Esportes Titulo Série B
O 'Homem de Ferro' do Santo André
Dérek Bittencourt
Especial para o Diário
20/07/2008 | 07:32
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Nos quadrinhos e no cinema, o Homem de Ferro é dotado de uma armadura resistente e poderosa, além de uma grande inteligência, que o faz proteger o mundo. No elenco do Santo André, um jogador em especial carrega algumas dessas características e pode ser comparado ao herói da ficção: o volante Fernando.

Com 41 anos de idade, o atleta é dotado de um preparo físico e muscular que faz inveja a diversos jogadores mais jovens e as únicas duas intervenções cirúrgicas a que foi submetido durante a carreira (duas artroscopias, uma em cada joelho) não o deixaram longe dos gramados por mais do que 90 dias.

Aliás, a primeira delas foi em 1990, no começo da carreira, quando chegou ao Mogi Mirim. A segunda aconteceu em 1995, nos tempos de Guarani. "Me considero um jogador privilegiado", admite Fernando. "Ele é uma pessoa que se cuida, tem um privilégio quanto à parte física e sobressai entre os jogadores", completa o fisiologista do Ramalhão, Luciano Capelli.

Os outros poucos problemas físicos e musculares que o volante teve de enfrentar foram duas contraturas musculares - uma em cada coxa -, uma torção de joelho esquerdo e duas torções de tornozelo esquerdo.

"Por causa do físico privilegiado ele tem menos lesões. Nesse primeiro semestre, ele passou em branco no departamento médico e ficou fora dos treinamentos dois ou três dias, mas em razão de dores musculares normais", revela Capelli.

De fato, Fernando procura tirar proveito da experiência adquirida durante a carreira e dos conselhos que recebe. "Falo com preparadores físicos e eles dizem que, para prevenir qualquer lesão muscular, tem que manter uma musculatura forte", explica.

O jogador ainda passa algumas dicas sobre prevenção de lesões. "Duas coisas são fundamentais: cuidar da parte muscular e manter a hidratação. Eu malho três vezes por semana e tomo bastante água", conta Fernando. "Um músculo bem hidratado gera uma reação muito melhor. A hidratação faz bem para todo o corpo e atletas de alta performance como a gente tem que dar 100%, então se perde muito líquido e, se não repor, cai o rendimento."

O próprio preparador físico do Santo André, Stelio Metzker, comprova a dica do jogador. "Sempre antes dos jogos, ao longo do dia, ele bebe de um litro e meio a dois litros de água e isso ajuda muito contra o desgaste e a desidratação", explica.

Durante a carreira, Fernando pôde presenciar diversos companheiros de clube sofrendo constantemente com lesões, como foi o caso do goleiro Marcos, quando atuaram juntos no Palmeiras. Apesar de ser um jogador exemplar, a falta de sorte e a profissão fizeram com que o camisa um ficasse longos períodos no departamento médico alviverde.

"Todos nós, jogadores, estamos propensos a contusões. Podemos quebrar um braço em uma queda, torcer um joelho ou um tornozelo. Mas a parte muscular, ainda mais para nós que jogamos duas vezes por semana e exigimos muito da musculatura, precisa de um pouco mais de cuidado. Se o atleta fizer isso, consegue passar um bom período sem sofrer esse tipo de contusão. Hidratação, alongamento e trabalhar a parte muscular, com certeza, melhoram a elasticidade e a musculatura", garante o volante.

Testes da temporada comprovam resistência do volante

Nos tempos atuais, preparadores físicos, médicos e treinadores estão sempre preocupados com a parte física dos atletas. Em função disso, antes de cada temporada uma bateria de exames é realizada pelo elenco. E nestes testes, que colocam à prova velocidade, força e resistência, entre outras características, é que Fernando se destaca.

"Na avaliação realizada antes do Paulista (deste ano), os resultados mostraram que ele tem uma capacidade aeróbia muito bem desenvolvida", disse o fisiologista Fernando Capelli. "É um jogador de 41 anos com um limiar anaeróbio de 14 km/h. Ele é um cara a ser estudado", destaca o preparador físico Stelio Metzker.

Na média do elenco do Santo André, o limiar anaeróbio dos zagueiros e dos volantes foi de 13 km/h; dos laterais, meias e atacantes, 13,5 km/h. Não que isso signifique que o Fernando seja o melhor, mas está entre os melhores.

O limiar anaeróbio expressa a intensidade crítica de trabalho na qual a produção de lactato excede a produção, ou seja, o organismo produz o lactato na busca por fontes de energia.

Já no teste de consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo), que significa a capacidade do organismo em captar O2 pelo sistema respiratório, transportar e utilizar no músculo, o volante também brilha.

Com 54,20ml/kg/min (mililitros por quilo por minuto), está acima da média dos zagueiros (50,77), dos volantes (53,07), dos meias (52,52) e dos atacantes (51,08), ficando atrás somente dos laterais (55,01).

Encerrar a carreira: realidade cada vez mais próxima

A hora de parar se aproxima e o próprio jogador deixa isso bem claro. Fernando não precisa quando, mas assume que o momento está próximo. "Está chegando a hora. Para se manter um alto rendimento, apesar da facilidade que eu tenho na parte física, chega uma hora que precisa saber que, se continuar, o desempenho não vai ser o mesmo. Enquanto eu estiver jogando, quero ajudar meus companheiros da melhor forma possível", comenta.

O fisiologista Luciano Capelli diz que o jogador está muito bem. "Aparentemente não há nada que demonstre, fisicamente, que ele vai parar. Não há nada físico que o impeça de jogar. Vai depender de uma decisão pessoal dele."

Segundo o preparador físico Stelio Metzker, Fernando poderia até continuar por muitos anos. "É um atleta dotado de uma capacidade física e muscular altíssima", avalia.

Para o volante, um dos motivos por ainda não ter pendurado as chuteiras é não pensar no momento. "Jogo até hoje porque nunca fiquei fissurado em parar. Deixei as coisas acontecerem e nunca imaginei estar com 41 anos atuando em um clube de São Paulo, tendo a chance de disputar um campeonato difícil, corrido e que exige tanto fisicamente como é a Série B. Me considero mesmo um privilegiado", conta.

Fernando declara, porém, que quando parar vai se sentir realizado por um motivo em especial. "Não há nada melhor do que parar e deixar saudades, ser lembrado de uma forma positiva", disse. "Quando isso acontecer tenho de ajoelhar e agradecer a Deus por me proporcionar ter 41 anos e estar jogando", conclui.




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