Cultura & Lazer Titulo Teatro
Poética em suspensão

Narrativa fragmentada discute casos familiares que
trazem enigma para o qual cabem muitas respostas

Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
16/01/2013 | 07:14
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Corpos vistos sob diferentes perspectivas, sons desambientados reverberando em diversos pontos, uma família da qual ninguém sabe ao certo quem é o quê. Assim, em blocos, o quebra-cabeça de ¡Salta!, que estreia na sexta no Sesc Santo Amaro, constitui uma paisagem que se desvela por completo apenas nos sentidos de cada um dos 50 espectadores de cada sessão.

O projeto do Coletivo Teatro Dodecafônico relacionou-se com a poética da cineasta argentina Lucrecia Martel para compor uma história fragmentada de dramas familiares que traz um enigma para o qual cabem muitas respostas. Tudo depende do ponto de vista.

Quatro mulheres e um homem estão em cena. Três delas parecem ser uma coisa a cada instante: mãe e filha, irmãs, primas ou todas elas um pessoa só em diferentes etapas da vida. Os outros dois personagens atuam delineando ou confundindo o que parece estabelecido a cada cena.

Todos vivem o ócio de um dia quente em não se sabe qual local da América do Sul. Até o tempo flutua ao sabor dos acontecimentos. A mãe, quando surge, prevê o caos instalado no seio familiar. "Nosso desejo é revelar uma estrutura familiar decadente, confusa e em crise. O que eles vivem juntos não é muito espetacular, é um recorte de um cotidiano coletivo que vive com um segredo e assuntos proibidos", conta a diretora Verônica Veloso. "A criação mescla as instâncias. Momentos de lirismo e de jogo são alternados pela tensão."

O uso do corpo em cena, de jeito parecido com o que Lucrecia representa em seus longas, dá um tom de mistério aos rumos da história. Personagens de costas, por trás de tapumes, com a cabeça ou outras partes do corpo escondidas aumentam a sensação de que algo, imprevisível, está para acontecer. O som, que vem de todos os lugares e é de diferentes coisas, que às vezes não têm relação com a narrativa, também cumprem esse expediente. Um MP3 e um fone de ouvido, cada um deles com uma entre cinco trilhas sonoras disponibilizadas, são entregues a todos da plateia. "Esses sons te convidam a observar uma das figuras presentes na cena, o que traz a escolha de um ponto de vista. Tudo cria espécie de suspensão, deixa todos em estado de alerta, sob a iminência de algum acontecimento."

"Se a pessoa chega para assistir à peça acostumada à leitura linear baseada no entendimento rápido, talvez fique angustiada. O ideal é chegar com abertura para perceber nas imagens, sons e histórias uma vivência pessoal. A gente convida o espectador a estabelecer um olhar de voyeur para essa família e construir a própria verdade e a história em sua cabeça", revela a diretora.  

¡Salta! - Teatro. No Sesc Santo Amaro - Rua Amador Bueno, 505, São Paulo. Tel.: 5541-4000. 6ª, às 20h; sáb., dom. e feriados, às 19h. Ingr.: R$ 3 a R$ 12. Até 17 de fevereiro.




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