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O superficial mundo das siglas

Não sou daqueles que se ocupam escutando a conversa alheia...

Carlos Ferrari
Do Diário do Grande ABC
14/08/2013 | 07:00
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Não sou daqueles que se ocupam escutando a conversa alheia, mas, mesmo assim, foi impossível deixar de ouvir o cara empolgado que almoçava na mesa do lado. Pensando bem, talvez porque a figura queria mesmo ganhar nossa audição. O rapaz falava com empolgação a respeito da condição do município de São Caetano como melhor IDH do País. “Cara, a gente tá na ponta nesse negócio também, e vou te dizer que não é a primeira vez que somos campeões”.

Ouvir alguém tratando do Índice de Desenvolvimento Humano como a vitória de seu clube de coração ou da escola de samba da comunidade, me fez pensar o quanto as siglas nos colocam distantes das ideias pelas quais elas foram estruturadas. Não tenho dúvidas que seria frustrante se buscássemos descobrir, por meio de pesquisa junto a usuários do INSS, por exemplo, quantos deles sabem, de fato, do que se trata a seguridade social brasileira. E o que será que responderiam os cidadãos deste País se elaborássemos um grande levantamento nacional quanto ao entendimento individual do que vem a ser o SUS ou o Suas? Notem que estamos tratando de sistemas universais assegurados em lei, como sendo direito do cidadão, ou seja, estamos falando de assuntos vitais para qualidade de vida em sociedade.

Se olharmos para assuntos de caráter econômico, a sopa de letrinhas também esbanja popularidade e paradoxalmente total falta de domínio pelo povo. O Jornal Nacional fala dos riscos de crescimento pequeno do PIB, e as pessoas se preocupam com isso, mas e aí, “o que é o PIB mesmo”? Também é comum que as pessoas acabem fechando contratos de locação de imóveis ou da compra daquele carro novo tomando por base o IGP ou o IPCA, mas será que a população tem por perspectiva alguma possibilidade de que algum gestor público venha propor, no curto prazo, a construção de estratégias para que as letrinhas se transformem em algo que se possa entender?

A cultura da abreviação acaba, por vezes, deixando muita gente bacana na maior saia justa. Que atire a primeira pedra quem nunca se deparou com uma sigla no ambiente de trabalho e ficou sem graça de perguntar, pois ouvindo quem pronunciou tal palavrinha saiu como se fosse o cúmulo do óbvio: é o típico caso do sujeito que diz para o estagiário: “Por favor, vai até compras e pega a RP para levar no financeiro; aproveita e pega uma OS com o pessoal do almox, para liberar guia no RH”.

Boas ou ruins, a verdade é que as siglas estão a cada dia tomando mais espaço em nossas vidas. Logo, é fundamental que nos eduquemos para descobrir, de fato, do que se trata cada conjunto de letrinhas que mergulha em nosso cotidiano. É importante deixar claro que, mais do que saber o significado das siglas, deve ser a busca pelo conhecimento do que nos traz a junção das palavras, isto é, não basta saber que SUS, trata-se das iniciais de Sistema Único de Saúde. Melhor do que isso, é buscar informações para se ter a compreensão do que é de acordo com nossas legislações um sistema único. Fica então o convite, revisitem suas siglas e passem a explorar a fundo o sentido real de cada uma delas.

* Carlos Ferrari é presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), faz parte da diretoria-executiva da ONCB (Organização Nacional de Cegos do Brasil) e é atual integrante do CNS (Conselho Nacional de Saúde). 




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