Medo e tensão são comuns nas moradias de encostas e morros no Grande ABC com a chegada do verão. A falta de infra-estrutura das habitações irregulares permite o cenário ideal para acidentes por conta de deslizamentos de terra provocados pelas fortes chuvas.
Em Ribeirão Pires, cidade 60% construída em regiões elevadas, pela estimativa da Defesa Civil, o clima é o mesmo, principalmente nos bairros mais estruturados com todas as moradias regularizadas.
Em janeiro encosta no bairro Santo Bertoldo cedeu e provocou a morte de mãe e duas filhas.
O histórico vem sendo revivido pelos moradores locais nas últimas semanas.
A serra ainda apresenta as marcas do acidente e a vizinhança acompanha todos os dias a situação do local.
A vendedora Heloisa Helena Gomes Strutz Tartaini, 39 anos, mora ao lado da encosta desbarrancada e se diz desamparada pela Defesa Civil. "Quando ligamos para pedir informações, os agentes apenas falam para pegarmos as crianças e sair correndo, se ouvirmos algum barulho", conta.
A aposentada Maria Antonia Veiga, 61 anos, está agitada com os comentários na redondeza. "Todo mundo fala que pode acontecer um novo deslizamento. Eu não sei isso pode acontecer comigo e fico preocupada à noite", desabafou. A casa de dona Maria também está em uma parte alta do bairro.
Poucos metros dali, o auxiliar de produção Edinaldo Paula Diniz, 25 anos, fica atento todas as noites a qualquer ruído. "É a primeira vez que temos medo de acordar com a casa caindo", falou Diniz, que mora com a mulher e o filho no andar de cima do mesmo imóvel onde vivem os sogros. "Aqui é muito alto e venta muito. A insegurança vai ser muito maior quando começarem as chuvas".
Como prevenção, o auxiliar aplicou concreto em parte do quintal. "Mesmo sem chuva a terra já estava começando a ceder por causa da infiltração. Quase todos os dias descia lama para o vizinho debaixo", contou.
No Jardim Santa Rosa os moradores alegam que nunca passaram apuros com as chuvas de verão até este ano. A dona de casa Maria do Carmo Souza Silva não espera mais pela ajuda da Defesa Civil. Junto com o marido, poupou dinheiro e desistiu da reforma da casa para cimentar o solo do quintal. "No início do ano caiu muita terra. Foi a primeira vez que isso aconteceu", disse a moradora, que reside no bairro há 23 anos.
Após o acidente no Santo Bertoldo a Defesa Civil interditou imóveis que foram danificados pelo deslizamento.
INDEFINIÇÃO
Mas até o momento nenhuma medida foi tomada para evitar um novo escorregamento e quem não pode voltar para casa reclama do poder público. "Não posso entrar em casa e a Prefeitura não toma nenhuma medida", falou a dona de casa Adriana Paulino Souza, 29 anos.
Ela voltou para a casa da mãe após ter a residência interditada. "Eu vi o morro descer e tive muito medo. Mas agora quero uma solução para voltar para casa", cobrou.
PROVIDÊNCIAS - A Defesa Civil de Ribeirão começa em novembro a orientar os moradores que vivem em zonas de risco.
Folhetos e faixas serão espalhados pela cidade. O coordenador do órgão, Wagner Araujo da Silva, informou que todo os agentes estão passando por cursos de aprimoramento em resgates.
Além disso, no dia 19 os funcionários da Defesa e GCM (Guarda Civil Municipal) vão participar de um simulado de salvamento com o Corpo de Bombeiros.
"Estamos nos preparando para o próximo verão, que terá chuvas menos intensas", falou o coordenador.
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