Cultura & Lazer Titulo Música
Pitty segue
forte e renovada

Cantora baiana lança álbum ‘Sete Vidas’
e abusa sem medo das misturas sonoras

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
09/06/2014 | 08:18
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Divulgação


“Acho que a bagagem vai aumentando, o repertório de referências e a gente vai aprendendo cada vez mais como chegar num resultado de sonoridade, de escrita. O caminho é longo.” Já faz tempo que canções de peso como Admirável Chip Novo e Teto de Vidro ganharam os alto-falantes, mais de uma década atrás. Ambas são do disco de estreia da cantora baiana Pitty.

Sua música segue firme, forte e, principalmente, renovada. E não há como não admitir que seu poder de composição somente aumentou, assim como sua maturidade musical. Tudo está estampado claramente em Sete Vidas (Deck, R$ 29,90 em média). Há também uma versão em vinil (R$ 79,90).

A produção é assinada por Rafael Ramos. A mixagem é do inglês Tim Palmer, que já trabalhou com artistas como U2, Pearl Jam, David Bowie, Robert Plant e Ozzy Osbourne.

Seu novo título de estúdio, o primeiro desde Chiaroscuro, lançado há cinco anos, chega às prateleiras ilustrado por dez composições, todas assinadas pela artista. Em Boca Aberta, Deixa Ela Entrar e Pequena Morte, tem parceria com Martin. Já a faixa Olho Calmo é de autoria da banda toda.

Ainda que pesado, Sete Vidas mostra uma Pitty abusada, se esbaldando na mistura de sonoridades, em canções com coro, efeitos e piano, mérito de sua vontade de se colocar à prova e curiosidade por descobrir. Prova dessa experimentação é a canção Lado de Lá. O tema que fala da dor da despedida é cercado por psicodelia, diversos detalhes de cordas e calmaria na voz.

Ela conta, em entrevista ao Diário, que esse resultado não foi atingido intencionalmente. “Tem a parte de propósito, que é explorar outras vertentes e psicodelia, mas também tem o acaso das coisas que vão acontecendo intuitivamente ali, enquanto se está gravando”, afirma.

Sete Vidas foge à regra dos discos atuais. Ele foi registrado ao vivo no estúdio, com todos os instrumentos ligados ao mesmo tempo. “Gosto muito desse tipo de gravação, acho que traz uma sujeira e visceralidade essenciais para o som. E depois, construir as camadas em cima desse alicerce é muito mais prazeroso”, conta Pitty.

Daí o fato de o álbum ter sonoridade orgânica. E a compositora consegue isso sem que a música soe envelhecida. Ao contrário: Sete Vidas consegue misturar essa essência com uma sonoridade moderna. “A gente gravou as bases ao vivo, e isso traz esse ‘orgânico’ e as camadas de overdubs em cima dessa base, e a finalização com a mixagem feita pelo Tim Palmer acrescenta essa outra parte”, explica.

Pitty ousa, vai além do microfone e assume guitarra, piano, extintor, algumas percussões e vários tipos de teclado, como Hammond, Moog, Holds e Farfisa.

Já nas letras, ela fala de recomeço, de renovação, caso de Serpente, com frases como “Chega dessa pele/É hora de trocar/Por baixo ainda é serpente/E devora a cauda pra recomeçar”. A cantora conta que retomadas são necessárias. “Umas horas mais que as outras. Especialmente em momentos muito conturbados. É aí mesmo que temos que encontrar aquela mola propulsora e transformar o ruim em bom. Resiliência é a palavra.” E é justamente nesse tema, Serpente, que o trabalho mais surpreende. Ritmos africanos e guitarras se misturam com naturalidade.

Pitty ainda questiona o materialismo, fala de insatisfação e diz que o que a incomoda são “algumas mesmas coisas de sempre e outras novas. Essa insatisfação tem a ver com busca, com existencialismo. Mas eu expurgo tudo nas músicas e fico de boa. Agora, por exemplo, é um momento que eu estou muito mais paciente, tolerante, tranquila”, diz.

Se a música serve para divertir, serve também para refletir. “Acho que acaba funcionando assim também, embora esse não seja necessariamente meu impulso inicial. É algo particular, uma reflexão pessoal, mas que ganha vida e se completa quando se encontra com o inconsciente coletivo.”  




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