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Menem renuncia ao 2º turno; Kirchner é o novo presidente argentino
Do Diário OnLine
14/05/2003 | 23:23
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"Venci o primeiro turno e me vou. Triunfamos contra todos". Foi assim que o candidato Carlos Menem acabou com as incertezas e confirmou a renúncia ao 2º turno da eleição argentina, nesta quarta-feira. A Junta Nacional Eleitoral do país aceitou o pedido de desistência apresentado pela Frente pela Lealdade e determinou que o Congresso proclame a eleição automática do governador de Santa Cruz (Patagônia), Néstor Kirchner, para o mandato 2003-2007 na Presidência da República. A desistência de Menem cancela a votação que estava prevista para domingo (18 de maio). Kirchner receberá a faixa presidencial de seu aliado e antecessor, Eduardo Duhalde, em 25 de maio.

Presidente da Argentina entre 1989 e 1999, Carlos Menem tumultuou o cenário político do país nas últimas horas. Os boatos de renúncia que corriam desde o final do 1º turno (celebrado em 28 de abril) tomaram força na terça-feira. A imprensa argentina chegou a noticiar que a desistência era certa e seria formalizada em questão de poucas horas. Mas a oficialização demorou para sair. À noite, depois de muitas reuniões com assessores e duas aparições dele para saudar os menemistas que tomaram a frente do quartel-general de campanha (Hotel Presidente, em Buenos Aires), cresceu a desconfiança de que toda a indefinição não passava de uma última cartada de Menem para vencer a disputa.

Ainda em clima de mistério, o peronista viajou nesta quarta-feira pela manhã à província natal, La Rioja (centro do país), para tornar pública sua posição sobre o pleito. "Tenham fé, vamos ver. Eu diria a vocês que tenham fé", afirmou o ex-presidente ao desembarcar em La Rioja. Horas depois, numa inserção televisiva, Menem anunciava oficialmente que estava fora da disputa. "Não estão dadas as condições para o 2º turno", alegou, no discurso da TV.

Depois de jogar golfe num clube riojano, Menem assinou a carta de renúncia para a Câmara Nacional Eleitoral (por volta das 16h30) e iniciou a gravação da propaganda televisiva (por volta das 17h) veiculada em cadeia nacional para explicar os motivos da renúncia.

Saída 'por cima' - Pesquisas de opinião de voto para o 2º turno da eleição apontavam Kirchner pelo menos 30 pontos percentuais à frente de Carlos Menem. A desistência evita que o caudilho peronista sofra a primeira derrota eleitoral em mais de 30 anos de carreira política na Argentina. Sem 2º turno, prevalece o resultado da etapa preliminar: 24,45% dos votos a favor de Menem e 22,24% para Néstor Kirchner – que sai eleito por causa da renúncia do rival.

Depois de confirmar a desistência, Menem deixou claro que sai da disputa como 'vencedor'. "Eu diria ao senhor (Kirchner) que fique com os 22% que eu fico com o povo", afirmou o ex-presidente.

O desistente reclamou da ausência de uma prévia no Partido Justicialista (dele e de Kirchner) para decidir quem seria o candidato oficial peronista. "Eu respeito a lei. Ganhei o primeiro turno e me vou. Aqueles que não respeitam as leis são os que trapacearam o povo a partir do congresso de Lanús", denunciou Menem, fazendo referência ao congresso do PJ em que foi decidido que haveria três candidatos peronistas nas eleições de 2003 – ele, Kirchner e Adolfo Rodríguez Saá.

"A origem desta situação é a manobra do atual governo que frustrou a realização das eleições internas, abertas e simultâneas em todos os partidos políticos, que em seu momento foram aprovadas por unanimidade pelo Congresso Nacional. Quedou assim frustrada uma vontade de renovação política expressada pela ampla maioria da cidadania argentina", afirmou Menem no discurso televisionado.

No raciocínio de Menem, o 2º turno perdeu o sentido porque deveria ser disputado entre representantes de dois partidos diferentes. "Mas vai contra o espírito do sistema constitucional o feito de obrigar toda a cidadania argentina a dirimir uma luta interna de um dos partidos políticos, que não pôde se resolver previamente em seu próprio seio", alegou.

Covardia - Antes mesmo de ser confirmada a renúncia de Menem, Kirchner fez um pronunciamento para anunciar que estava pronto a assumir "todas as responsabilidades que a Constituição e o povo dispõem". O governador de Santa Cruz e futuro presidente prometeu ainda que "a nação argentina terá um presidente de acordo a sua Constituição para cumprir o mandato da sociedade".

Ao lado do vice em sua chapa, Daniel Scioli, Néstor Kirchner fez duras críticas ao oponente no 2º turno eleitoral. O governador afirmou que Menem tirou dos argentinos "o direito de comer e de ter esperança" na década em que foi presidente. E agora, ao desistir da disputa eleitoral, "tirou o direito de voto".

Kirchner afirmou que a desistência é uma atitude "covarde" de Menem e chamou de "golpe" todo o jogo político do rival. "Minha geração se recorda de outros golpes à democracia, mas o inédito é que nesta oportunidade o intento provém de um ex-presidente constitucional que, ao não poder ser eleito pela terceira vez, puxa a toalha sem se importar com o dano; dispara contra as instituições com a mesma violência de seu discurso."

Confirmação - Assessores do economista conservador Ricardo López Murphy – o terceiro mais votado no 1º turno – chegaram a cogitar a hipótese de recorrer à Justiça Eleitoral para tentar a realização de um segundo turno com Kirchner, aproveitando a desistência de Carlos Menem. Mas o próprio López Murphy admitiu que a renúncia do ex-presidente tornava legítima a vitória do governador de Santa Cruz.

"Em caso de renúncia dos dois candidatos de qualquer das duas fórmulas mais votadas no 1º turno, será proclamada eleita a outra chapa", afirma o artigo 155 do Código Eleitoral argentino. Néstor Kirchner e Daniel Scioli (vice) serão proclamados vencedores pela Justiça Eleitoral e pela Assembléia Legislativa.




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