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Décimo terceiro salário vai pagar as dívidas de 62%

Principais débitos a serem liquidados são os mais caros como cartão de crédito e cheque especial

Pedro Souza
do Diário do Grande ABC
12/11/2013 | 07:07
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O endividamento das famílias está maior a cada mês. Segundo dados do BC (Banco Central), em média 45,36% da renda das famílias estavam comprometidos com dívidas financeiras em agosto, último dado disponível. Este é o maior percentual da série histórica da autoridade monetária, iniciada em janeiro de 2005. No entanto, pesquisa publicada ontem revela que os consumidores estão cientes da situação e tentando eliminar com o 13º salário, principalmente os débitos mais caros, como o cheque especial e o rotativo do cartão de crédito.

O benefício de fim de ano, praticamente um presente de Natal para os trabalhadores celetistas, terá a primeira parcela creditada até o dia 30. O pagamento é de metade do valor do salário do trabalhador. E, de acordo com a Pesquisa 2013 Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade) de Utilização do 13º Salário, muitos querem utilizá-los para deixar as dores de cabeça das cobranças de lado.

Segundo o levantamento, 62% dos consumidores pretendem utilizar o 13º para o pagamento de dívidas já contraídas. Esse percentual apresentou elevação de um ponto percentual em relação à pesquisa do ano passado. E apenas 14% dos entrevistados pela Anefac informaram que têm a intenção de gastar o dinheiro com a compra de parte dos presentes de Natal. Em relação à pesquisa de 2012, houve redução de dois pontos percentuais.

“Passamos por um ano muito difícil. A inflação está cada vez mais alta e corroendo o poder de compra. E, diferente do ano passado, as taxas de juros estão subindo. Junto ao cenário de incertezas para o ano que vem, o consumidor está tentando se livrar das dívidas”, avaliou o diretor executivo de estudos e pesquisas econômicas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira.

A pizzaiola andreense Gabriela Maria Cruz, 54 anos, é uma das pessoas que estão preocupadas com o futuro financeiro. “Tem ano que eu dou presente para todos os netos. Mas agora vou guardar (o 13º) para mim. Ninguem sabe o dia de amanhã”, explicou. Ela pretende deixar tanto a primeira quanto a segunda parcelas do benefício na conta-corrente ou aplicar na poupança.

INFLAÇÃO - Em outubro, último resultado divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a inflação oficial das famílias acumulou 5,84% em 12 meses. Esse é o percentual médio de alta dos preços aos consumidores. Em 2012, no décimo mês, quando o cenário econômico era visto como mais positivo às famílias, como argumenta Oliveira, o indicador alcançava 5,45%.

Na prática, o poder de compra médio das famílias está menor neste ano em relação ao ano passado, disse o professor de Economia da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), Eric Brasil, que também é coordenador do núcleo de pesquisas Ifecap. Exemplo disso é que será necessário maior percentual do rendimento mensal para comprar um produto hoje, do que 12 meses atrás.

“Mas, é preciso lembrar que (o IPCA) é uma ponderação média. Houve famílias que enfrentaram inflação bem maior, assim como outras tiveram menor média de aumento nos preços”, acrescentou Brasil.

O crédito também está mais caro neste ano. Enquanto em outubro de 2012 a Selic, que é a taxa básica de juros nacional, era de 7,25% ao ano, no mês passado já estava em 9,5%.

QUAIS PRIMEIRO - Segundo a pesquisa da Anefac, 41% dos endividados pretendem liquidar as parcelas em atraso do cartão de crédito. Em outubro do ano passado esse percentual era de 40%.

O office boy André Luiz Menezes Martins, 23, está incluído neste grupo. Não tem dúvidas sobre o destino do 13º salário. Empregado em Santo André, mas residente em São Paulo, ele pretende apagar da vida as contas com o cartão de crédito. “Estou para pagar o cartão há três anos. Mas sempre vou adiando. Neste ano eu pago”, garantiu Martins. Ele brincou que só irá viajar no fim do ano se a mãe ou a namorada colaborasse pagando as suas despesas. E disse que prefere liquidar o cartão porque é, dentre as suas contas, o dono das maiores taxas de juros.

Apenas 4% dos consumidores querem poupar o benefício

A Pesquisa 2013 Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade) de Utilização Do 13º Salário revelou que apenas 4% dos consumidores pretendem guardar o que sobrar do dinheiro do benefício.

No entanto, o resultado é superior em relação ao ano passado. Em outubro de 2012, 3% dos consumidores tinham a intenção de aplicar as sobras do 13º salário.

A assistente financeira e estudante de Administração Michele Alves, 26 anos, é acostumada com esta prática. Ela revelou que guarda, todo ano, pelo menos 50% do seu 13º salário. Moradora de São Paulo, e empregada em Santo André, ela disse que neste ano não será diferente. Mas, desta vez, há um objetivo.

“Estou terminando a minha faculdade. As contas vão diminuir um pouco. Então vou guardar o 13º para contribuir no pagamento da entrada de um carro”, explicou Michele.

Por outro lado, mesmo fora do grupo dos endividados, a andreense e auxiliar de escritório Dayane Costa, 29, contou que ainda não tem um objetivo para o dinheiro. “Sabe que eu nem pensei como eu vou utilizar o 13º”, brincou. No entanto, como ela é acostumada a viajar, disse que esse é um potencial destino para o dinheiro.

Endividamento ensina de forma difícil a se controlar

Infelizmente a cultura do brasileiro não é de poupar renda para as emergências, mas, de consumir. E, de qualquer maneira, o alto endividamento terá papel educativo para as famílias, avalia o diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira. “Acredito que essas dificuldades todas, ainda mais em um momento difícil, (<CF51>as pessoas vão pensar</CF>) como eu não economizei, estou pagando por isso. No fim das contas servirá como uma lição. E pela dor e dificuldade, os consumidores aprendem a lidar melhor com o dinheiro”, opinou Oliveira.

VALORES - Neste ano, subiu o percentual de consumidores que pretendem gastar até R$ 500 no Natal, de 39% para 40%, e caiu para valores entre R$ 501 e R$ 1.000, de 13% para 11%.
 




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