Esportes Titulo Boxe
Jornada dupla rumo ao ouro olímpico
Nilton Valentim
Do Diário do Grande ABC
08/06/2008 | 07:11
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A palavra desistir nunca fez parte do vocabulário de Paulo Carvalho. O baiano de Guandu, morador do Jardim Rosina, em Mauá, viu o sonho de vencer no mundo do boxe desmoronar após os Jogos Pan-Americanos do Rio, em 2007. Derrotado na primeira rodada, acabou desligado da Seleção Brasileira, ficou sem salário e foi obrigado a mudar de vida.
Arrumou um emprego de faxineiro (ou limpador, como está em sua carteira de trabalho) para sustentar a mulher Carla e o filho Paulo Henrique. Deu a volta por cima e agora vai representar o País na Olimpíada de Pequim.

Paulinho nunca foi de varrer os problemas para debaixo do tapete. "Minha vida sempre foi de superação. Comecei lutando por amor.

Trabalhava durante o dia e treinava à noite. Mesmo assim, fui campeão baiano e brasileiro", afirma o pugilista, que desde cedo se acostumou ao batente. Ajudou a família na roça e encarou a dura rotina da construção civil.

O título nacional conquistado em 2005 foi a porta de entrada para um mundo novo. Foi chamado para integrar a Seleção Brasileira, passou a dedicar-se exclusivamente à nobre arte e viu seus resultados melhorarem consideravelmente. Mas veio o Pan, e o que era para ser a glória, virou pura decepção.

RECOMEÇO
Sem o salário pago pela Confederação Brasileira de Boxe, o jeito foi partir para o mercado de trabalho. Indicado por um amigo, conseguiu um emprego de limpador na empresa Verzani & Sandrini, de Santo André. Passou a executar serviços gerais de limpeza na Pirelli. Mesma indústria onde o único medalhista do boxe olímpico brasileiro, Servílio de Oliveira, trabalhava antes da Olimpíada da Cidade do México, em 1968, quando conquistou a primeira e até hoje única medalha do boxe nacional: um bronze.

O pugilismo ficou para segundo plano. Treinava pela equipe de São Caetano no período noturno depois do expediente diário na empresa.
Foi assim até chegar aos Jogos Abertos de Praia Grande, em 2007. Servílio, responsável pela equipe, procurou a empresa e solicitou a liberação do atleta para a competição. "Se não me autorizassem, iria optar pelo emprego", confessa Paulinho.

A partir deste momento, a direção da empresa passou a apoiá-lo. "Ele tem um emprego formal, com registro em carteira (o primeiro de sua vida), com todos os benefícios e a empresa o libera para treinamentos, mantendo seu salário", conta Renata Godoy Mendes, coordenadora de comunicação e marketing da Verzani.

SONHO OLÍMPICO
Com maior segurança, os resultados vieram. Paulinho venceu o Torneio Pré-Olímpico da Guatemala e conquistou a vaga para Pequim na categoria ligeiro, até 48 quilos.

"Isso me deu uma tranqüilidade muito maior. Não corro o risco de ficar desamparado caso o boxe me dê um chute na bunda", compara o atleta.

Com lugar garantido entre os que vão a Pequim, Paulinho voltou a sonhar alto e já planeja, inclusive, o que vai fazer se conquistar a medalha olímpica. "Quando voltar ao Brasil vou pendurá-la no pescoço do meu filho", afirma. "Se você ganhar uma medalha, colocará seu nome na história do esporte brasileiro", completa Servílio.

Servílio de Oliveira aposta em Paulinho na Olimpíada

Servílio de Oliveira não vê a hora de perder o título de único medalhista do boxe olímpico brasileiro. Em outubro completará 40 anos que ele trouxe o bronze dos Jogos da Cidade do México. "Torço muito para os atletas brasileiros", confessa o ex-pugilista.

Ele aposta que este ano, em Pequim, deixará de ser o único para ser apenas o primeiro a ganhar uma medalha olímpica. "Muitos fatores determinam uma conquista. O atleta precisa estar muito bem. Uma noite mal dormida, por exemplo, pode fazer a diferença", enumera.

Dentre os seis atletas que representam o País, Servílio acredita que Paulo Carvalho, na categoria ligeiro (até 48 quilos) é um dos favoritos. "O neguinho tem muitas chances. Ele é rápido, esperto e golpeia muito bem", elogia o medalhista.

A equipe terá ainda o peso pena (até 57 kg) Robson Conceição, o mosca (até 51 kg) Robenilson Vieira, o leve (até 60 kg) Everton Lopes, o meio-médio ligeiro (até 64 kg) Myke Carvalho e o meio-pesado (até 81 kg) Washington Silva.




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