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Mulheres viram empreendedoras
Márcia Pinna Raspanti
Do Diário do Grande ABC
03/07/2004 | 19:18
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As mulheres se arriscam cada vez mais a abrir novos negócios, a trabalhar por conta própria ou em cooperativas e associações. Segundo dados do Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), o número de mulheres empreendedoras aumentou de 29%, em 2000, para 46%, em 2003 – atualmente, 36% dos novos empreendimentos são criados por mulheres. O microcrédito é o setor que mais oferece oportunidades de financiamento para o sexo feminino.

No Grande ABC, as principais fontes de microcrédito são os Bancos do Povo (tanto dentro do programa estadual, como em associações independentes). Em algumas cidades (ver quadro), as mulheres são maioria na hora de receber os créditos. Em Rio Grande da Serra, 65,9% dos contratos foram concedidos ao sexo feminino.

Segundo a secretária-adjunta da Secretaria Especial de Políticas para Mulheres do governo federal, Maria Laura Sales Pinheiro, essa situação se repete em todo o país. "As mulheres recorrem mais ao microcrédito e quando têm acesso a ele não ficam inadimplentes", disse.

Maria Laura acredita que a situação da mulher na sociedade a empurra para esse tipo de financiamento. "As mulheres têm mais dificuldade em conseguir financiamentos maiores, devido à sua condição econômica inferior."

O acesso limitado ao mercado de trabalho também é apontado como uma das causas do empreendedorismo feminino. "O mercado informal está repleto de mulheres, além do problema dos salários menores e menos oportunidades de emprego que enfrentamos", disse Maria Laura. Os dados do Sebrae mostram que a quantidade de mulheres empreendedoras por necessidade (42%) é maior que a de homens (39%).

Para a prefeita de Ribeirão Pires, Maria Inês Soares, houve uma mudança no perfil das famílias brasileiras, com as mulheres ocupando cada vez mais a função de chefes de família. "O papel de provedor não é mais exclusivo do homem. Além disso, o modelo de casamento também mudou, e com o aumento das separações, a mulher acaba por assumir os filhos", disse.

Os dados da Síntese de Indicadores Sociais da década de 90, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2000, mostram as alterações na família brasileira na última década. Em 1992, 15,1% das famílias eram compostas por mulher sem cônjuge e com filhos; em 1999, a proporção aumentou para 17,1%.

Maria Inês disse que a mulher precisa encontrar formas de sustentar a família e, para isso, recorre a atividades que ela já praticava na esfera doméstica, como costura, cozinha e trabalhos manuais. "A mulher dificilmente abandona os filhos, e precisa arcar com as responsabilidades da sua educação. Os pequenos negócios são uma boa alternativa."

Para o diretor de Desenvolvimento Econômico de São Caetano, Jerson Ourives, as mulheres são mais empreendedoras que os homens. "A tendência é que elas procurem cada vez mais serviços como microcrédito. O mercado está aberto, e as mulheres estão conscientes disso."

Tendência mundial – A procura das mulheres pelo microcrédito é uma realidade mundial. Na 11ª Unctad (Convenção das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento), que aconteceu em junho em São Paulo, Nane Annan, a esposa do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, falou sobre a importância dessa forma de financiamento para o sexo feminino. "A renda obtida pela mulher é sempre revertida para a família", disse.

Nane citou como exemplo as cooperativas femininas de cerâmica em Gana, na África, e de trabalhos manuais, na Guatemala, na América Central. "Mesmo nos Estados Unidos as cooperativas de crédito têm importância fundamental na economia", disse.




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