Domingo, o que não parecia lógico aconteceu...
Domingo, o que não parecia lógico aconteceu. O imponderável venceu o óbvio, fazendo com que a vibração de torcedores dos grandes eliminados paulistas tomasse as ruas e as redes sociais. Tais celebrações vinham carregadas de um misto de ‘tiração’ de onda do adversário derrotado, somada a uma satisfação pela vitória do mais fraco, acrescida por uma impressão de redenção do próprio time, agora não mais uma vítima exclusiva da surpresa proveniente das estripulias dos clubes caipiras.
O futebol paulista às vésperas da Copa do Mundo reverbera os sinais de novos tempos dentro e fora dos gramados, deixando claro para apaixonados e indiferentes ao esporte que coisas novas estão acontecendo e muito ainda está por vir. Assim, mesmo em espaços como este, cujo assunto passa longe das arquibancadas, traves, bolas, jogadores e chuteiras, não dá para ficar indiferente ao tema. Afinal de contas, no País do futebol, a vida imita os campos e vice-versa.
Aí você pode dizer: ‘Mas calma lá, não é a primeira vez que um clube pequeno apronta para cima de um grande’. Realmente, isso é verdade, não precisamos vasculhar muito a memória para lembrarmos do Santo André sendo campeão da Copa do Brasil em cima do Flamengo dentro do Maracanã, ou mesmo a Inter de Limeira vencendo o mesmo paulistão há 18 anos, depois de derrotar o Palmeiras dentro da Capital.
Agora, no entanto, a exceção parece estar se tornando regra. Vemos a Libertadores da América com dois clubes bolivianos avançando para as oitavas de final, temos o Ituano campeão paulista depois de eliminar o Corinthians, vencer São Paulo, Palmeiras e Santos, isso sem falar do milionário Barcelona sendo eliminado na Champions League, pelo competente Atlético de Madrid.
Gestão planejada, profissionalismo na preparação física e técnica e altos investimentos descentralizados podem ser algumas das explicações para esse grande desfile de zebras pelo mundo. Ou ainda o quase desconhecido Marcelo Oliveira, que chegou ao título de campeão brasileiro de 2013 como técnico do Cruzeiro, de Minas Gerais, afirmando que a crença no trabalho contínuo e na preparação de uma equipe são elementos que não podem ser deixados de lado por quem quer vencer.
Pequenas start ups de tecnologia, de moda, gastronomia, turismo e serviços diversos confirmam a regra fora das quatro linhas, reafirmando a tônica de que o futebol espelha a sociedade de seu tempo. A dois meses para a Copa do Mundo, ainda aposto no óbvio, mesmo contrariando meu instinto de torcedor. Acredito no título da Alemanha, porém não ficarei surpreso com a vitória de um trabalho mais modesto, porém não menos disciplinado e bem trabalhado. Depois do Ituano, vale à pena pensar um pouco mais antes de apostar, seja na loteria esportiva, ou mesmo naquela atividade profissional que parece óbvia simplesmente porque sempre deu certo. A história de qualquer negócio ou equipe deve sim sempre ser considerada, contudo, foi bom sermos lembrados pela turma de Itu, a cidade em que dizem que tudo é grande, sobre um velho provérbio futebolístico que diz, ‘só camisa não ganha jogo’.
* Carlos Ferrari é presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), faz parte da diretoria executiva da ONCB (Organização Nacional de Cegos do Brasil) e é atual integrante do CNS (Conselho Nacional de Saúde).
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