Brickmann Titulo
O exemplo da China

Duas empresas estatais chinesas se associaram a três gigantes petrolíferas, a Shell anglo-holandesa, a Total francesa e a Petrobras, e ganharam o campo de Libra, no pré-sal.

Carlos Brickmann
23/10/2013 | 07:37
Compartilhar notícia


 Duas empresas estatais chinesas se associaram a três gigantes petrolíferas, a Shell anglo-holandesa, a Total francesa e a Petrobras, e ganharam o campo de Libra, no pré-sal. Quem diria, há 30 anos, que a China teria cacife para isso?

Mas deixemos o pré-sal de lado, que todos os meios de comunicação só falam nele. Falemos da Chery – uma produtora chinesa de automóveis, que está montando sua fábrica em Jacareí, SP. Em vez de comprar as vigas de aço no Brasil, a Chery comprou-as na China. Foram três viagens de navio, de 30 dias; 150 caminhões fretados para levar as vigas de Santos a Jacareí; batedores para a subida da Serra do Mar. E ainda assim, com impostos de importação e tudo, o material saiu mais barato do que se tivesse sido comprado no Brasil. Aliás, de certa forma, as vigas de aço são coisa nossa: boa parte do minério de ferro que os chineses usam em suas usinas de aço viajou em trens e navios das minas brasileiras até a China. O minério viajou para ser transformado em aço, o aço viaja para virar fábrica.

É muito? Não, é pouco: de acordo com a Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), o Brasil importou US$ 5 bilhões de tecidos chineses entre janeiro e setembro. Algo inovador, revolucionário? Não: algodão, poliéster, viscose, lycra, náilon, aquilo que conhecemos e sabemos fazer. Sabemos mas não fazemos, por questão de custo; os chineses fazem, colocam lá em trens e caminhões, em navios, de novo em trens e caminhões, arcam com os impostos e sai mais barato. Não terá chegado a hora de aprender alguma coisa com a China?

 

Le franglais de Madame

Uma pequena dúvida: não havia ninguém por perto que pudesse contar à presidente Dilma que a empresa Total é francesa e seu nome é oxítono? Igualzinho, aliás, ao que se diria em português. Chamar uma firma francesa à moda norte-americana, “Tôutal”, não é proibido – mas é como chamar a Vale de “Veil”. E os franceses, afinal de contas sócios da Petrobras, certamente não devem ter gostado.

 

A palavra como ela não é

No discurso pós-leilão, em tom justificadamente eufórico, a presidente Dilma garantiu que o governo não privatizou o campo petrolífero de Libra. Pois é: o petróleo foi vendido a um consórcio integrado por duas empresas privadas, a Shell e a Total, uma empresa de capital aberto em que o governo é majoritário, a Petrobras, e duas estatais chinesas. O consórcio vai pagar determinada quantia fixa, determinada porcentagem sobre o petróleo extraído, e lucrará com ele (ou terá prejuízo). Como diz a presidente, não é privatização: é apenas privatização.

 

CPI da Siemens...

A Siemens confessou ter participado de cartel para fornecer material ferroviário superfaturado ao Metrô e aos trens metropolitanos de São Paulo. É possível imaginar, a menos que se suponha que o governo estadual seja formado por um bando de ignorantes, que esse cartel só se tornou possível depois que alguma autoridade se convenceu de que enxergar nem sempre é bom. É possível entender, também, porque o governador tucano Geraldo Alckmin bloqueou qualquer CPI na Assembleia: o período citado pela Siemens coincide com a gestão de Mário Covas, início dos governos tucanos em São Paulo. Mas por que o governo federal, petista, inimigo dos tucanos, não faz no Congresso a CPI que prometeu?

 

...insondável mistério

O deputado federal Paulo Teixeira, secretário-geral do PT, anunciou em setembro que já tinha assinaturas suficientes para protocolar o pedido de CPI. Passou-se setembro, outubro já se passa, e cadê a CPI? Será que os rumores a respeito de outros contratos, em Estados outros, fazem com que o pedido de CPI fique mais demorado? Demorado e quieto: o caro leitor notará que o som do silêncio em torno da CPI da Siemens é cada vez mais profundo. Estadual ou federal, há a incômoda sensação de que, por algum motivo, ninguém quer falar do assunto.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;