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Cinema nacional abre temporada
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
04/01/2001 | 17:54
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Primeira produção nacional a ocupar as telas neste ano, Babilônia 2000 é uma estréia e tanto para uma temporada promissora, preenchida por lançamentos que vão desde Brava Gente Brasileira, de Lúcia Murat, até Amores Possíveis, o novo filme da maestrina de Pequeno Dicionário Amoroso, Sandra Werneck.

Mas Babilônia 2000 chega antes para arar o terreno. Que bom! Melhor ainda quando se toma conhecimento de que a direção ficou a cargo do veterano Eduardo Coutinho. Acertou na mosca quem, assim que leu o nome do cineasta, arriscou afirmar que o filme é uma obra documental, com alguns depoimentos sobre a chegada do ano 2000. Foi como documentarista que se fez Coutinho. Determinou a espontaneidade presente em Santo Forte da mesma forma que proclamou a necessidade de individualizar os feridos pela exclusão em Cabra Marcado para Morrer.

Em Santo, Coutinho subiu o morro do Parque da Cidade para mostrar o ambiente religioso na favela carioca. Em Cabra Marcado, levou quase 20 anos para encerrar a copiagem sobre o assassinato de um líder camponês no regime militar. De novo, o cineasta sobe o morro – agora nas favelas Chapéu da Mangueira e Babilônia – e, novamente, emprega a capacidade de ampliar ou reduzir o tempo para ditar a armação de seu documentário: as filmagens duraram menos de um dia, em 31 de dezembro de 1999.

Apesar do nome garboso, nada de nababesco. Segundo o desejo de Coutinho, Babilônia 2000 só não engaveta os nababos cuja riqueza é espiritual, não-material. São dezenas de opiniões e expectativas dos moradores das favelas visitadas quando indagados sobre a influência da troca de calendário no Réveillon entre 1999 e 2000.

Eduardo Coutinho não dá um de porta-voz. Não importa se monólogo ou diálogo, as conversas de seus retratados transcorrem sem interferência. Abre o microfone e a lente e deixa os habitantes daquele círculo periférico – a favela – verbalizarem o drama, a aventura, a comédia e o suspense sobre o novo ano. Seus utopismos e realismos compõem a ótica de fim de século de Coutinho em um movimento que vem de dentro para fora, da periferia para a costa, na mitologia do Rio. As convulsões são foscas dentro do documentário, que abre mão do alarme para ser apenas um retrato, um inventário para o século XXI da palafita que é o sistema social na metrópole brasileira.




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