Aos 12 anos, Cauê Muratt sonhava sem dar limites à imaginação. Ele dizia ao avô que um dia tocaria todo repertório 'pianístico', regeria a Filarmônica de Berlim e ainda seria um exímio compositor residente em Viena, nada mais do que a capital da música.

Hoje, aos 23 anos, o pianista de São Caetano, que estuda música pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), não vê sentido em só tocar, tocar e tocar. Ele tem pensado mesmo em investir o conhecimento musical em crianças e jovens instrumentistas. "Eles sempre serão mais fofos e talentosos do que eu", pondera o músico.

Fato é que o jovem pianista de São Caetano avança um passo largo em direção às conquistas. Cauê foi selecionado como bolsista pela Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) para participar do 43º Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão, o mais expressivo festival de música clássica de toda a América Latina.

Para Cauê, será uma ótima oportunidade de interação com músicos de outras partes do mundo. Ele ainda não sabe se tocará com a Osesp ou com a Orquestra do Festival, que é formada pela maioria dos bolsistas dos cursos de instrumento. "Desde menino ouço falar da Osesp como uma das melhores orquestras do planeta e, de fato, a orquestra nunca me decepcionou", diz Cauê. "Me apresentar como solista à frente da Osesp é algo que pretendo fazer em algum momento", completa.

Para participar do festival, Cauê precisou passar por processo de seleção, feito por meio de gravações de áudio ou vídeo a partir de repertório específico. "No caso da área de piano, tínhamos de enviar prelúdio e fuga de "O Cravo Bem Temperado", de Bach, um movimento de sonata clássica e uma obra de livre escolha, basicamente o repertório exigido em quase todos os concursos e seleções para pianistas", afirma.

A bolsa cobrirá a viagem, a hospedagem e a alimentação. "Além disso, terei aulas, tocarei com músicos internacionais, assistirei a concertos de solistas renomados e, no caso, passarei o meu aniversário em Campos do Jordão com amigos queridos", diz em tom bem-humorado.

Cauê ficará na cidade apenas durante o período pedagógico do festival, que corresponde apenas às três primeiras semanas. Para ele, o principal desafio será falar seriamente em ensaios e aulas o inglês que aprendeu vendo séries norte-americanas.

Cauê não foi menino prodígio. Sempre teve piano em casa e contato com músicos na família, mas só começou a tocar piano aos 12 anos. "Se hoje tenho facilidades, mão 'deformada' de pianista e ouvido que define cada nota que o metrô faz soar e se respiro música em cada instante da minha vida é porque trabalhei muito para isso, muito mesmo. Eu abri mão de muitos momentos da minha adolescência para me dedicar à música", afirma. "Ter sido selecionado entre outros pianistas tão talentosos já é algo muito significativo para mim", avalia o músico que, segundo a mãe, nasceu ao som de Mozart na sala de parto.

Ossa apresentará concerto

O Grande ABC também será representado pela Ossa (Orquestra Sinfônica de Santo André) no 43º Festival Internacional de Campos do Jordão, orçado em R$ 6 milhões, que contará com extensa lista de artistas em mais de 78 concertos. Serão quatro semanas de programação artística, que se estenderá até 29 de julho.

Sob a batuta de Carlos Moreno, a Orquestra Sinfônica de Santo André se apresentará no dia 26, às 20h30, no Auditório Cláudio Santoro. Integrarão o repertório as obras "Cartas Celestes Nº 8 Para Violino e Orquestra" (Almeida Prado) e "Sinfonia Nº 2 em Dó Menor" (Anton Bruckner).

Com a Fundação Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo) pela primeira vez na organização, o festival contará com direção executiva de Marcelo Lopes, direção artística de Arthur Nestrovski e direção pedagógica de Cláudio Cruz.

Nesta edição, o festival assumirá função pedagógica mais acentuada por meio de convênios fechados com cinco instituições internacionais (a Royal Academy Music, o Conservatório de Amsterdã, o Conservatório Real de Haia, o Peabody Institute e o Cincinnati College of Music), que possibilitarão a troca de experiências entre músicos brasileiros e estrangeiros.

A Orquestra do Festival também será lugar de encontro para estudantes brasileiros e estrangeiros, vindos de instituições de referência no ensino musical. Ao todo o festival receberá 115 bolsistas, sendo cerca de 25% deles estrangeiros. A programação está disponível na internet (www.festivalcamposdojordao.org.br).