Política Titulo Anos de chumbo
Vereador quer banir nomes
de ditadores em ruas de Mauá

Autor das medidas, Rubinelli quer trocar o nome da Avenida Castelo Branco para homenagear Betinho

Bruno Coelho
Do Diário do Grande ABC
02/06/2013 | 07:49
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Dois projetos de lei contrários a nomes de logradouros públicos de Mauá em homenagem a personalidades políticas que cometeram crimes contra a humanidade, segundo o autor das peças, Wagner Rubinelli (PT), tramitarão na Câmara a partir da próxima semana.

Um dos alvos é a Avenida Castelo Branco, no Jardim Zaíra, a qual o petista sugere trocar a nomenclatura para fazer tributo ao sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, morto em 1997. Ele foi uma das principais figuras contrárias ao regime militar (1964 a 1985).

A primeira peça proíbe que ruas de Mauá sejam batizadas em lembrança a personalidades com histórico de atos contra os direitos humanos. Entretanto, a matéria não obrigará a Prefeitura efetuar a troca de nomes já existentes, como a Avenida Doutor Getúlio Vargas, na Vila Guarani, em referência ao ex-presidente (entre 1930 a 1945 e 1951 a 1954).

Mesmo assim, Rubinelli acredita que o projeto possa incentivar munícipes e governo municipal a mudarem a citação da via posteriormente. “(No primeiro governo de Vargas) Ocorreram milhares de prisões, torturas e maus-tratos aos trabalhadores e líderes sindicais. A eliminação de pessoas não era fato raro”, observou.

Outro projeto mira a extinção do nome Avenida Castelo Branco, primeiro presidente da ditadura militar (1964 a 1967). Embora seja considerado um dos governos mais brandos durante o regime, há relatos de torturas no período, situação constatada pela Comissão Nacional da Verdade, grupo que investiga violações aos direitos humanos.

Por essa razão, Rubinelli propõe que a via pública passe a se chamar Avenida Herbert de Souza, uma vez que Betinho se tornou um dos ícones contra a ditadura militar, motivo pelo qual foi perseguido. Aliás, esse fato fez o Grande ABC se tornar um capítulo da história desse mineiro. Em 1969, ele ficou hospedado em Mauá, no Jardim Zaíra, onde trabalhou como operário até o ano seguinte, quando teve de fugir para Santo André após o delatarem.

“Betinho veio junto com o pessoal da AP (Ação Popular). Como ele tinha problema de hemofilia, acabou que minha mãe cuidou dele. Ele é uma pessoa especial no ponto de vista de relacionamento e se adequou rapidamente na comunidade na época”, disse o ex-vereador Olivier Negri Filho, que não escapou do terror do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), onde foi torturado por 89 dias.

Exatamente o fato de ter morado na Avenida Castelo Branco causou uma das maiores angústias a Olivier, após ele e sua família serem vítimas da repressão. “Esse foi o maior tapa que tomei na cara após sair da prisão, com minha família perseguida, passando as maiores humilhações até explicar que não éramos bandidos. Têm de ser revogados todos esses nomes”, desabafou. 




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