Economia Titulo Inadimplência
Consumidor de renda menor puxa índice de inadimplência
Alexandro Melo
Do Diário do Grande ABC
04/12/2011 | 07:18
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Empréstimo pessoal, cheque especial e cartão de crédito são opções de dinheiro fácil, mas se não forem usadas com cautela podem trazer dores de cabeça. O alto endividamento com essas ferramentas de crédito somado a problemas familiares levaram a auxiliar administrativa andreense Sandra (nome fictício), 51 anos, a mergulhar em quatro dívidas que a impossibilitam de ter acesso às compras a prazo. Especialistas afirmam que famílias de baixa renda estão mais sujeitas a serem inadimplentes.

Faz cinco anos que ela deve para duas financeiras e dois supermercados. Somente duas dessas contas somam R$ 3.845,28, sendo que a renda mensal familiar de Sandra é de R$ 1.600. O detalhe é que desse valor, sobram só alguns trocados no fim do mês.

"Recebi no fim de novembro duas propostas de renegociação das dívidas. Como o orçamento no fim do mês ficou menos apertado, paguei R$ 271,55 de um empréstimo", explica Sandra. O valor atual era R$ 1.809,21. A liquidação amigável da dívida resultou em economia de R$ 1.537,66.

A auxiliar administrativa planeja como próximo passo contratar um empréstimo rápido no caixa eletrônico do banco em que tem conta para saldar os R$ 510,36 pendentes com uma rede de supermercados. "Foram cheques que passei há cinco anos. Todos os dias olho para o boleto, mas tenho vergonha de ir negociar, pois não tinha dinheiro."

Sandra mora com o filho de 17 anos e o irmão aposentado. Apenas no supermercado, a família gasta R$ 550 mensais. As despesas com luz (R$ 150), água (R$ 63) e telefone (R$ 50) pesam no orçamento. Os remédios consomem mais R$ 150 e o lazer do filho de 17 anos, ainda desempregado, mais R$ 200. Outros gastos são com convênio médico (R$ 60), ração do cachorro (R$ 70) e prestações (R$ 260).

 

DIAGNÓSTICO

A equipe do Diário pediu ao economista da Fundação Getulio Vargas André Braz para fazer um diagnóstico que ajude Sandra a equilibrar a saúde financeira da sua família. "Em primeiro lugar, não há renda para viver com esse padrão de consumo. É preciso elevar a renda ou reduzir os gastos."

Braz avalia que a conta de energia elétrica está elevada, representando quase 10% da renda da família. Reduzir o tempo de banho e desplugar itens ligados desnecessariamente é um começo. Sandra reconhece que o filho passa muito tempo no chuveiro.

Para o telefone, a sugestão é aderir a um plano pré-pago com o mínimo de crédito possível. "Quite as prestações, para que haja mais espaço no orçamento, procure a farmácia popular para adquirir remédios mais baratos ou vá a um posto de saúde para consegui-los gratuitamente", recomenda.

Os gastos com lazer estão elevados. A dica é que as famílias com renda mais baixa precisam economizar e construir a cultura de poupar.

 

RENEGOCIAÇÃO

De um lado, o credor interessado em receber e do outro, o devedor que está com o orçamento apertado, pressionado a pagar suas pendências financeiras. O processo de negociação nem sempre é fácil e o consumidor também não precisa aceitar a proposta logo de primeira. O assessor econômico da Serasa Experian, Carlos Henrique de Almeida, diz que a probabilidade de inadimplência é maior entre as pessoas de renda mais baixa, pois muitas não têm vivência com o crédito. "Com o pagamento do 13º salário, o recomendado é que o consumidor faça renegociações para ter crédito garantido no comércio para as compras de Natal."

Antes de incluir o nome do cliente no banco de dados de um serviço de proteção ao crédito, a empresa deve informar a pessoa. Para que o acordo seja bom para os dois lados, é preciso diálogo. Almeida recomenda que a negociação não seja deixada de lado, e diante de algum problema, o endividado deve avisar a empresa.

Ao argumentar que não conseguiu honrar com o pagamento por estar desempregado, o consumidor deve levar documentos que comprovem sua situação atual, como a carteira de trabalho. Ao assumir novo valor da dívida é importante estar atento para que a conta não extrapole o orçamento mensal. Se possível, sempre opte pelo pagamento à vista.

 

DESEMPREGO

Perder o emprego é a causa apontada pelos consumidores como o principal motivo para deixar de pagar as contas. De acordo com o presidente da Boa Vista Serviços, Dorival Dourado, o nível de endividamento das famílias brasileiras é alto, e quando as pessoas estão trabalhando não se preocupam em fazer poupança, ou seja, não estão prontas para qualquer tipo de eventualidade.

As outras duas razões mais sinalizadas foram doença na família ou imprevisto doméstico. "Em 70% dos casos, o consumidor se torna inadimplente por estar com alto nível de endividamento aliado com alguma situação externa, como separação, por exemplo", aponta Dourado.

 

MUTIRÃO

Nas últimas semanas, a Boa Vista Serviços realizou um mutirão para reabilitar o crédito aos consumidores inadimplentes. Durante o período, foram atendidas 35 mil pessoas. O montante renegociado não foi revelado.

O assessor da Serasa Carlos Henrique de Almeida destaca que as famílias das classes C, D e E estão entre as que mais procuram crédito. "Para aqueles que ganham até um salário-mínimo houve aumento de 24,4% na demanda", pontua. O economista acrescenta que a inadimplência que estava subindo no primeiro semestre, mas que em outubro teve duas quedas consecutivas.




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