Economia Titulo Empregos
Mercado para negros ainda é desigual
Tauana Marin
Do Diário do Grande ABC
01/06/2008 | 07:29
Compartilhar notícia


A representatividade dos negros empregados da PEA (População Economicamente Ativa)no mercado de trabalho aumentou para 33,2% em 2007, ante 28,6% há oito anos atrás, no município de São Paulo. Mas, mesmo apresentando melhoras está longe de ser o ideal.

Os dados foram divulgados pelo Observatório do Trabalho - uma parceria entre a Secretaria Municipal do Trabalho e o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socieconômicos).

"Além do preconceito não podemos deixar de falar da falta de boa qualificação e do baixo nível escolar, não só dos negros, mas também de grande parte da população", avalia o economista da secretaria e coordenador do Observatório, Juarez Mota.

Outro ponto avaliado pela pesquisa é o nível de desemprego, que apresenta uma queda desde 2005 (quando 15,7% da PEA estavam desempregados). Em 2006, o índice caiu para 14,7% e em 2007, para 13,9% - menor taxa do período. Os negros representam 34,2% da PEA. No entanto, quando comparada ao contingente de não-negros, a sua participação no total de desempregados se eleva a 40,4%.

Para as mulheres negras a situação é mais complicada. Em 2007, enquanto elas representavam 47,1% da PEA e 45,8% do total de ocupados, respondiam por mais da metade das pessoas desempregadas (55,4%) no município de São Paulo.

Os dados da PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios) também apontam que mais de 75% das mulheres negras não possuem o segundo grau completo, enquanto para as não-negras esse indicador é de 57,2%.

"Hoje ter o nível médio é um requisito básico e exigido pelas empresas. O fato de não ter essa qualificação acaba impedindo, de alguma forma, que o indivíduo ingresse no mercado", comenta Mota.

As mulheres negras também enfrentam desigualdade salarial. Segundo a pesquisa, enquanto o rendimento médio das não-negras somou R$ 1.288, as mulheres negras receberam 51% desse valor - R$ 660. Isso significa que as negras ocupadas no mercado de trabalho paulistano formam o grupo social que apresenta o menor salário.

Análise - Para o antropólogo e presidente da Comissão de Políticas Públicas para a População Negra, da reitoria da USP (Universidade de São Paulo), João Baptista Borges Pereira, dois fatores precisam ser levados em conta: o preconceito racial e social. "Quando o negro atinge um elevado nível escolar, também sofre preconceitos", diz.

"A falta de qualidade escolar, principalmente para as regiões mais carentes, onde se concentra a maior fatia da população negra, não é presente apenas no ensino médio, dificultando a entrada da pessoa na universidade, mas sim de todo o ciclo acadêmico, desde a pré-escola", enfatiza Pereira.

"Como uma pessoa nessas condições vai competir em igualdade no mercado de trabalho?", questiona o antropólogo.

A mulher negra, em especial, encontra dupla desvantagem, explica o presidente da Comissão de Políticas Públicas. "Além de ganhar menos que o homem, por uma questão cultural e generalizada a todas as raças - o machismo -, ela tem um salário menor do que as não-negras, devido o preconceito", conclui.

Estudo foi base para crescimento profissional de publicitário

O publicitário e empresário Francisco Roberto Martins, 48 anos, de Santo André, é uma das exceções desse perfil do mercado, e não teve empecilhos na sua carreira.

Hoje, dono da Martins Publicidade, fundada há 20 anos, Martins conta que para obter o sucesso profissional precisou ‘correr atrás'.

"Sendo de uma família de raça negra sempre dei muito valor aos estudos, porque temos de driblar o preconceito. A aparência conta, e muito", avalia Martins.

Para ele, quando um negro sai à procura de emprego, mostra que tem qualificação e os requisitos exigidos pelo mercado de trabalho, fica mais fácil. Quando não tem nível escolar compatível com as exigências o preconceito prevalece.

"Quando falamos de boa formação se inicia uma delicada discussão: a qualidade das escolas, principalmente as públicas. Por isso que a questão é muito mais social do que racial no meu ponto de vista", declara o publicitário.

"Enquanto as políticas públicas não mostram efeito real, é preciso ser interessado e tentar extrair o máximo dos estudos", afirma.

Martins conta que trabalha com clientes de variados portes - desde micro e pequenas empresas até multinacionais -, e que todos apresentam a preocupação de incluir, não somente o negro, como todas as outras raças e etnias em suas propagandas.

"As corporações estão mostrando que se preocupam com a imagem que passam. Dar espaço a todas as pessoas, independente de raça, mostra que a companhia é aberta e aceita diferenças."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;