Economia Titulo Balança comercial
Indústria da região perde espaço nas exportações

Vendas ao Exterior caem 16% neste ano e
não ajudam empresas a escoar produção

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
30/06/2014 | 07:10
Compartilhar notícia
Divulgação


Em meio ao cenário de vendas retraídas no mercado interno, em que montadoras instaladas no Grande ABC adotaram instrumentos como férias coletivas e licença remunerada para ajustar estoques à demanda mais fraca, as exportações da região não têm servido como válvula de escape para escoar a produção. Pelo contrário, nos cinco primeiros meses do ano, a região somou US$ 2,19 bilhões em vendas externas, 16% menos que no mesmo período de 2013, de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,

Um dos problemas ainda é a Argentina, que ao longo do ano impôs barreiras comerciais à entrada de produtos brasileiros e há poucos dias mostra dificuldades para pagar sua dívida externa. Principal destino comercial das empresas da região, o mercado vizinho representa 44% das vendas ao Exterior de São Bernardo. E o município registra retração de 20% no volume comercializado para lá neste ano. Parte disso se deve à redução nos embarques de veículos: o principal item da pauta são-bernardense é o chassi de ônibus, que teve redução de 6% no faturamento com exportações de janeiro a maio. São Caetano, onde fica a sede da General Motors do Brasil, registra recuo de 51% nas encomendas para a Argentina – destino que representa 78% do total embarcado pela cidade. E entre os itens exportados pelo município, o principal são veículos comerciais leves, que registram diminuição de 54% na receita com encomendas ao mercado internacional.

Para a professora de Economia da UFABC (Universidade Federal do ABC) Cristina Reis, negociações entre os governos do Brasil e do país vizinho deram a perspectiva de melhora nas relações bilaterais, embora ela salienta que a situação está longe de estar resolvida.

Um dos problemas é o possível calote da dívida pública, por parte do governo da presidente Cristina Kirchner, que traz apreensão entre os empresários da região. Na avaliação do vice-diretor da regional do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de São Caetano, William Pesinato, o cenário argentino segue complicado, mas, ele vê entraves dentro do Brasil, que tiram a competitividade da indústria nacional, como a elevação de juros, altos impostos e custos elevados de mão de obra. “Não temos preço lá fora”, diz.

IMPORTAÇÕES - Ao mesmo tempo em que as exportações mostram retração, as importações da região também intensificaram o ritmo de queda. De janeiro a abril, as compras de itens do Exterior tiveram recuo de 12% em relação a igual período de 2013 e, nos cinco primeiros meses de 2014, a redução chegou a 14%.

A professora da UFABC explica que isso se deve, sobretudo, à fraca atividade econômica do País. Pesinato acrescenta: “Certamente não estamos substituindo as importações pela produção local, o consumo é que está menor”, salienta.

EXCEÇÃO - Na contramão de grande parte das empresas da região, a Termomecanica, de São Bernardo, está ampliando suas vendas ao Exterior nos últimos quatro anos. A expansão é expressiva. Em 2010, as exportações representavam apenas 2,5% do volume total fabricado, percentual que saltou para 14% em 2013 e deve chegar a 20% neste ano, com crescimento de cerca de 30% nas encomendas em relação a 2013.

Líder no mercado nacional de metais não ferrosos (cobre e suas ligas), a companhia refez, há três anos, sua estratégia de atuação, com o reposicionamento da marca lá fora. “Até então, a empresa não tinha perfil exportador, tradicionamente éramos voltados ao mercado interno”, diz o gerente de vendas Marcelo Silva.

A mudança foi impulsionada, em 2011, com a aquisição da chilena Cembrass, que detinha fábricas de barras e perfis de cobre, com unidades no Chile e na Argentina. Essa empresa passou a ser usada como canal de distribuição de produtos da Termomecanica na América Latina.

Depois, em 2012, foi iniciado investimento (orçado em R$ 180 milhões), que teve como foco a modernização do parque fabril de laminados e a duplicação da capacidade fabril de tubos em São Bernardo, com a montagem de unidade fabril de 400 a 500 toneladas/mês de produção.

Silva destaca que exportar ajuda a escoar parte do volume fabricado, nesse cenário atual, em que a economia interna anda em ritmo lento. Ele acrescenta que as encomendas ao Exterior, embora não ofereçam margens de lucro elevadas, permitem reduzir custos fixos. “Não vendemos com prejuízo”, destaca.

Além disso, o gerente assinala que, ao contar com o apoio das subsidiárias, a companhia, que hoje tem quadro de 2.000 funcionários na região, tem estragégia agressiva que visa estar mais próxima dos clientes no Exterior.

Para ampliar a presença no Exterior, a empresa aposta, por exemplo, no mercado chileno de tubos de cobre para a área de refrigeração. Esse segmento atualmente responde por 15% do faturamento e representa 11% do volume total exportado pela fabricante.

Silva conta que as vendas àquele país têm bom potencial de crescimento. “Havia concorrente forte naquele mercado que, no fim de 2013, retirou operação do Chile e o mercado ficou carente (de opções)”, diz. Recentemente a companhia participou da Expo Frio Calor Chile 2014, mais importante evento da indústria de climatização e refrigeração da América do Sul. O país, junto com Colômbia, Argentina e Venezuela, principalmente, estão no foco da empresa, para crescer de 20% em vendas de tubos de cobre para a construção civil (incluindo itens para ar-condicionado e instalação hidráulica) neste ano.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;