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Centreville completa 30 anos próximo de encontrar uma solução

Primeira ocupação do Brasil pode, em breve, ter suas moradias regularizadas pela CDHU

Rafael Ribeiro
22/07/2012 | 07:06
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Passados exatos 30 anos da primeira ocupação de sucesso registrada no Brasil, os moradores do Centreville podem comemorar o fato do local ter ganho uma condição de bairro legalizado de Santo André. Mas, mesmo depois de tanto tempo, a regularização das posses das casas continua indefinida. Não por muito tempo.

"Caminha para uma solução", disse Adonis Bernardes, advogado que defende a causa das famílias do bairro. "Todas as etapas judiciais do processo foram feitas", completou.

Proprietária da área, a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) diz que já registrou a propriedade das quadras do conjunto, realizou a identificação das famílias que vivem no local e o cadastramento físico e urbanístico da área. Ao todo, 538 imóveis foram desapropriados, desde o início do processo de regularização, em 1998.

"As pessoas precisam entender que é um trabalho lento. Toda vez que há troca de governo, o procedimento é interrompido. E, assim, já há vários moradores novos no local", disse Bernardes.

Menos de 10% dos invasores ou compradores originais das casas permanecem no local, o que dificulta negociações com a CDHU no sentido de compra dos terrenos. Como já pagaram aos antigos "donos", os novos não querem gastar novamente. "Por isso defendemos que haja apenas o valor histórico do terreno. Os moradores entraram em casas inacabadas, ergueram uma estrutura e valorizaram a área para o Estado", apontou.

Por isso os moradores que estão ali desde 16 de julho de 1982, dia da ocupação, que foi comemorado ontem com festa, tentam mobilizar as cerca de 3.000 famílias que moram hoje no local, apesar de admitirem que os tempos de união daquela época já não existem mais. "Queremos pagar os impostos e ter a garantia de que é nosso. Será bom para todo mundo se isso acontecer. Traria ainda mais benefícios", disse o comerciante Edílson Lessa Brandão, 50 anos.

Pioneiros agradecem melhorias do bairro mas querem a posse

O piso de madeira da sala da dona de casa Maria José Ferreira, 54 anos, é a única lembrança que permanece viva de 1982. A TV moderna e o computador provam que a vida de quem não tinha água, luz ou até comida melhorou. Mas isso não minimiza a saudade. "Sinto falta da união que o povo tinha naqueles tempos", disse.

Planejado em 1973 para ser um condomínio de luxo e abatido por falência da construtora quatro anos depois, o Centreville hoje conta com escolas públicas, uma UBS (Unidade Básica de Saúde) e linha de ônibus. Foi reconhecido como bairro, é elogiado por quem mora nele, mas ainda falta muito, segundo os pioneiros da ocupação. "Não tem nada ganho enquanto não tivermos a posse de nossas casas", resumiu Maria.

"Já sofremos igual cachorro. Quando vejo hoje que temos um teto digno, só me resta agradecer por tudo o que ganhamos. Posso dizer que estou no céu", disse a aposentada Maria das Dores Brandão, 75.




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