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Filme narra história da genial Guiomar Novaes
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
20/07/2003 | 17:47
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Citada entre as melhores pianistas que o Brasil já teve, Guiomar Novaes volta a ser tema de um documentário. Desta vez, é Infinitivamente Guiomar Novaes, um filme concebido pela atriz e “pianista frustrada” Norma Bengell, que chega ao público em DVD graças ao apoio da prefeitura do Rio de Janeiro.

A história de Guiomar Novaes é mais um infeliz exemplo de como o Brasil tarda a reconhecer o talento. A pianista, que nasceu em São João da Boa Vista e conquistou fãs como o também pianista Nelson Freire e o compositor Debussy, teve a maior parte da produção escoada na Europa e, principalmente, nos Estados Unidos. Gravou seu primeiro disco brasileiro apenas em 1974, um ano depois de já ter abandonado os palcos. A essa altura, Guiomar já tinha 80 anos.

Tendo em vista essa realidade, é natural e até compreensível que a diretora encontrasse alguma dificuldade para obter registros representativos, em vídeo, da trajetória da pianista. E é louvável a tentativa de relembrar toda a genialidade expressa por Guiomar.

Mas não há como negar que o documentário “chove no molhado”. Primeiro pela fragilidade da espinha dorsal, formada por depoimentos de pessoas que já tiveram algum contato com a pianista. Os relatos assumem tom confessional, mas sem grandes novidades.

Pérolas – O maestro Roberto Tibiriçá conta um episódio incomum, quando Guiomar foi contratada para um recital em uma mansão. O que não sabia é que na platéia estava apenas o casal contratante, devotos de seu trabalho. Quando Guiomar levantou a tampa do piano, encontrou uma pérola em cada tecla. Com elas, fez um belo colar que ostentou em uma foto posterior.

O documentário também tenta forjar uma naturalidade que, no fim das contas, beira o patético. Bom exemplo é o momento em que integrantes da família da pianista se apresentam diante de seu velho piano. Uma das mulheres, acompanhada de um garoto, convoca “a neta mais velha” para falar um pouco, e, diante das câmeras, sugere que elas troquem de lugar, um tanto desajeitadas. Pior, os herdeiros todos não são devidamente identificados. O mesmo vale para as músicas executadas ao longo da fita, que deveriam ter o crédito simultâneo.

Um dos melhores momentos é uma aula dada por Guiomar, em idade avançada, mas lúcida e perspicaz na música. Ensina o pupilo a tocar valsa: “A beleza da valsa é a igualdade. Não é uma perna pra lá, outra pra cá”, dizia a pianista, comparando mão esquerda e direita a um casal na pista de dança.

Narizinho – Outro dado curioso é que Guiomar era vizinha de Monteiro Lobato. Diz que o escritor costumava observá-la da janela, e chamou-lhe atenção o perfil da pianista, com nariz arrebitado. Teria sido ela inspiração para Lobato criar a Narizinho do Sítio do Picapau Amarelo.

Infinitivamente Guiomar Novaes primeiro conta a história com base nos depoimentos, e depois a repete como extra, com texto escrito na tela. Há várias repetições de fotos que, aliás, foram publicadas diversas vezes na imprensa.

A produção também ignora momentos delicados da trajetória de Guiomar, como o desentendimento que teve com Mário de Andrade na Semana de 22. A pouca valorização de seu trabalho pelos brasileiros – à época – fica apenas subentendida.

No total, são 142 minutos de vídeo, boa parte nos extras, onde estão gravações de cinco peças, entre as quais o Concerto nº 4 para Piano e Orquestra em Sol Maior, Op. 58, de Beethoven, concerto preferido de Guiomar.




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