Lugar de criança não é, definitivamente, na rua. Muito menos trabalhando nos faróis para ajudar em casa. Pensando nisso, e repetindo fórmula que deu certo na África do Sul e ajudou 40 mil crianças e adolescentes, o Comitê Mundial dos Trabalhadores da Volkswagen lançou ontem na sede da montadora, em São Bernardo, o programa A Chance to Play - O Direito de Brincar, que prevê beneficiar em dois anos 60 mil crianças e adolescentes por meio de 12 projetos sociais realizados durante dois anos nos entornos das quatro fábricas no País (São Bernardo, Taubaté, São José dos Pinhais e São Carlos).

"Os direitos de brincar e praticar esportes não podem ficar em segundo plano, são elementos essenciais. E nada melhor que o contexto da Copa do Mundo para chamar atenção ao tema", disse Tuto Wehrle, coordenador do programa no Brasil. "Essas são formas de prevenção contra a recente onda de violência no País. A partir dessas ações, é possível construir relações sociais em uma base diferenciada."

Para isso, será investido, inicialmente, 1,5 milhão de euros (R$ 4,065 milhões). Desse montante, 1 milhão de euros provém da Fundação Volkswagen e, 500 mil euros, de doações voluntárias dos empregados no mundo todo. Há 13 anos, a Volks possui programa chamado Uma hora para o futuro (que já arrecadou 14 milhões de euros e ajudou mais de 300 mil crianças ao redor do mundo), em que os funcionários doam uma hora de trabalho no ano para iniciativas sociais. Em São Bernardo, segundo o vice-presidente do Comitê Mundial dos Trabalhadores da Volkswagen, Valdir Freire Dias, o Chalita, existe a adesão de 95% dos profissionais, que recebem, em média, R$ 25 por hora trabalhada.

No Grande ABC, serão beneficiadas as cidades de São Bernardo, Santo André e Diadema, com o aporte de 400 mil euros (R$ 1,084 milhão) que serão divididos entre cinco ONGs (Organizações Não Governamentais): Centro Cultural Afro-brasileiro Francisco Solano Trindade e Projetos de Meninos e Meninas de Rua - em São Bernardo e Diadema, Acer (Associação de Apoio à Criança em Risco) Brasil - em Diadema, Celivi (Centro de Libertação de Vidas) e Feasa (Federação das Entidades Assistenciais de Santo André) - em Santo André.

O processo de escolha das entidades, segundo Wehrle, levou um ano. A capacitação será feita pela ONG alemã terre des hommes, encarregada da gestão dos projetos.

O Celivi, creche comunitária do Jardim do Sol, próximo ao Cadeião, em Santo André, que cuida de 120 crianças de 2 a 5 anos, vai levar a importância da brincadeira para dentro dos lares. "Teremos encontros quinzenais com os pais, na creche, para enfatizar a importância de eles brincarem com seus filhos, o que pode ser feito por meio de brincadeiras simples, como amarelinha, peteca, queimada e jogos de tabuleiros. O intuito é tirar o enfoque da mídia televisiva na vida das crianças", contou a presidente Magda Herrerias.

O Centro Cultural Afro-brasileiro, que tem sede em São Bernardo, mas atua dentro das comunidades em parceria com igrejas e escolas, vai fazer o resgate de brincadeiras de rua e práticas esportivas com bola para estimular a cooperação, e não a competitividade, e a cultura de paz. "Vamos formar os educadores que vão passar isso às crianças para que elas também sejam multiplicadoras desses conceitos", afirmou o presidente Nelson Rocha. Serão beneficiadas 1.200 crianças e adolescentes de 7 a 16 anos dos bairros Jardim Ipê, Planalto, Jardim Silvina e Los Angeles (em São Bernardo) e Jardim Marilene (em Diadema).

A ideia do programa é arrecadar mais fundos para ampliar o período de vigência. Focando no Mundial do futebol, Chalita avisou que serão discutidos meios de arrecadar mais recursos. "Na África do Sul, por conta da Copa do Mundo de 2010, foram vendidos kits com canecas, bolas e camisetas, e parte (do valor arrecado) foi revertida ao programa. Pode ser que a gente siga esssa linha. Queremos criar também algo impactante, como formas de adquirir ingressos dos jogos para crianças."