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Lançamentos em literatura erótica aquecem mercado
26/09/2006 | 21:04
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Em tempos de Cicarelli, pode parecer até trivial falar de sexo verbal – as imagens serão sempre muito mais eloqüentes. Mas a literatura vive um momento quente no setor. é a velha literatura de sacanagem, agora revestida de um verniz civilizatório: capas transadas, traduções caprichadas, versões em quadrinhos chiques, formatos ousados.

Há muito tempo não se publicavam tantos títulos, embora essa seja uma avaliação empírica. Os últimos dados da Câmara Brasileira do Livro abordando “livros sobre sexo” são de 2002 e 2003, e mostravam uma redução na tendência (em 2002 foram produzidos 25 títulos, com 110 mil exemplares, e no ano seguinte, foram 15 títulos e 50 mil exemplares).

Segundo a Assessoria de Imprensa da CBL, desde então o editor é que passou a classificar os gêneros que publica, e ele tem evitado categorias estigmatizadas, como “auto-ajuda”, por exemplo. O livro de Bruna Surfistinha, O Doce Veneno do Escorpião, um dos maiores sucessos editorais atuais do mercado, e que é francamente porno-erótico, é classificado simplesmente como biografia.

Mas 2005 e 2006 parecem ter injetado um novo ânimo no gênero, seja lá que nome ele tenha adquirido. O frisson começou no ano passado, com o lançamento de um mangá (história em quadrinhos japonesa), Sade, da artista underground japonesa Senno Knife. O material era inspirado nos contos eróticos do Marquês de Sade, dos Irmãos Grimm e de Pauline Réage. Entre diversos títulos da Conrad (como Garotas de Tóquio, de Frédéric Boilet, Clic 1, de Milo Manara, e Omaha, a Stripper, de Reed Waller e Kate Worler), chama atenção uma HQ porno-chique: Giovanna Cassotto, que se vale do hiperrealismo (a artista faz os desenhos a partir de fotografias de seu corpo).

Contemporânea – Outra série ambiciosa é a Coleção Devassa, da Azougue Editorial. Segundo o editor, Sérgio Cohn, a coleção nasceu de uma conversa de bar (o Devassa do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro) entre ele, Ana Luiza Beraba (com quem divide a organização da coleção) e o tradutor Bernardo Esteves, que traduziu o livro Manual de Boas Maneiras para Meninas, de Pierre Louÿs.

“Estávamos comentando quanto apreciamos literatura erótica, e como as coleções desse gênero no Brasil se restringiam aos livros clássicos, deixando de lado toda a excelente literatura erótica contemporânea. Decidimos, então, criar uma coleção com nossos títulos de predileção. A idéia desta coleção erótica veio, como não poderia deixar de ser, do prazer. No caso, o nosso prazer como leitores de livros eróticos”.

O mais interessante é que Cohn conseguiu um patrocínio perfeito: uma cervejaria animou-se a bancar toda a série, mas com uma exigência bem definida. “Não nos furtamos à tentação de brincar com a tênue linha entre a correção e a subversão, o moralismo fácil e a ousadia, fazendo uso muitas vezes de projetos culturais para questionar padrões prestabelecidos”, discursa Cello Macedo, diretor executivo da cervejaria Devassa.

Segundo os editores, sua intenção é trazer à tona não só textos inéditos, mas também outros fora de catálogo, raros, underground, alternativos, de vanguarda e malditos que estejam inseridos dentro de um universo erótico-pornô.

Diversos livros de teor erótico invadiram as listas de mais vendidos nos últimos anos. é o caso de A Casa dos Budas Ditosos, de João Ubaldo Ribeiro, Hell – Paris 75016, de Lolita Pille, Cem Escovadas antes de Ir para a Cama, de Melissa Panarello, e O Doce Veneno do Escorpião, de Bruna Surfistinha.

“Agora, da lista acima, apenas o livro do João Ubaldo é estritamente de ficção”, diz Sérgio Cohn. “Os outros se propõem a ser relatos mais ou menos verídicos.”

Segundo o editor, sua nova coleção, com Cassandra Rios, Pierre Louÿs e Almodóvar, aproveita-se de duas vertentes: a imaginação e o voyeurismo.




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