Cultura & Lazer Titulo Sétima arte
Cinema que faz pensar

Filmes de arte buscam espaço e identidade

Luís Felipe Soares
Do Diário do Grande ABC
27/11/2011 | 07:03
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A presença em massa das grandes produções norte-americanas nas salas tem diminuído cada vez mais o espaço do chamado cinema de arte. No ano que se comemoram 60 anos desde a abertura do prestigiado Cine Coral, primeiro bem-sucedido espaço de divulgação desse tipo de obra em São Paulo, o nicho briga para reencontrar sua identidade e se manter ativo na programação cultural.

As diferenças entre os ‘filmes comuns' com os ‘de arte' estão desde o tipo de história mais elaborada, o tipo de filmagem mais ousada e chega na predileção do uso inteligente da imagem além da ilustração do que é contado pelos atores. Os títulos comumente são chamados de ‘obras cabeça', nas quais as ideias são mais importantes do que a mera diversão.

A Reserva Cultural, em São Paulo, é um dos pontos mais respeitados na agenda dos cinéfilos. Segundo Jean Thomas Bernardini, proprietário do cinema, as escolhas pelo andamento da obra têm papel fundamental nos projetos. "A prioridade de um filme de arte é diferente e vai além do entretenimento e do lucro para os estúdios. Ele faz o espectador pensar", diz Bernardini, revelando que dos 1.000 títulos do gênero disponibilizados pelas distribuidoras, apenas 50 têm fôlego para chegar ao mercado brasileiro.

Talvez os mais populares representantes do estilo neste ano tenham sido 'Meia-Noite em Paris', de Woody Allen, e 'A Pele Que Habito', do Pedro Almodóvar. Eles reúnem características dos dois mundos: tem publicidade graças à força de sua distribuidora (e nome de seus diretores) e trazem temas arrojados e que estimulam a reflexão. A seleção de materiais também deve ser cuidadosa, uma vez que a opinião especializada e os comentários entre cinéfilos são essenciais para a boa recepção dos filmes. "Ao contrário dos blockbusters, onde a crítica é secundária para seu sucesso, aqui não dá para colocar qualquer coisa em cartaz", revela Bernardini.

IDENTIDADE
Um dos principais problemas atualmente é a generalização do termo ‘cinema de arte'. Para o grande público, acostumado às atrações que lotam os complexos dos shoppings, qualquer coisa produzida dos Estados Unidos passa a ganhar esse status. "Esse termo já não diz absolutamente nada. Criou-se uma resistência ao grande produto norte-americano e esses filmes ‘estrangeiros' foram colocados no mesmo grupo. É uma grife de mercado", explica Francis Vogner dos Reis, crítico de cinema da revista Cinética (www.revistacinetica.com.br). "O grande filme é sempre uma exceção."

A falta de discernimento entre as obras e a definição do que se encaixa no estilo acaba por legitimar alguns conceitos. "Clichês do cinema francês, por exemplo, agora caracterizam toda a produção do país e hoje tudo é meio esquemático." Por esse ponto, a comédia romântica 'Os Nomes do Amor', em pré-estreia na Capital (mais informações na página 7) não pode ocupar a mesma lacuna ao lado de pérolas da sétima arte francesa, casos de 'O Acossado', de Claude Chabrol.

A grife criada por trás de certos cineastas conhecidos pelo trabalho cinematográfico já chama a atenção. Para Vogner, "o mais interessante acaba sendo os autores e não mais o produto cinematográfico". Nomes como Jean-Luc Godard, Werner Herzog e Almodóvar são capazes de mover os espectadores mais antenados às salas.

A desorganização do cinema faz com que a arte seja deixada de lado.

Tentando se manter vivo

A dificuldade dos cinéfilos é encontrar espaços que exibam filmes de arte. A situação se complica ao se analisar o cenário do Grande ABC, que não conta com salas específicas.

Essa cultura se mantêm viva na região nos cineclubes. Apesar de não ficarem cheios em todas as exibições, sempre disponibilizam possibilidades. "Quem gosta de cinema de arte precisa cavar lugares", afirma Diaulas Ullysses, responsável pelo Cine Eldorado, de Diadema. Sua programação busca separar exibições às quartas-feiras à noite para programação longe dos cinemões.

Outra possibilidade apontada para modificar o cenário seria a abertura de salas nos grandes multiplex para obras do gênero. Sessões ou dias específicos poderiam suprir a demanda existente e ganhariam pontos pela comodidade desses centros de entretenimento.

A implantação da cultura cinematográfica nas escolas também é levantada. Segundo o crítico de cinema Francis Vogner dos Reis, "hoje, principalmente os jovens, são esmagados por enorme quantidade de imagens e não sabem como lê-las. Acho que falta esse tipo de reflexão".




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