasgow etc.

O que não quer dizer que os brasileiros tenham abandonado a raiz baladeira, quando conquistaram ouvidos e pés do público brasileiro e estrangeiro nas pistas de dança descoladas (caso do hit Let's Make Love and Listen Death from Above?).

Left Behind (primeira música de trabalho) é prova disso, ao lado de outras como Move e Believe Achieve, essa última mais compassada, assim como Jagger Yoga, que abre o disco, síntese certeira entre o rock e a eletrônica.

Há espaço até mesmo para uma experimentação comedida, em Let's Reggae All Night e seu baixo marcante. Falando no instrumento, o CSS perdeu justamente a baixista Ira Trevisan no processo de gravação de Donkey. Ela preferiu seguir com a carreira na moda.

Ainda não há previsão de um retorno do CSS para show no Brasil (o último foi em 2007, no festival Planeta Terra). Mas com a vinda já confirmada ao País da banda britânica Klaxons, para o Tim Festival, que deve acontecer em novembro, há a possibilidade de Lovefoxxx aparecer em terras brasileiras, já que ela é namorada do guitarrista, Symon Talor-Davis.