Aos 90 anos, o massagista João Zago é tradição no bairro, deixando inúmeras pessoas livres da indesejada dor nas costas
Quem nunca sofreu com aquela dorzinha desagradável na coluna, por mau jeito ou simplesmente estresse, precisando de uma boa massagem para colocar tudo no lugar? Aos 90 anos, o massagista João Zago continua firme no atendimento para deixar qualquer um com a sensação de renovação.
Em mais de cinco décadas atuando na área, seu consultório na Rua Amador Bueno, 348, na Vila Dirce, em Mauá, é referência quando o assunto é dor nas costas. “Pego pessoa toda torta e, em três, quatro sessões, estão retinhas. A gente tira a dor e relaxa o paciente. Tem gente que chega até a dormir na maca, de tanto que relaxa”, fala ele.
A idade não tirou a força de seus principais instrumentos de trabalho: as mãos. “Os dedos têm muito peso, a minha força continua a mesma.” E continua mesmo: três vezes por semana, ele faz uma série de exercícios físicos. “Puxo peso de 40 quilos em cada perna. Não tenho diabetes, colesterol alto, nada”, orgulha-se.
Em tantos anos de trajetória, perdeu as contas de quantos atendimentos fez, afinal, foi massagista de clubes de futebol, acompanhou excursões da terceira idade por todo o Brasil e foi, inclusive, expedicionário de guerra do Exército, de 1944 a 1946, em Itu, no interior de São Paulo, onde cuidava dos soldados.
Resolvendo as dores que incomodam grande parte da população, quem já passou por suas mãos e hoje está distante o procura na primeira oportunidade. “Tem uma paciente que atendo há mais de 40 anos e que hoje mora nos Estados Unidos. Ela virá ao Brasil agora e já marcou consulta”, conta.
Cada sessão de massagem dura de 40 minutos a uma hora e custa R$ 70. As sessões, aliás, vão além do tratamento na coluna. Seu João acaba sendo também um pouco médico e psicólogo. “Quando a pessoa chega, a gente mede a pressão, verifica os batimentos cardíacos, se estiver tudo certinho, aí começamos a massagem. Durante o processo, elas desabafam, contam tudo para mim.”
Por esse cuidado, muitos pacientes eternizam seus agradecimentos a Zago por meio de cartas, que ele expõe na parede do consultório. “Teve uma pessoa que andava de muleta e, depois que veio aqui, está até jogando bola.”
O massagista atende diariamente, inclusive aos domingos, até meio-dia. “Tem muita gente que trabalha e não pode vir durante a semana. Se vem com dor no domingo, não vou atender?”
Acompanhando a carreira e dedicação do pai, dos seis filhos, quatro seguiram a massoterapia, além de uma neta. “Ele tem o dom e irradiou a luz para a família. É nosso mestre”, ressalta José Eduardo Zago, 50.
“Tenho muito o que aprender, a gente morre aprendendo. Nunca chegaremos a conhecer todo o corpo humano”, comenta o patriarca, que nem pensa em parar de exercer a atividade. “Enquanto tiver força nos dedos, vou trabalhar.”
Da alta-costura ao uniforme escolar
Nos bairros do Grande ABC, é comum encontrar costureiras que fazem os mais variados trajes para festas. Mas, na Vila Dirce, o foco da loja situada à Rua Amador Bueno, 368, é outro: uniformes escolares.
O estabelecimento funciona no endereço desde 1989, depois que Aparecida Camargo Rossi, 56 anos, deixou a alta-costura para se dedicar à malharia. “Desde criança gosto de costurar e, um dia, me deu um estalo de mudar o tipo de confecção. Queria uma máquina de overloque, só que ela custava tão caro na época que tive que vender um carro para comprar”, lembra.
Com o dinheiro da restituição do Imposto de Renda do marido, ela, então, adquiriu material para efetivar a mudança. “Comprei quatro quilos de helanca, dois de malha, oito zíperes e, assim, comecei a loja.”
No início, fazia consertos de roupas e, a partir de um pedido, fez oito agasalhos escolares para alunos de um colégio da cidade. “Um dia, recebi a visita do diretor da escola, perguntando quem fazia o uniforme que era diferente da maioria dos alunos. Pensei que acharia ruim, mas ele disse que a roupa era muito benfeita e me convidou para fazer todos os uniformes. Aceitei e a escola comprou mais duas máquinas”, conta. Em dois anos de trabalho, conseguiu comprar a casa em que mora.
A qualidade das peças se espalhou e hoje ela atende 20 escolas particulares e também faz peças para instituições de ensino públicas, quando procurada por mães de alunos. Um kit básico, que contém duas camisetas, uma calça, uma blusa e um blusão, sai por R$ 170.
Na confecção, também são feitos reparos das peças. “Consertamos calças que rasgaram, por exemplo, colocamos joelheiras e cotoveleiras. Muitas vezes conserto uniformes de outras confecções e, no ano seguinte, os pais passam a comprar na loja, porque gostaram do serviço.”
No local são produzidos ainda camisetas e aventais para comércios e empresas. Sendo o carro-chefe o uniforme escolar, Aparecida ressalta a importância que o vestuário tem no dia a dia dos estudantes. “Não é só algo que economiza as demais roupas, mas é a identidade do aluno.”
Quitanda resiste no bairro há 31 anos
Tradição é mesmo o forte da Vila Dirce. Há 31 anos, tipo de comércio cada vez mais difícil de se encontrar por aí resiste no mesmo endereço: a quitanda.
Na Rua Francisco da Paz, 34, a Quitanda da Eliza dispõe de verduras, frutas e legumes frescos, além de muita simpatia da fundadora Naomi Nishyiama, 66 anos, e do sobrinho Thiago Hiroshi Nishyiama Ito, 28, a quem ela já nomeou como dono do local.
A origem do nome do estabelecimento é bastante curiosa. “Quando fiz crisma, o padre não queria me conceder o sacramento com o nome japonês e pediu que eu escolhesse outro. Eliza foi o que me veio à cabeça na hora. Quando abri a quitanda, resolvi colocar meu segundo nome nela”, conta Naomi, aos risos.
A instalação do comércio veio para auxiliar o orçamento em um momento de crise. “Meu marido trabalhava com caminhão, acabou não dando certo e perdemos toda a renda. Então meus cunhados me cederam uma garagem de propriedade deles, me emprestaram o que hoje equivale a R$ 60 e fui às feiras. Comprei um quilo de cada coisa. Meu pai montou as prateleiras e fui crescendo dia após dia”, recorda.
Com tantos anos de atividades, formou-se clientela fiel. “Venho aqui desde que a quitanda abriu”, comentou Airton Faria, 62, que, embora more no vizinho Parque São Vicente, vai sempre à quitanda pela qualidade e diversidade dos produtos oferecidos.
Nessa trajetória, Naomi acompanhou o crescimento de muitos moradores. “Pessoas que vinham aqui quando crianças e hoje casaram e moram longe, quando vêm visitar os familiares, passam para comprar alguma coisa. Acho maravilhoso esse contato, todos se tornam amigos.”
Com a chegada dos hipermercados, o espaço das tradicionais quitandas foi ficando limitado, fazendo com que, por um momento, Naomi pensasse em fechar o negócio. “Houve épocas difíceis, em que eu quis parar. Os grandes (comércios) entram, fica difícil para os pequenos se manterem. No entanto, seguimos firmes e, quem sabe, meu sobrinho toque a próxima geração da quitanda, por mais 30 anos.”
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