A música cubana é uma das três melhores do planeta, ao lado da brasileira e da norte-americana. Isso por si só já justificaria o sucesso de "Buena Vista". Mas deve haver algo a mais na composiçao desse êxito. É como se o filme passasse uma vitalidade que já nao é deste mundo. Como se esses personagens - Ibrahim Ferrer, Omara Portuondo, Compay Segundo, Rúben Gonzáles - guardassem nao apenas alguma fórmula mágica de longevidade, mas principalmente, de alegria de viver.
A esta altura do campeonato, a história deles já é bem conhecida. Antes de serem redescobertos por Wenders e pelo guitarrista americano Ry Cooder, estavam esquecidos e aposentados. Ferrer engraxava sapatos; Compay enrolava charutos. Nao se queixam de nada. Apenas parecem compreensivelmente felizes com o sucesso. Ganham algum dinheiro, têm fama, sao aclamados por onde passam.
O CD faturou o Grammy de produçao latina e já vendeu mais de um milhao de cópias mundo afora. O filme faz sucesso em qualquer latitude. É a glória, recebida com modéstia, simplicidade e mesmo a sublime indiferença de quem nao precisa muito dela. Os valores da trupe sao inatuais, típicos de pessoas que habitavam um mundo do passado.
Pelo menos aparentemente, porque se fossem apenas sobreviventes de um tempo que o vento levou, Compay, Ferrer & Companhia nao tocariam tanto a sensibilidade contemporânea. Na verdade, é como se eles fossem porta-vozes de algumas carências atuais da humanidade - calor, alegria, afeto, sensualidade, para ficar nas mais óbvias.
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