Cultura & Lazer Titulo Tradição
De pai para filho e
ao gosto do freguês

Bar do Freguês, em S.Bernardo, oferece comida saborosa
e fresquinha, além de uma trilha sonora muito bem cuidada

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
30/12/2012 | 09:16
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Pense em um lugar em que a comida chega sempre saborosa e fresquinha à mesa. A trilha sonora, muito bem cuidada, é geralmente de música de gente como o mestre do blues BB King ou algum outro medalhão. Isso sem contar na possibilidade de decidir qual cerveja você quer conhecer diante do farto cardápio que a casa oferece. Isso tudo aqui mesmo no Grande ABC.

Patrimônio não só dos boêmios, mas também daqueles que prezam por um espaço bem cuidado, estamos falando do Bar do Freguês, aquele cuja logomarca é um bigodinho estilo português, uma das heranças da família. O elegante lugarzinho está encravado na esquina da Rua Sergipe com a Avenida Prestes Maia, em São Bernardo.

A história do Bar do Freguês começou a ser traçada há 65 anos. Hoje no comando está Marco Aurélio Ferreira, ao lado da fiel escudeira, sua irmã Alessandra Ferreira Nicodemo. Os dois são filhos do simpático casal formado por Neusa Grigonis e seu Aureliano Ferreira, já septuagenário, que hoje em dia só vai ao bar aos sábados para beliscar uma coisa ou outra e dar um ‘salve' aos conhecidos.

A trajetória do ‘boteco' teve início em novembro de 1947, com Aurélio Ferreira, pai de seu Aureliano. "Era um bar simples, uma lanchonete. Meu pai montou com meu tio, que veio de Portugal", lembra-se o ex-comerciante, que assumiu o balcão em 1963.

À época, o estabelecimento era conhecido como Bar 15 de Novembro, por conta da data de inauguração. Logo depois, assumiu o nome ‘do freguês'. O carro-chefe era o bolinho de bacalhau - no cardápio até hoje - feito pela mãe de Aureliano. "Virou tradição, e assim foi ficando conhecido. Se você perguntar hoje para uma pessoa de 80 anos, ela pode não se lembrar do bar, mas desse bolinho sim", acredita Aureliano.

DIFICULDADES - No atual endereço, propriedade da família, o bar está desde 1990. Lá enfrentou e resistiu a fortes crises econômicas. A primeira veio junto com o governo do ex-presidente Fernando Collor de Mello. A outra foi em 1998, com a crise do plano real. "A gente andava a pé. Tivemos de vender o carro, e um outro, que seria vendido para pagar dívidas, foi roubado. Comprávamos cerveja de manhã para vender à noite", afirma Marco, que convidava os amigos para fazer churrasco no bar, mas tinha de cobrar um valor simbólico dos convidados antecipadamente por não ter reservas para comprar a carne.

E foi também no novo endereço que a família se reergueu e que o Bar do Freguês se reinventou. "Somos um dos primeiros, se não o primeiro nesse estilo de bar", diz Aureliano. Desde 1992 ajudando no balcão, Marco abandonou a faculdade de economia e assumiu a gerência em 2000. "Meu pai me disse que eu deveria escolher entre usar terno e gravata e trabalhar para os outros ou cuidar do que é meu", conta.

O tempo passou e a mesa de sinuca foi aposentada, assim como alguns elementos mais simples. O cardápio hoje traz o já tradicional bolinho de carne do Benê, uma das especialidades e uma infinidade de gostosuras, como o delicioso hambúrguer, preparado na própria casa.

Costeletas de cordeiro também são pedida certeira nas mesas do ‘boteco'. Outro prato tradicional, há tempos no menu, é a sopa de capelete com salame. "O salame é salgado, quando se mistura com a sopa, muda o paladar", explica Aureliano.

PARAÍSO DA CERVEJA - Aos que gostam de experimentar novos sabores de cerveja, a casa é um paraíso. Coisa de cervejeiro estudioso e apaixonado. Marco é responsável por elaborar a carta, que já teve 350 rótulos e hoje dispõe de 140 rótulos entre nacionais e importados. As tradicionais, ele tirou do cardápio há dez anos. "Estou estudando cerveja. Quero diminuir a quantidade e só ter coisa boa", diz o cervejeiro, que preparou sua própria bebida, batizada Aureliano, para presentear a família e alguns amigos.

Não só os pais de Aureliano, mas ele, a mulher, os filhos e até a netinha Bárbara, três anos, viveram e vivem do suor por de trás do balcão. E talvez o resultado do sucesso seja o ensinamento que seu Aureliano deu aos filhos. "Trabalhe, e cobre o que precisar. Mas coloque coisa boa na mesa."




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