Carlos Boschetti Titulo Concorrência dos importados
China e seus dragões
Carlos Boschetti
28/08/2014 | 07:05
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O Brasil está com sua indústria nocauteada por falta de uma política de desenvolvimento e de crescimento para reduzir o gap existente com cenário internacional. No último mês de julho, o país recebeu um duro golpe, quando mais de 450 fornecedores chineses apresentaram em São Paulo seus mais de 2.500 produtos que prometem invadir nosso mercado. São artigos que vão desde móveis, a artigos têxteis, de iluminação, material elétrico, autopeças, automóveis e outros.

Em 2013, as importações chinesas representaram 15,6% do total de produtos importados pelo Brasil, o que colocou a China como nosso segundo maior parceiro de negocio atrás somente dos Estados Unidos. Os chineses bateram o recorde de produtos importados, o que estimula as empresas asiáticas a ampliarem suas metas para os próximos anos em nosso mercado. Nosso parceiro dos Brics – grupo de economias emergentes que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – colocou foco em nosso mercado como um dos mais promissores para aumentar as exportações e criou uma dramática competição com a indústria nacional.

2014 está sendo um turbulento para os mercados. Entre os destaques do cenário externo, temos o conflito entre Rússia e Ucrânia que abalou a recuperação da economia da comunidade européia, o conflito no Oriente Médio entre palestinos e israelenses e o terrorismo que alerta o mundo para a crise no Iraque. Tudo isso coloca em cheque a recuperação da economia mundial. Assim, a conquista por novos mercados torna-se imperativa para os próximos anos. A busca por novas oportunidades e mercados fortalecem a indústria chinesa, que apesar do estigma de produtos baratos, com baixa qualidade, design e inovação tecnológica, renova-se a cada dia na busca de melhorias que já fazem parte de nossas vidas.

Nosso país tornou-se alvo para os nossos parceiros do Brics e, com isso, nossos empresários estão cada vez mais encurralados sem nenhuma luz no final do túnel. O governo anunciou recentemente mais uma medida de efeito tampão: liberou cerca de R$ 25 bilhões de crédito ao consumidor, com objetivo de fomentar e estimular o paralisado mercado varejista e o comércio em geral. Nossas exportações despencaram, assim como nossas importações, sinais clássicos que a demanda interna está decrescendo a cada dia, o câmbio subindo e o cenário político cada dia mais complexo. O único setor econômico que vai bem é o agronegócio, segmento em que nos destacamos e crescemos a taxas impressionantes de mais de 7%. Apesar disso, não conseguimos reverter a tendência de paralisia econômica.

A cada ida ao supermercado, nossa população constata que o orçamento familiar está cada vez menor com os preços aumentando a cada dia, bem como o índice de endividamento das famílias brasileiras. A nova classe C já não consegue alavancar o consumo e o comércio ressente a falta de compradores.

Com isso, estamos vivendo uma espiral reversa e sufocante, onde o comércio com estoque represado, tendo de liquidar, compromete o capital de giro, não faz encomendas à indústria que, por sua vez, sem pedidos, não produz e se vê obrigada a paralisar suas linhas de produção, o que conduz a redução de funcionários. Aí que a indústria asiática vislumbra uma grande oportunidade: sem competição local e com produtos com preços tentadores, eles invadirão nossa praia e farão do Natal da lembrancinha chinesa. O que há de errado com o Brasil? 




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