Nas eleições presidenciais de 1989, o Grande ABC escolheu Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No segundo turno do pleito, o petista ganhou nas sete cidades, que preteriram o presidente eleito Fernando Collor de Mello (PRN). Na região, Lula teve 654,9 mil votos e seu adversário angariou 469 mil.

As votações mais expressivas do ‘Caçador de Marajás' ocorreram em São Bernardo, onde ele obteve 41% dos votos. Em São Caetano houve o placar mais apertado da região: diferença de apenas 2.435 votos.

Em Santo André, o petista obteve 56,3% dos votos válidos (214,8 mil sufrágios), sendo que Collor conquistou 37,6% dos eleitores (143,5 mil).

Em Diadema a diferença também foi grande. Lula foi a opção para 93,6 mil (56%) e Collor teve 65,5 mil sufrágios (38,2%). Em Mauá, o petista registrou o cenário mais favorável da região e registrou 60,5% dos votos (90,3 mil) diante de 34,2% (51 mil sufrágios) dos registrados para Collor.

Mais da metade dos eleitores de Ribeirão escolheram Lula como opção no pleito. Em Rio Grande da Serra, Lula venceu apertado, com 50,8%.

Collor era apontado como símbolo da renovação brasileira. Foi o presidente eleito mais jovem do Brasil, aos 40 anos, tinha figura de bom moço, com cabelo cortado e terno bem alinhado. "O Collor foi híbrido. Trazia aspectos da política moderna, de renovação e forma do antigo, do coronelismo, pois ele sempre foi sustentado no Estado de Alagoas", afirmou Marcos Tarcísio Florindo, professor da FESP-SP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).

Para chegar à Presidência, Collor enfrentou no segundo turno das eleições um sindicalista nascido em Garanhuns, no Pernambuco, mas revelado politicamente no Grande ABC. Figura de barba avantajada, que dispensava vestimentas mais requintadas e com ideais socialistas.

Dez anos depois do impeachment de Collor, o mesmo Brasil que rechaçou o ex-comandante do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC o elegia para comandar o Palácio do Planalto. A imagem estava mais alinhada, com barba e cabelos grisalhos, bem aparados. Já nem tanto de esquerda, pois firmara alianças com lideranças de direita.

Santo André e São Bernardo protagonizaram manifestos

O Grande ABC foi palco de manifestações que pediam o impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Dois protestos uniram as sete cidades da região e se transformaram em marcos históricos.

A organização das passeatas ficava sob responsabilidade dos sindicatos das sete cidades, da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e da UNE (União Nacional dos Estudantes). A primeira passeata, em 27 de agosto, reuniu funcionários de diversas metalúrgicas da região, com presença de 40 mil pessoas no Paço de São Bernardo.

O ato político foi chamado "Balança que ele cai" e contou com a participação dos prefeitos petistas Maurício Soares (São Bernardo), Celso Daniel (Santo André), José Augusto da Silva Ramos (Diadema) e Luiz Erundina (São Paulo).

Os manifestantes levaram faixas pretas que traziam mensagens de repúdio a Collor. Atores se transformaram em sósias do ex-presidente e de Rosane Collor, primeira-dama. O casal foi colocado em uma cela, que ficou em cima de uma perua estacionada em frente ao palco onde os discursos foram realizados.

O Paço de Santo André também protagonizou manifestações. Além de protestos, funcionários públicos da cidade colocaram no prédio da Prefeitura duas faixas pretas pedindo a saída de Collor do cargo. A iniciativa foi criticada por algumas organizações civis, mas defendida por Celso Daniel, chefe do Executivo na época. O petista alegou que a ação demonstrava o anseio da sociedade.

Luiz Inácio Lula da Silva, que disputou a Presidência contra Collor, em 1989, esteve em Santo André, como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, para participar do Ato pela Política. Na época, o petista ressaltou que confiava na queda do seu ex-adversário, pois a votação no Congresso para abertura do processo teria êxito. CT