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Crianças que matam têm algum tipo de patologia

Especialistas destacam que é possível observar sinais de transtornos de personalidade

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
08/08/2013 | 07:00
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Além de ter chocado a sociedade, o assassinato da família Pesseghini, na Vila Brasilândia, na Capital, trouxe à tona discussão sobre transtornos de comportamento em crianças. A Polícia defende a tese de que o estudante Marcelo Pesseghini, 13 anos, matou os pais, a avó e uma tia-avó antes de se suicidar, na segunda-feira. Especialistas ouvidos pelo Diário destacam que, apesar de não ser comum, crianças são capazes de arquitetar crimes e que, neste caso, há indícios de que o jovem sofria algum tipo de patologia.

Conforme explica o professor do curso de Psicologia do Centro Universitário Anhanguera e doutorando em Psicologia Social pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), João Ezequiel Grecco, a psicanálise leva em conta que o ser humano é imprevisível e violento. “A prática desse tipo de crime independe da idade. O que vai interferir é a estrutura de caráter e personalidade da pessoa.” Segundo o professor, a pessoa que comete crimes semelhantes a esse pode ser um sujeito dócil e fácil de lidar.

O assassinato aconteceu em duas casas que ficam no mesmo terreno onde a família morava. A versão da polícia é que o garoto foi para a escola após cometer os assassinatos e, na volta, se matou. “A criança tem consciência do que faz, mas na cabeça dela tudo tem uma lógica e se justifica, ainda que só ela consiga entender”, diz a psicóloga e doutora em Psicanálise pela USP Priscila Gasparini Fernandes.

Para Priscila, caso seja comprovado que Marcelo foi o autor do crime, tudo indica que há transtorno de conduta. “Uma criança jamais cometeria esse tipo de crime sem ter algum comprometimento de sua capacidade mental”, defende. Além da existência de pré-disposição genética, entre as prováveis explicações que podem esclarecer os motivos que levaram o garoto a matar a família e se suicidar estão a relação familiar, algum trauma sofrido ou um surto.

Apesar de o meio em que vivemos também ser relevante para desencadear esse tipo de crime, o fato de Marcelo gostar de jogos de videogame considerados violentos não justificaria a ação, esclarece Grecco. “A pessoa pode passar de duas a três horas jogando jogos violentos no videogame. Isso não quer dizer que ela vai sair por aí atirando em todo mundo. Isso depende da estrutura psíquica do sujeito”, garante.

A psiquiatra forense da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), Kátia Mecler, ressalta que esse tipo de tragédia chama a atenção pelo fato de ser algo bárbaro. “É um choque porque são pessoas que a gente aprende que deve amar”, justifica.

Ao analisar, ainda que de longe, o caso, a especialista defende a tese de que haja um surto psicótico envolvido, talvez até esquizofrenia. “É difícil saber, mas foi muito agudo, pareceu que o ato foi movido pela impulsividade”, diz.

Em alguns casos, crianças com transtornos de conduta apresentam características que podem ser observadas por pais, professores e pela comunidade. “A criança geralmente tem um comportamento inadequado, faz crueldades sem culpa, é agressiva, tem baixa tolerância a frustrações e é vingativa. Além disso, pode dissimular, se isolar ou ter dificuldade para executar tarefas em grupo”, destaca Priscila.

PM morta investigou policiais, diz coronel

O delegado Itagiba Franco, do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que coordena as investigações das mortes do estudante Marcelo Eduardo Pesseghini, 13 anos, de seus pais, avó e tia-avó, ocorridas na segunda-feira, deve convocar para depor o coronel Wagner Dimas, comandante do 18° Batalhão da Polícia Militar.

Dimas disse ontem a uma rádio que a cabo Andreia Regina Bovo Pesseghini, 36, que trabalhava no 18º BPM, contribuiu para investigações que apontavam a ligação de policiais do batalhão com roubo de caixas eletrônicos. Dimas afirmou que não acredita na versão de que o menino tenha sido o autor da chacina, mas ponderou que a mãe de Marcelo não foi ameaçada de morte.

A fala do coronel não chegou a abalar a crença dos policiais na versão de que o menino matou os familiares e se matou. Hoje Itagiba apontou mais evidências que reforçam a versão. Luvas foram encontradas dentro do Corsa da mãe de Marcelo. A informação ajuda a polícia a explicar por que o teste do exame residuográfico na mão do garoto (que pode identificar a existência de pólvora) deu negativo.

Outras duas informações adicionaram peças ao quebra-cabeça. Além da arma ponto 40 e do revólver calibre 32 encontrados na residência, Itagiba disse que os peritos acharam outras três armas. “Se fosse latrocínio, essas armas teriam sido levadas”

Em nota à imprensa, o Comando da Polícia Militar afirmou que não houve denúncias registradas na Corregedoria por meio da cabo Andréia Pesseghini contra policiais militares. Ainda segundo a nota, será instaurado procedimento para apurar as declarações dadas pelo coronel Wagner Dimas Alves Pereira, comandante do 18º Batalhão. (da AE) 




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