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O mundo como ele era

Fotógrafo Sebastião Ribeiro Salgado Júnior acostumou-se a extrair beleza das agruras humanas

Evaldo Novelini
Do Diário do Grande ABC
02/06/2013 | 07:07
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Mineiro de Aimorés, o fotógrafo Sebastião Ribeiro Salgado Júnior acostumou-se a extrair beleza das agruras humanas. Seus trabalhos mais famosos percorreram o mundo ao transformar em arte da melhor qualidade, de beleza imensurável e pungente, instantâneos de trabalhadores rurais sem-terra perdidos na aridez nordestina e das grandes migrações planetárias deflagradas por guerras e fome.

Editados no Brasil pela Companhia das Letras, 'Terra' (1997) e 'Êxodos' (2000) se transformaram em clássicos imediatos da fotografia, graças ao enquadramento perfeito, à composição irretocável, à luz exata, ao momento oportuno do clique e ao charme do registro em preto e branco. Naquele volume, Nordeste brasileiro, interior de venda humilde expõe aos parcos clientes tanto os alimentos da subsistência quanto o caixão funerário para acolher o corpo dos que não resistiram à luta pela sobrevivência – a depender da necessidade momentânea do freguês. De alguma maneira, as fotografias de Sebastião Salgado conseguem captar, e eternizar, o padecimento físico ou espiritual dos homens.

Mas o fotógrafo que sempre flertou com o indigente apresenta agora inflexão radical ao apresentar seu mais recente trabalho. 'Gênesis' (520 páginas, Taschen do Brasil) é resultado de expedição de oito anos aos locais mais inóspitos do globo. O livro traz profusão de paisagens, animais e vegetais em estado selvagem, muito próximo do que teria sido idealizado pelo Criador. Ou, na definição do autor, “a natureza no seu auge”: desertos enormes praticamente intactos, terras geladas do Antártico e do Norte do planeta, vastas extensões de floresta tropical e temperada e cadeias de montanhas de um esplendor que causa profundo respeito pela fauna e pela flora. “A descoberta desse mundo virgem e de grande beleza foi a experiência mais gratificante da minha vida”, resume o fotógrafo.

O único senão da obra é o preço absurdo, nem sempre acessível a todos: R$ 199,90. Mas existe uma versão ainda mais cara, com dimensões ampliadas (46,8 cm x 70 cm) e mais páginas (704), em caixote de madeira e suporte do design japonês Tadao Ando, que pesa 49 quilos (contra quatro da edição brasileira) e custa US$ 3.000. Nesse caso, a tiragem é limitada a 1.000 cópias. Algo exclusivíssimo, bem à altura da arte de Salgado.
Obra de arte
A editora do mais novo trabalho de Sebastião Salgado é braço brasileiro da famosa casa publicadora alemã Taschen. Fundada em 1980 por Benedikt Taschen, em Colônia, a empresa se tornou rapidamente sinônimo de livros de arte. O catálogo abrange artes em geral, arquitetura, design, moda, cinema, fotografia, estilo de vida, viagem, cultura popular e... os seus picantes sexy books.

Objeto de desejo

Livros da Taschen viraram fetiche. Nenhuma biblioteca sofisticada pode prescindir de exemplares impressos pela editora alemã. Para reforçar o glamour, a estratégia do selo é autorizar a abertura de lojas exclusivas em endereços da moda. Hoje, as stores da marca se localizam em Amsterdã (Holanda), Beverly Hills (Estados Unidos), Bruxelas (Bélgica), Colônia, Copenhague (Dinamarca), Hamburgo (Alemanha), Hollywood (EUA), Londres (Inglaterra), Miami (Estados Unidos), Nova York (Estados Unidos) e Paris (França).

Brilhante

O preço de determinados livros da Taschen equivale ao de verdadeiras joias. Uma das 125 exclusivíssimas cópias da coletânea de trabalhos do fotógrafo norte-americano Peter Beard, por exemplo, pode ser adquirida por US$ 18 mil. Em reais, pouco mais de R$ 36 mil na cotação de sexta-feira. De brinde, um autógrafo do autor. 




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