Maioria dos menores apreendidos do Grande ABC
na Fundação Casa possuem entre 16 e 17 anos
Dos 431 jovens do Grande ABC que cumprem medida de internação em unidades da Fundação Casa, 409 foram apreendidos por roubo ou tráfico de drogas. O número de internos que praticaram esses dois tipos de ato infracional na região equivale a 92% do total.
A prática predominante entre os jovens é o roubo, que resulta em quase 51% dos jovens das sete cidades que recebem medidas de reinserção social – exatos 220 adolescentes, enquadrados em roubo qualificado (mediante lesão), roubo simples e tentativa de roubo qualificado.
“No perfil geral dos jovens na Fundação Casa, o que predomina são as apreensões por tráfico. No entanto, como o Grande ABC é área com grande frota de veículos e muito consumo, o roubo ainda é o crime mais praticado pelos adolescentes. O consumismo os leva a cometer esse tipo de ato infracional com mais frequência”, explicou o presidente da Comissão da Infância e Juventude da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Bernardo, o advogado Ariel de Castro Alves.
Na segunda colocação dos atos infracionais mais cometidos está o tráfico de entorpecentes, que foi o motivo da apreensão de 179 menores que cumprem medida em privação de liberdade. “Eles possuem ilusão de que se envolvendo com o tráfico estarão mais seguros, mas no crime organizado são facilmente descartados. O final de quem se envolve com isso é sempre a internação ou o cemitério. Normalmente, só deixam essa prática criminosa quando são ameaçados de morte pelos traficantes, não para viver vida lícita”, afirmou Alves.
Segundo o especialista, o que atrai os jovens para o comércio de entorpecentes é a alta e fácil remuneração. “Os programas sociais não são estruturados e capacitados para disputar com o tráfico. Chega a ser uma concorrência desleal, já que o adolescente tira quase R$ 200 por dia vendendo drogas e dificilmente conseguiria esse valor em um trabalho.”
FAIXA ETÁRIA
Dos 431 jovens do Grande ABC que estão na Fundação Casa, 60% têm entre 16 e 17 anos. “Essa é a idade predominante no sistema de internação do País todo. Várias pesquisas mostram que essas são as idades mais vulneráveis, porque os jovens nessa condição não estudam nem trabalham, além de serem os maiores alvos da violência urbana”, comentou Alves.
MUNICÍPIOS
A cidade que conta com o maior número de internos é São Bernardo, com 123 menores infratores. O município tem duas unidades da Fundação Casa em funcionamento. A segunda colocação é ocupada por Mauá, que tem 121 menores – a cidade conta com uma centro de internação.
O ranking dos municípios da região com mais jovens infratores continua com Diadema (90), Santo André (63), Ribeirão Pires (17), Rio Grande da Serra (9) e São Caetano (8). De todos, há previsão de instalação de unidades da Fundação Casa somente em Santo André (leia abaixo).
Como existem apenas 168 vagas para internos nas unidades da região atualmente, os jovens apreendidos são levados para os centros de internação da Capital.
Santo André terá 1ª unidade até o dia 15
A primeira unidade da Fundação Casa em Santo André será inaugurada até o dia 15. O prédio, localizado ao lado do CDP (Centro de Detenção Provisória) na Vila Palmares, está pronto e recebe as últimas instalações técnicas. No mesmo terreno fica o segundo centro de internação para jovens infratores, que está previsto para iniciar atividades até o fim deste mês.
Cada equipamento terá capacidade para receber 56 adolescentes, sendo 40 internos em cumprimento da medida e 16 em vagas temporárias, aguardando decisão da Justiça. Não haverá contato entre os que já são atendidos e aqueles que esperam manifestação do Judiciário.
Cada prédio possui três andares, construídos em 3.200 metros quadrados de área. No térreo, ficam localizados o refeitório, cozinha e cinco salas de aulas. No segundo piso, estão instalados 14 dormitórios, com capacidade para receber quatro adolescentes em cada. As atividades esportivas e culturais, banho de sol, além da visita dos familiares, são realizadas no terceiro andar, onde foi feita quadra poliesportiva oficial, com 16 metros de largura e 36 metros de comprimento.
Os dois centros socioeducativos custaram cerca de R$ 10 milhões. Após pleno funcionamento, o Grande ABC terá aumento de 66% no número de vagas para internação de menores infratores.
Ontem, a equipe do Diário acompanhou o último dia de treinamento dos cerca de 50 servidores que atuarão na primeira unidade da Fundação Casa de Santo André. Após duas semanas de aula, os trabalhadores aprenderam sobre ética e diretrizes do Sinase (Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo).
Preconceito e medo familiar não desanimam servidores
Os servidores públicos que atuam diretamente com jovens infratores são obrigados a conviver com o preconceito da sociedade e o temor familiar. “Minha esposa não aceitava. Chegou a ponto de dizer que iria separar se eu não largasse meu trabalho na Fundação Casa”, relatou o agente de apoio socioeducativo Itamar Fernando Ferreira de Oliveira, 30 anos, um dos funcionários que recebeu treinamento para atuar na unidade de Santo André.
O profissional, que trabalhou na antiga Febem de 2000 a 2008, está voltando para a área. “Depois que mudou o formato para Fundação Casa (em 2006) ficou mais tranquilo de trabalhar.”
Apesar da visão equivocada, muitos se sentem satisfeitos. “Adoro esse trabalho. É um grande desafio, que traz responsabilidade enorme, pois fazemos a transformação nos jovens. É isso que dá sentido nessa área. A maioria dos servidores acredita no resultado do nosso trabalho”, comentou Regina Celia Lima de Souza, que será diretora da unidade andreense.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.