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ICMS das indústrias da região cai 44% com Real
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
26/06/2004 | 19:40
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Nos últimos dez anos, o Grande ABC observou uma queda dramática, de 44%, na arrecadação real (deflacionada) do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) proveniente das indústrias, que passou de R$ 3,549 bilhões para R$ 1,987 bilhão em 2003. Os dados, do Observatório Econômico de Santo André, com base em números da Secretaria Estadual da Fazenda, mostram ainda que a participação da região na arrecadação total no Estado caiu de 12,2% para 6,34% nesse período.

Para o coordenador do Observatório, Marcos César Lopes Barros, a abertura comercial indiscriminada e a falta de políticas compensatórias fez o pólo industrial da região ser afetado, com o fechamento de muitas empresas e perda de vagas. Levantamento feito pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC aponta que apenas entre 1994 e 1995, encerraram atividades ou saíram da região mais de 100 companhias. O Diário noticiou sábado que o movimento de evasão deverá ser engrossado pela Valeo Cibié Service, de Diadema, que vai se transferir (com 150 empregados) para Guarulhos.

A Paep (Pesquisa da Atividade Econômica Paulista), do Seade, mostra ainda que no Estado o pessoal ocupado no setor industrial se reduziu de 2,18 milhões em 1996 para 1,92 milhão em 2001. O comércio também teve decréscimo, de 2,07 milhões para 1,92 milhão de vagas e o setor de serviços, pela terceirização, passou a responder por quase metade dos ocupados dos três setores. “A globalização exigiu que os países se fortalecessem externamente, o contrário do que o Brasil fez”, disse o diretor do Iedi (Instituto para Estudos do Desenvolvimento Industrial), Júlio Gomes de Almeida.

O processo de redução de vagas na indústria e ampliação nos serviços foi acompanhado pela precarização do mercado de trabalho na região. Pesquisa Sócio-econômica feita pelo Imes (Centro Universitário Municipal de São Caetano) aponta que o trabalho informal em três municípios da região (Santo André, São Bernardo e São Caetano) respondia a 28,4% do total da ocupação em 1996 e esse porcentual saltou para 33,2% e que o rendimento médio real da ocupação caiu 67%, de R$ 1.991,72 para R$ 644,99.

Em dez anos, também houve uma ampliação da carga de tributos cobrados de empresas e consumidores no país, de 25,09% do PIB para 36,11% em 2003, segundo o IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário). Levantamento da IOB-Thomson mostra que a população de renda menor foi afetada pelo aumento da tributação. O limite de isenção da tabela progressiva do IRPF (Imposto de Renda da Pessoa Física) que em julho de 1994 correspondia a 8,67 salários mínimos passou em maio último para apenas 4,06 mínimos.

Estabilidade – A estabilidade do Plano Real trouxe a famílias do Grande ABC, em alguns casos, a possibilidade de conquistas. O comerciário aposentado Antonio Marcicano de Miranda, 51 anos, e sua esposa Nair de Farias, 45, sentiram benefícios, por poderem planejar suas compras. Eles compraram sua casa própria financiada. Miranda afirma que ficou mais fácil também adquirir eletrodomésticos, por meio de crediários. “Tinha um bom salário, era chefe de recursos humanos. Quem se manteve empregado, conseguiu se dar bem”, concluiu.

Já o ex-metalúrgico Daniel Alves de Lira, 41 anos, de São Bernardo, perdeu o emprego em 1999, em um processo de enxugamento do quadro de funcionários da Ford. Atualmente, ele vive de bicos, como pedreiro. Na companhia, ele recebia R$ 1,3 mil por mês. “Hoje se eu trabalhasse o mês inteiro conseguiria uns R$ 1 mil, mas às vezes fico 15 dias sem trabalho. Ir a restaurante, hoje não dá mais”, afirmou.




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