Cultura & Lazer Titulo Teatro
Bem-vindo ao quadrilátero

Cia Pessoal do Faroeste investe ideias e muito trabalho na
Boca do Lixo, onde eles exibem programação até fevereiro

Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
27/11/2012 | 07:25
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Já é antigo o diálogo da Cia de Teatro Pessoal do Faroeste com o Centro de São Paulo. É através da história do entorno onde vivem que eles pensam sobre a cidade e sobre a arte. Desde fevereiro ocupam espaço na Rua do Triunfo, no quadrilátero do pecado, também conhecido como Boca do Lixo - onde em áureos tempos conviviam prostitutas e cineastas de um dos mais criativos pólos cinematográficos do Brasil, que reuniu nomes como Carlos Reichenbach, Alfredo Sternheim e Walter Hugo Khouri.

Desde então, efetivamente, sonham em ocupar o espaço. Transformá-lo, ressucitá-lo no que era no passado, um profícuo ambiente onde a arte germinava. Entre tantos projetos, lançam hoje o 'Boca Livre'. Até fevereiro, a programação na sede da companhia será intensa. Teatro, música, palestra, debate e cinema estão na pauta da agenda. Três peças entram em cartaz. Duas delas já conhecidas: 'Camaleão - A Boca do Lixo' e 'Meio Dia do Fim', ambas com várias indicações em importantes prêmio nacionais. A terceira a ser levada à cena é 'Borboleta Azul'.

"Queremos trocar figurinhas e compartilhar o espaço para provocar um movimento cultural e artístico que traga diversidade de público e artistas para cá. Essa é uma área que, culturalmente, provocou muita coisa. Ela pode voltar a ser uma rua viva cheia de produtoras de cinema", conta o diretor Paulo Faria, que hoje, com a rua tomada de usuários de crack - aos domingos, ele conta, vê-se mais de 200 pessoas consumindo drogas no local -, pensa que a subvalorização do local já é mais do que um problema político. "É uma situação dantesca. Não é necessidade de plano político, mas de saúde pública. Nos sentimos incapazes, não temos como acessar esse lugar até o dia em que de fato essas pessoas serão tratadas."

Apesar de já ter recebido uma paulada, ele conta que a violência no local praticamente inexiste. "Eu fui assaltado outro dia nos Jardins, duas vezes em uma mesma quadra. A gente tem provado para o governo ser possível ter outra forma de abordagem no tratamento dessa questão. Passamos a ser cronistas da própria rua, é muito bacana esse olhar para a cidade que está invisível para muitos. Nosso próximo foco é entender como a marginalidade e a exclusão ganham os tons que têm aqui."

Para isso, além de investir no teatro, eles têm bolado projetos cinematográficos como longas-metragens e documentários. As palestras e debates que tomarão conta do espaço têm como foco o processo de montagem do próximo espetáculo do grupo, que estreará em maio e trará como pano de fundo a formação da Boca do Lixo na década de 1950.

A maioria das atrações é exibida no esquema pague quanto puder. Quem chega uma hora antes da apresentação escolhe quanto quer desembolsar pelo espetáculo. Se quiser reservar convite, sai por R$ 40. A programação completa pode ser acessada através do site www.pessoaldofaroeste.com.br. A sede, Luz do Faroeste, fica na Rua do Triunfo, 305, ao lado do Metrô Luz. O telefone é 3362-8883.

"Estamos nesse lugar hoje tentando retomar a história da marginalidade com a arte, da transgressão e da boêmia. A vocação dessa rua é o cinema, a arte. Vejo esse espaço assim como a Praça Roosevelt", completa Faria.

Peças em cartaz até 10 de fevereiro

Meio Dia Do Fim: 4º, às 21h30
Casal de latifundiários com quase 30 anos de casamento discute o amor e os problemas financeiros.

Borboleta Azul: 5ª, às 21h30
Drama ambientado em área rural mistura 'O Estrangeiro', de Camus, com Guimarães Rosa para contar história de mãe e filha que moram em pensão de uma cidade ameaçada pela construção de usina. 

Cine Camaleão, A Boca do Lixo: 6ª e sáb., às 21h30; e dom., às 19h30
Espetáculo revive os tempos da Boca do Lixo e conta a história de cantora que quer financiar um filme em que protagonize a cena de sexo e cineasta frustrado por ter que se render às pornochanchadas.




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