Política Titulo Uso do solo
Secretário não quer descaracterizar Luos

Se houver emendas radicais, chefe de Planejamento Urbano de Mauá ameaça retirar lei sobre construção

Gustavo Pinchiaro
Do Diário do Grande ABC
22/02/2014 | 07:28
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Frente aos questionamentos e entraves colocados pelos vereadores de Mauá para votar a Luos (Lei de Uso e Ocupação do Solo), o secretário de Planejamento Urbano, José Afonso Pereira, disse que vai endurecer o debate caso a Câmara apresente emendas que descaracterizem a proposta. O projeto de lei deve voltar a ser discutido na Câmara na quinta-feira, desta vez com presença de atores da construção civil.

“O mercado quer o seguinte: aumentar o potencial construtivo e reduzir o custo da outorga onerosa. Querem mexer no fator de planejamento que define o valor que será cobrado de outorga onerosa. Não podemos aceitar isso. Não vai resolver. Então, é melhor retirar o instrumento e ficar como está”, disse Afonso Pereira.

A proposta do prefeito Donisete Braga (PT) prevê que novos projetos tenham área construída em 1,5 e duas vezes a área do terreno. “Tem gente propondo que esse fator seja de seis vezes”, destacou o secretário. Para quem ultrapassar o limite, a Prefeitura quer cobrar outorga onerosa, que é calculada de maneira escalonada em três níveis, levando em conta o valor venal do terreno. Para 50 metros quadrados extrapolados, a taxa é de 0,25 vez; para 100 metros quadrados, fica em 0,5 vez; e para 150 metros quadrados ou mais, em 0,75 vez. “O mercado quer diminuir esse valor em 30%. Quem pagaria R$ 5.000 passaria para R$ 500, por exemplo”, contrapôs.

De acordo com Afonso Pereira, atualmente o potencial construtivo é calculado conforme a densidade demográfica do local e chegaria, no máximo, a quatro vezes a medida do terreno. Não há taxa de outorga onerosa. “Se descaracterizar o instrumento, melhor ficar assim”, reforçou.

Outro ponto contestado na Luos é a taxa de ocupação do terreno, prevista em 70%. “O mercado queria que a taxa fosse de 80% e nós batemos o pé. Se tiver um terreno de 100 metros quadrados, poderá construir 70 metros quadrados. Os outros 30% ficam reservados para o quintal, garagem, para arejar o local. O cidadão mora em casa e não na rua. Estamos pensando na qualidade de vida da população”, justificou Afonso Pereira.

A Luos também prevê que as construções tenham recuo entre cinco e dez metros no terreno, espaço que poderá ter intervenções pequenas, como de coberturas. O ponto também é contestado com o argumento de que em alguns casos, como em áreas de esquina, o recuo pode inviabilizar totalmente a construção. “Nesse caso, nós aceitamos a emenda e o recuo poderá ser só em um dos lados do terreno”, disse o secretário.

O projeto foi explicado por Afonso Pereira aos vereadores duas vezes. A última foi na segunda-feira, quando apenas oito dos 23 parlamentares comparecerem ao encontro.

Proposta visa organizar crescimento imobiliário

O secretário de Planejamento Urbano de Mauá, José Afonso Pereira, disse que a aprovação da lei que institui a Luos (Lei de Uso e Ocupação do Solo) garantiria a organização do crescimento imobiliário no município. “O pessoal reclama que precisa construir mais, mas nós estamos buscando um conforto ambiental.”

A argumentação é de que a regulação embasada na outorga onerosa vai garantir recursos ao Fundo Municipal de Habitação, verba que será investida na ampliação da infraestrutura da cidade. Além disso, o projeto de lei organiza a cidade em zonas com regras específicas para construção. As regiões do Sertãozinho e o Capuava, por exemplo, serão exclusivamente industriais. Haverá também zonas de preservação ambiental e ocupação especial em locais que ainda preservam matas nativas.

“Teremos um porto seco ali no Sertãozinho, o local tem potencial para sediar indústrias. Também vamos bloquear o uso de empresas de logística que não contribuem com o município. O pagamento de outorga onerosa é também educativo. A população em geral pode acabar pagando a taxa de excedente em até 50 metros quadrados, que é de 0,25 vez o valor do terreno. É até educativo, está investindo na cidade. Quem vai pagar mais são os projetos multirresidenciais”, explicou o secretário.

A proposta também “grava” áreas de interesse social. “Alguns projetos poderão ter 50% de moradias populares que atendam as pessoas já cadastradas em Mauá. Os outros 50% poderão ser explorados para construções de padrão mais alto e garantir a valorização de mercado. Também deixamos áreas em locais que têm vocação para construção de empreendimentos melhores. É importante fixar a classe média na cidade”, comentou.

Afonso Pereira destacou que a discussão da Luos tem sido classificada de maneira errônea como código de obras. A nomeação é usada por vereadores e até secretários do Paço. “O código de obras regulamenta normas de construção internas, o que é totalmente diferente da Luos”, declarou.
 




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