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João Ubaldo, para sempre

O mundo literário nacional chora a partida de João Ubaldo Ribeiro...

Ademir Medici
22/07/2014 | 07:00
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O mundo literário nacional chora a partida de João Ubaldo Ribeiro. E entre os intelectuais contemporâneos, cada um tem uma história relacionada ao escritor baiano, autor de tantas obras importantes. Milton Saldanha, que foi editor-chefe do Diário, nos presenteia com uma crônica belíssima do seu Rio Grande do Sul – Érico Veríssimo e Rubem Braga também estão no texto. Para ilustrar a prosa do Milton Saldanha, o trabalho de Fernandes, publicado domingo na imperdível coluna Alfarrábios, de Evaldo Novelini, aqui no Diário.

O legado

Texto: Milton Saldanha

A primeira vez que ouvi o nome João Ubaldo Ribeiro foi em 1972, quando visitei o escritor Erico Verissimo, em sua gostosa casa, no bairro de Petrópolis, em Porto Alegre. Eu era repórter do jornal Folha da Manhã e precisava de um comentário do Erico sobre outro livro, Cogumelos de Outono, de Gladstone O. Mársico, isso mesmo, com esse nome, da cidade de Erechim, uma das pessoas mais simpáticas que conheci em minha vida, dotado de uma verve humorística incrível. Você lia o livro, da Editora Movimento, um tremendo tijolo, imenso, dando gargalhadas das cenas hilárias que ele descrevia. Certo dia recebi a inacreditável notícia que ele cometera suicídio, atirando-se do prédio onde morava. Foi um choque tremendo.

Era uma noite fria e fiquei duas horas conversando com Erico e sua mulher, Mafalda, num porão habitável muito aconchegante, com música clássica de fundo, tocava Mozart. Eles sentavam em cadeiras de balanço e Mafalda tricotava durante a conversa, mais ouvindo que falando. Estava lá também seu editor, o Bertazo, da antiga Editora Globo, tradicional e famosa no Sul. Bastaram aquelas duas horas para eu me encantar com a figura de Erico Verissimo, um ser humano de uma integridade moral absoluta.

No meio da conversa, ele citou o livro de um escritor então ainda desconhecido: Sargento Getúlio, do baiano João Ubaldo Ribeiro. Erico me contou que tinha recebido o livro, de cortesia, começou a ler por curiosidade e não largou mais, descobrindo ali uma preciosidade da literatura brasileira. Recomendou-me a obra e, já no dia seguinte, corri à Livraria do Globo e comprei. Ao escrever duas páginas na Folha da Manhã sobre o Cogumelos de Outono, e sobre a figura admirável do seu autor, aproveitei para incluir o comentário de Erico sobre Sargento Getúlio, estimulando a boa leitura. O livro é um marco. Tempos depois, começou o sucesso de João Ubaldo, ganhando nome nacional. O livro depois virou filme, com Lima Duarte fazendo o papel do sargento.

Por esse livro passei a considerar João Ubaldo um dos maiores romancistas brasileiros de todos os tempos. Mas, curiosamente, nunca gostei dele como cronista, achava pesado, e a crônica tem de ser leve.

São gêneros completamente diferentes. Na minha juventude devorei as crônicas de Rubem Braga, que era imbatível no gênero, nunca mais haverá outro igual. Foi o mestre de todos da minha geração que apreciavam as letras. Mas a aventura de fazer um romance é muito mais densa, além de perigosa. Porque a crônica, curta, variada e frequente, perecível como uma maçã, não precisa ser genial todos os dias. Nem dá. Mas o romance é único e precisa, senão é melhor nem existir.
João Ubaldo nos deixa esse legado e outras obras admiráveis, onde a questão social é o centro de tudo. Sua morte, aos 73 anos, tem um sentido de perda profunda para a literatura brasileira e para todos que pregam a decência e a justiça.

Da obra de Mário Mastrotti, no Diário,

Cubinho em: FOME. ANO: 1979.

Visite exposição na Biblioteca Central da UMESP. Até 31 de julho;

blog do cubinho: http://personagemcubinho.blogspot.com

Diário há 30 anos

Domingo, 22 de julho de 1984 – ano 27, nº 5577

Manchete – Leitão (de Abreu, ministro do gabinete civil): afastar Maluf (Paulo) sem uso de autoritarismo

Grande ABC – Água de bica, perigo constante.

São Bernardo – Receita para 1985 estimada em 230 bilhões de cruzeiros.

Em 22 de julho de...

1924 – Na revolução de São Paulo, a manchete do Estadão: a situação da praça; calma relativa na frente de combate; a ação das instituições filantrópicas.

1954 – Inaugurada, oficialmente, a Biblioteca Municipal de São Caetano, chamada Paul Harris, em homenagem ao fundador do Rotary Clube. A biblioteca já vinha funcionando desde março. Seu primeiro responsável foi José Pereira Martins.

1974 – Presidente do México, Luiz Echeverria, vem ao Grande ABC e visita o Sesi (na Estação Prefeito Saladino, em Santo André) e as indústrias Villares e Volkswagen.

Hoje

- Dia do Cantor Lírico

Santos do dia

- Maria Madalena. Natural de Magdala, na Galileia. Acompanhou Jesus em sua paixão, crucifixão e estava presente em seu sepultamento.

Foi testemunha do sepulcro vazio.

- Felipe Evans

- José da Palestina

Falecimentos:

Moacir Soares de Andrade

(Varginha, MG, 21-6-1933 - São Bernardo 5-7-2014)

Sr. Moacir foi um dos pioneiros do Jardim Ipê, em São Bernardo. Quando chegou ao bairro, ainda encontrou um cenário rural, com muitos japoneses trabalhando na terra. Guardou rara planta do bairro, pois além do seu trabalho em fábrica de móveis atuou como corretor, vendendo lotes no Ipê e em outros bairros próximos, como o Jardim Detroit e áreas do próprio bairro dos Casa – dos quais mantinha plantas originais também.

Entrevistamos o Sr. Moacir em 2011. E anotamos com ele: “Nego chegava aqui no Ipê e dizia: ‘Não vou comprar terreno no mato’, hoje todo mundo procura terreno e não tem.” Esta declaração está em nosso livro sobre os bairros de São Bernardo, edição de 2012.

Moacir Soares de Andrade partiu aos 81 anos. Está sepultado no Jardim da Colina. 




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