Economia Titulo Análise
Economia brasileira vive
momento de incoerência

De acordo com professor de Economia, baixas taxas de
investimento e desemprego não costumam caminhar juntas

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
13/12/2012 | 07:00
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Em meio às discussões sobre o quanto a economia brasileira está crescendo neste ano, surge uma dúvida sobre o rumo da engrenagem. "O cenário é relativamente curioso. Temos taxas baixas de desemprego e de investimento caminhando juntas", destaca o professor de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Giuliano Contento de Oliveira, que é doutorado em ciências econômicas e tem como uma de suas linhas de pesquisa a economia brasileira contemporânea. Para ele, em algum momento, o mercado de trabalho será prejudicado se houver manutenção do cenário atual.

O acadêmico sustenta sua argumentação na tese de que quanto maior a taxa de investimento, mais as empresas estão aumentando as suas produções. Isso porque elas ampliam a capacidade instalada. Desta maneira, normalmente, sobe a demanda de trabalho, o que deixa a taxa de desemprego em patamares baixos.

Na avaliação do especialista, existe um paradoxo no cenário econômico brasileiro. A taxa de desemprego baixa é, geralmente, também reflexo de crescimento vigoroso da atividade econômica de um país. No entanto, essa não é a imagem do Brasil atualmente. As previsões para a expansão do PIB (Produto Interno Bruto) deste ano caem a cada mês. Nesta semana, o boletim Focus do Banco Central, que reúne opinião de empresas de projeções e do mercado financeiro, teve decréscimo na estimativa de alta de 1,27% para 1,03%, quando no começo do ano as opiniões direcionavam para cerca de 3%.

MOTIVOS - Essa descrença surgiu depois que o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) publicou o PIB do terceiro trimestre deste ano, que atingiu R$ 1,09 trilhão e cresceu 0,6% contra os três meses anteriores e 0,9% sobre o mesmo período do ano passado. O governo federal estimava alta de até 1,5%. O resultado foi traduzido pelo mercado financeiro com queda, em duas semanas, de 0,5 ponto percentual nas expectativas de expansão da atividade econômica neste ano. Tendo em vista que essa variação será sobre cerca de R$ 4 trilhões, 0,5 ponto do crescimento representaria algo em torno de R$ 20 bilhões.

DEMANDA - Junto a isso, a atual política econômica nacional tem utilizado, com mais presença, ferramentas que estimulam o consumo para garantir a expansão. "Embora as políticas de incentivo para a demanda sejam necessárias para manter o crescimento da economia, elas não são mais suficientes no Brasil", avalia Oliveira. Para ele, esses resultados são mais do que motivos para que o governo olhe com mais zelo para o investimento, que é outro pilar de sustentação da elevação do PIB.

Mas como o empresariado ainda não se sente confiante com os atuais estímulos ao investimento do governo, não amplia a capacidade de produção. Somado ao possível resultado do PIB, a conclusão é que o desemprego está prestes a romper os limites. "Certamente em havendo uma não consistência de recuperação de investimento, fatalmente em algum momento pode refletir na taxa de desemprego", diz Oliveira.

EM NÚMEROS - A falta de estímulo - por parte do governo - e a desconfiança dos empresários foram apontadas no resultado do PIB do terceiro trimestre. Segundo o IBGE, a taxa de investimento foi de 18,7% do produto interno, contra 20% do mesmo período do ano anterior.

A formação bruta de capital fixo - que é o componente da taxa de investimento que mostra o quanto as empresas realizaram de aporte para aumentar sua capacidade de produção comprando máquinas e aumentando áreas de suas companhias - teve redução de 5,6% no terceiro trimestre.

O IBGE apresentou a avaliação de que o resultado refletiu a queda da "importação e da produção interna de máquinas e equipamentos, além da desaceleração da taxa de crescimento da construção civil".

 

 




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