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Clara Charf pede luta por igualdade
Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
08/06/2008 | 07:11
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No dicionário, paz significa harmonia, sossego, estado tranqüilo de um povo ou nação que não tem inimigos a combater. Definição equivocada, segundo Clara Charf. Para a principal líder do movimento pacificador no Brasil, paz é luta. Uma batalha que, não necessariamente, exige armas de fogo, mas artifícios sociais, direitos econômicos justos e estruturas comunitárias.

Em visita à região para divulgar o livro Brasileiras - Guerreiras da Paz - resultado de um trabalho de pesquisa feito para indicar 52 nomes ao projeto 1.000 Mulheres ao Prêmio Nobel da Paz 2005 -, Clara falou a dezenas de mulheres que no dia-a-dia promovem ações em defesa da ‘calmaria'. A luta incessante por um mundo com segurança humana e justiça começou a ser travada ainda na juventude. Quem vê a senhora Charf, hoje com 83 anos, não visualiza o seu passado de guerra no Brasil e no Exterior.

Viúva de Carlos Marighella, ex-deputado pelo PC (Partido Comunista) e um dos ícones da resistência à ditadura, Clara descobriu ainda jovem a dor da tortura. Aos 20 anos, participou de protestos contra a bomba atômica durante a Guerra Fria e de vários congressos em prol da paz. No Rio de Janeiro, foi às ruas pela liberdade de expressão e viu seu sonho estagnado com o golpe de 1964 e a repressão aos comunistas.

Neste período já era conhecida como senhora Marighella. Apesar de não ter oficializado o casamento - ambos tinham os direitos políticos e civis cassados -, o casal permaneceu unido, mesmo na clandestinidade.
"Fazíamos tudo juntos, até as tarefas de casa. Éramos companheiros. Ele ficava ao meu lado enquanto eu passava roupa. Ele lia livros, jornais ou qualquer outro tipo de literatura para mim. Eu gostava de estudar e ele não queria que eu perdesse tempo", conta.

De origem judia, Clara trabalhou na base naval americana no Recife, em Pernambuco. Atuou também como datilógrafa e aeromoça, mas, ao lado de Marighella, acabou assumindo funções administrativas no PC. Uma época de turbulência e perseguições que tiraram de cena o companheiro de luta. Carlos Marighella foi assassinado em 1969. "Estava marcado para morrer."

O silêncio imposto pelo governo militar levou Clara ao exílio. Foram nove anos em Cuba, esperando pela chance de voltar ao Brasil. "Só consegui com a anistia, num período completamente diferente do que tinha vivido. A democracia nos permite sonhar com a paz. Hoje, pode-se falar de tudo no Brasil. Não há censura nem mesmo para criticar o governo", diz.

O caminho em direção à paz, porém, exige mais do que democracia. Segundo Clara, requer determinação e atividades traçadas no dia-a-dia, na comunidade e no poder público. Paz para Clara é luta, sim, mas também direitos sociais, igualdade, equilíbrio e, acima de tudo, vontade de vencer.




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