Sempre que se apresentam, os caras da Plebe Rude têm uma certeza: ninguém que está presente no show está a passeio. Esse é o soldo por fazer músicas para si próprios, estar, como eles revelam, tranquilos com suas próprias consciências.

Com três décadas de carreira, sem nem pensar em suavizar, seja o rock and roll ou as composições que refletem as discrepâncias políticas do Pais, eles ainda têm muito o que criticar. O que farão em show amanhã no Sesc Santo André.

"Talvez não seja a coisa mais sábia, mas é o que faz bem para a gente. Hoje, algumas bandas trabalham para garantir vaga em feiras agropecuárias, com público que quer apenas cantar junto, sem discernir se é pop, sertanejo ou axé", conta o vocalista e guitarrista Philippe Seabra.

Eles estão na estrada com o projeto ao vivo 'Rachando Concreto: Ao Vivo em Brasília', que reúne canções do clássico 'O Concreto Já Rachou', de 1985, álbum que faz nove anos que eles tentam relançar, e somente agora conseguiram.

Também, estão no documentário 'Rock Brasília', que revive a cena roqueira no Distrito Federal dos anos 1980.

Seabra, que tinha 13 anos e já tocava na banda que abria os shows do Aborto Elétrico - banda que reuniu os líderes do Capital Inicial e Legião Urbana, Dinho Ouro Preto e Renato Russo -, começou na Plebe aos 14, e conta que a força catalizadora da energia contestadora que deu cara ao rock nacional da época vinha das embaixadas em Brasília.

"Não tínhamos nada para fazer e conseguíamos discos e fitas que vinham de outros países através dos malotes diplomáticos, antes mesmo de São Paulo e Rio de Janeiro receberem esse material. Era a nossa internet", revela. "Quando era difícil conseguir, valorizávamos cada coisa que aparecia", completa.

O músico crê que assistir ao documentário é praticamente uma bofetada na cara, tanto para quem não se importa com a qualidade da música que ouve quanto para os que adoram se debruçar à reflexão através da arte. "Quem gosta da baboseira que toca em rádio, vai descobrir que tem um universo ao seu dispor e só escuta o que lhe é dado goela abaixo. Os outros ficarão tristes por ver como esse tempo, que era legal, não existe mais."

Eles, que lutaram contra a ditadura debaixo de porrada, continuaram levantando a bandeira no boom do rock, quando parte de seus companheiros se rendeu às criações mais melosas e comerciais, agora planejam continuar lutando pelas disparidades que ainda enxergam nesse período em que a economia brasileira se destaca. "Cada vez mais se veem Land Rovers e meninos de rua. É uma combinação perigosa."

Plebe Rude - Música. No Sesc Santo André - Rua Tamarutaca, 302. Tel.: 4469-1200. Amanhã, às 20h. Ingr.: R$ 5 a R$ 20.