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Sindicatos pedem presente de Natal
Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
01/12/2011 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC encontrará hoje o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Junto com outras entidades sindicais como a dos químicos e dos bancários, os sindicalistas vão pedir pacotão de Natal às autoridades.

Eles querem a isenção do Imposto de Renda nos pagamentos de Participação nos Lucros e Resultados, ou remodelação na tabela de alíquotas do tributo que também incide sobre os salários, e redução da taxa básica de juros, a Selic.

Para isso, esperam a criação de medida provisória, que não exige aprovação do Congresso Nacional de imediato, e entra em vigor após sua publicação no Diário Oficial da União, com prazo de 60 dias e prorrogável por mais 60 dias. O Legislativo tem esse período, de quatro meses, para aprovar ou não a medida.

Os sindicalistas explicam que suas propostas teriam grande estímulo na economia. Sem o Leão comer até 27% das PLRs, a injeção de dinheiro na economia será maior e impulsionará o consumo, refletindo em maior produção e aumento de empregos. No entanto, questionando a política monetária do atual governo, pedindo queda na Selic, e reivindicando que a Receita Federal deixe de arrecadar boa quantia, o Sindicato dos Metalúrgicos vai contra o atual governo que nada mais é do que a continuidade do mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, ícone da entidade e do sindicalismo nacional.

Durante a passeata ocorrida ontem, com cerca de 12 mil metalúrgicos, na Via Anchieta, o nome da atual presidente, Dilma Rousseff, não foi citado. Mas Lula foi aclamado no evento. Para o professor de ciências políticas Marco Antônio Teixeira, que ministra aulas na Fundação Santo André e na Fundação Getulio Vargas, há, e ao mesmo tempo não, pressão contra o governo atual. "Eles estão preocupados em se proteger da crise internacional. Aumentando a produção é provável que não aumente o número de empregos, mas também não deve ocorrer o desemprego." O especialista completou que os sindicatos mostraram que estão atentos e vão mostrar força seja em governo de posição ou oposição. "No governo Lula eles também realizaram manifestações", acrescentou Teixeira.

Os dirigentes dos sindicatos dos Bancários de São Paulo, Metalúrgicos do ABC, Químicos de São Paulo e Metalúrgicos de São Paulo são os responsáveis por entregar a proposta do pacote ao Mantega. Eles também entregarão o documento para o presidente da Câmara Federal, Marco Maia.

No entanto, o presidente dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, deixou claro o objetivo do grupo. "Se a ideia for aceita no Congresso Nacional, terá que ser por meio de projeto de lei, que vai demorar pelo menos até o ano que vem para ser aprovado. Portanto, vamos pedir para que o ministro determine alterações na tabela do IR", disse o dirigente, sobre o carro de som durante a passeata, aos trabalhadores que lotavam a pista marginal sentido Capital da Via Anchieta.

"Vamos pedir que o ministro faça uma medida provisória, que é aprovada assim que publicada", afirmou Nobre. Ele criticou a atual cobrança do IR na PLR. "Esse valor é do lucro líquido das empresas, no qual já foram descontados os impostos. Portanto, não há motivo para nova cobrança no valor que os trabalhadores recebem."

Trabalhadores ficariam com R$ 95 milhões

A proposta que os sindicatos da região e de São Paulo, vinculados à Central Única dos Trabalhadores, vai entregar ao governo federal injetaria, no mínimo, mais R$ 95 milhões no Grande ABC.

Cálculos da subseção do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC mostram que a Receita Federal arrecada, em média, 21,4% do total de PLR distribuída para esses trabalhadores, ou R$ 107,2 milhões. Segundo estimativas do Dieese, neste ano o acumulado do bônus para os cerca de 108 mil metalúrgicos de São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra será de R$ 500 milhões. Isso sem contar a segunda parte do benefício em algumas empresas que ainda não fecharam os valores.

Caso as alíquotas propostas pelos sindicatos entrem em vigor, o Leão devoraria apenas 2,2% do montante, o equivalente a R$ 11,4 milhões.

MONTADORAS - Os 36,4 mil funcionários que atuam nas montadoras Volkswagen, Ford, Mercedes-Benz e Scania, empresas em que a entidade conquistou os melhores acordos do benefício, são donos da maior fatia da PLR da base do sindicato. Neste ano, o bônus desses trabalhadores vai atingir R$ 437 milhões. Esse valor é igual à média de R$ 12 mil para cada funcionário das empresas, que descontado o tributo, baixa para média de R$ 9.500.

CAPITAL - A presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira Leite, lembrou que R$ 1,6 bilhão devem ficar na mão das bases dos sindicatos da região e de São Paulo vinculados à CUT, cerca de 780 mil trabalhadores. "Hoje, o governo come R$ 1,8 bilhão da nossa PLR", estimou a dirigente.

 

Anchieta tem segundo manifesto no ano

Pela segunda vez no ano, os metalúrgicos da região ocuparam parte da pista, no sentido Capital, da Rodovia Anchieta, em São Bernardo. No dia 8 de julho, quase 15 mil trabalhadores entraram na via para chamar a atenção da sociedade para os impactos causados pela balança comercial desfavorável e à moeda brasileira muito valorizada frente ao dólar, o que desestimula à exportação.

Ontem, a pauta mudou e as reivindicações tinham como objetivo a isenção do Imposto de Renda nos bônus sobre os lucros das empresas. O tenente coronel do 6º Batalhão da Polícia Militar, José Belantoni Filho, estimou que 12 mil trabalhadores participaram da passeata. "E não houve ocorrências", afirmou.

O protesto terminou por volta das 9h45, no km 21 da Anchieta. Segundo o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, participaram apenas os trabalhadores Scania, Karmann Ghia e Volkswagen, por motivos estratégicos. "Os funcionários da Ford e da Mercedes-Benz já presenciaram a nossa última manifestação", argumentou.

FUTURO - Nobre disse que os sindicatos dos metalúrgicos, bancários e químicos da região e de São Paulo aumentarão a pressão caso o governo federal não se mostre receptivo às propostas. E afirmou que os protestos serão maiores, reunindo, no mínimo, todas as montadoras da base, o que provavelmente juntaria cerca de 20 mil trabalhadores. Como a expectativa do dirigente é positiva, ele não detalhou possíveis passeatas futuras.

PALESTINA - Até representantes do Oriente Médio estavam presente na manifestação de ontem. "Nós apoiamos essa causa. É uma luta essencial pelos direitos civis", declarou o dirigente dos Trabalhadores em Campo na Palestina, Taha Rifai. Ele participa de intercâmbio sindical entre seu país e o Brasil.

 




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